Em novelas e filmes é muito comum ver uma cena de sexo em que um dos parceiros troca, sem querer, o nome da companheira, praticamente jogando um banho de água fria na relação. Na verdade, fantasiar que está transando com outra pessoa justamente na hora H é mais comum do que se imagina, como mostra o site médico britânico Asda Online Doctor, que realizou um estudo sobre as fantasias e inseguranças sexuais de adultos.
O levantamento, que ouviu 2.000 entrevistados adultos, revelou que dois terços dos entrevistados dão uma “pulada de cerca” mental durante o sexo. Geralmente vem a imagem de ex-parceiros, celebridades ou colegas de trabalho. Mesmo sem contato físico, essa fantasia pode configurar uma traição? Afinal, há quem implique com a coleção de revistas antigas com imagens de homens e mulheres peladas guardada no armário do banheiro.
“É bastante comum se desconectar durante a situação sexual. Os seres humanos, de modo geral, têm muita dificuldade em conseguir uma atenção plena. A mente pode divagar por vários motivos, desde desocupação cotidiana e questões emocionais, como ansiedade e insegurança, até desempenho, dificuldade de conexão com o próprio corpo e o desejo”, salienta Mariana Galuppo, psicóloga especializada em sexualidade humana.
“A gente tem esses pensamentos automáticos, em várias situações, e a sexualidade não fica de fora”, registra a psicóloga e sexóloga Bruna Belo. “Há muitos motivos para isso acontecer, e um deles é o fato de a nossa sociedade não ser pautada pela presença. Fazemos muita coisa ao mesmo tempo, em função de ter mais produtividade, e acabamos desconectados do próprio corpo durante o sexo”.
Mariana destaca que, apesar de ser uma experiência íntima e física, o sexo exige muito da parte mental também. “Os efeitos disso na relação é que pode haver uma dificuldade, de fato, de se entregar, estar presente, perceber o outro e ser percebido. Isso pode afetar a conexão emocional e sexual com o par. E pode fazer também com que o sexo se torne mecânico, repetitivo e frustrante para cada um deles”, analisa.
Bruna coloca outro ingrediente em questão: a preocupação com a própria performance na cama. “A pessoa pode sofrer um incômodo, uma ansiedade. Essa preocupação é muito incentivada em nossa sociedade, e a mente acaba buscando referências, lembrando de outra pessoa com quem se relacionou ou que achou que o estímulo foi melhor ou diferente”, afirma a sexóloga.
A relação passa a correr alguns riscos, já que essa fuga mental, segundo Mariana, pode ser entendida como falta de desejo ou de interesse na parceria. “O casal precisará olhar para isso em conjunto”, defende Mariana, que relativiza a questão da traição, pois, da forma como essas fantasias serão conduzidas, podem se transformar num “plus’ para a relação. “Pode ser algo bastante comum e saudável”, assinala.
“Nós somos seres humanos, e não é porque a gente está numa relação que aquilo que é atraente, que é bonito, vai deixar de ser atraente ou bonito. O nosso corpo e a nossa mente buscam por estímulo. Neste sentido, essa fantasia com outras pessoas pode acontecer em muitos casos, fazendo parte da vida sexual de uma maneira bastante saudável – se ela for, de fato, fantasia”, comenta a psicóloga.
Mariana pondera que há situações que não se enquadram numa prática salubre. É o caso da parafilia, em que o excitamento sexual envolve o sofrimento do outro. Contra a adoção da fantasia está aquele amor romântico em demasia, em que a pessoa se vê como “a metade da laranja” e acredita que “deveria ser tudo para o outro”. Nesse caso, pensar num elemento fora da relação pode ser entendido como traição.
Fugas mentais podem ser resolvidas com uma boa conversa
A pesquisa da Asda revela que homens têm mais que o dobro de probabilidade de criar fantasias com alguém do trabalho, uma celebridade ou irmão ou irmã de seu parceiro do que as mulheres. Mariana Galuppo, psicóloga especializada em sexualidade humana, põe na balança uma questão sociocultural, em que se torna “mais difícil criar imagens mentais relacionadas ao sexo e à sexualidade por conta de toda a restrição que o gênero feminino sofre desde pequeno”.
Para Mariana, se houver algum incômodo sobre as fugas mentais do parceiro, que podem estar relacionadas a outras coisas, como trabalho e afazeres cotidianos, o melhor caminho é conversar. “O ideal é entender o que está acontecendo. O sexo não deve ser feito para cumprir uma função, mas sim com conexão, prazer e intimidade. Talvez, naquele momento, seja melhor interromper e conversar, buscando entender como fazer para ficar mais agradável aos dois”.
Bruna vai pelo mesmo caminho. “A gente esquece que a comunicação sexual é muito importante. Precisamos fazer essa comunicação com cada pessoa com que estamos dividindo o momento sexual, porque às vezes a gente não sabe direito o que o outro gosta ou não gosta”, recomenda. Na maioria das vezes, não se trata de um caso patológico, com a terapia de casais podendo ajudar.