Comportamento

Amizade colorida fortalece o relacionamento, diz pesquisa

Estudo norte-americano aponta que, em 76% dos casos, a relação melhorou depois do sexo


Publicado em 03 de junho de 2015 | 03:00
 
 
 
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A tal da “amizade colorida” – ou quando amigos resolvem colocar uma pitada de sexo em sua relação, mas sem compromisso – é um assunto polêmico. Mas quem está considerando tentar algo do gênero, pode se sentir mais encorajado por pesquisas científicas segundo as quais o arranjo pode sair melhor do que o esperado.

Um trabalho dos norte-americanos Walid A. Afifi e S. L. Faulkner descobriu que, em 76% dos casos, a relação entre os amigos melhorou depois do sexo. “(Esse dado) parece desafiar a cultivada ideia de que o sexo fora de uma relação romântica sempre leva a emoções complicadas e relações destruídas”, analisa a professora da Universidade Boise State, nos EUA, em seu artigo sobre o assunto no periódico Psychology Today.

Casos como o da publicitária M., 37, que não quis ter seu nome revelado, mostram que a vida real corresponde às estatísticas. “Havia um colega de trabalho com quem eu tinha muita afinidade, mas nunca fomos próximos. Quando nossos namoros terminaram, eu dei em cima dele e saímos juntos. Passamos uns cinco meses na amizade colorida”, conta.

A amizade voltou a ficar “preta e branca”, e não há problema nenhum nisso. “Agora, já não conversamos mais todos os dias, mas a conversa continua fluindo bem entre nós. Acho que aumentou demais nossa intimidade, sei que posso contar minhas coisas para ele na maior sinceridade”, diz ela, que está namorando outra pessoa.

Cuidados. Mergulhar de cabeça na aventura de envolver-se sexualmente com um amigo ou uma amiga, porém, é uma manobra de riscos, que pode levar à perda da amizade. Por isso, a educadora sexual Sílvia Amaral, pesquisadora do grupo Analogias e Metáforas na Tecnologia, na Educação e na Ciência (Amtec), do Cefet Minas, recomenda que a decisão seja fruto de uma escolha muito bem pensada.

“Se você se dispõe a se envolver, se organize. Veja se isso cabe dentro da sua cabeça, seus valores, dentro dos seus conceitos. Converse consigo mesmo, e se pergunte se você dá conta disso, se está preparado, se quer mesmo conhecer o outro tão intimamente – e se dar a conhecer pelo outro tão intimamente”, recomenda. E frisa: a pessoa deve estar pronta para o que der e vier. “Prepare-se para o ‘sim’ e para o ‘não’ do outro. Pode ser que você perca o amigo, ou que ele vire um namorado, ou não. Há três possibilidades, ou inúmeras outras, porque as pessoas são surpreendentes”, lembra.

Namoro
Ou amizade?
Metade dos casos de amizades coloridas pesquisados virou namoro. Os participantes reportaram, porém, que essas relações foram mais duradouras do que outras.

Proximidade também tem alguns pontos negativos

Mesmo com alguns números a favor da amizade colorida, a educadora sexual Sílvia Amaral alerta que nem tudo é tão certo. “Essa pesquisa foi feita com jovens nos Estados Unidos. Não necessariamente, na nossa cultura, o resultado seria o mesmo”, pondera.

Além disso, a relação sem compromisso com um amigo também pode ter seus contras. Pesquisas sobre o tema apontaram como principais pontos negativos uma possível falta de comunicação, que levaria a insegurança e confusão, uma diminuição do prazer sexual com o outro e o aumento de sentimentos negativos entre os amigos.

Por isso, Sílvia recomenda colocar as coisas em perspectiva e pensar como isso funcionaria dentro da vida de cada um.

Seguindo caminho inverso, romance pode virar parceria

Muitas vezes, os amigos que resolvem se envolver sexualmente lidam muito bem com a situação toda, mesmo depois que a amizade colorida volta a ficar preta e branca. Mas nem sempre é possível dizer o mesmo dos parceiros. Por isso, a estudante universitária Michelle Pinheiro*, 34, gosta de ser discreta sobre sua relação com um amigo.

“Era amiga dele desde os 15 anos. Quando tinha uns 20, viramos amigos coloridos. Depois acabou a farra, mas continuamos amigos”, conta. Ela diz que eles já eram íntimos em tudo – “trocávamos de roupa na frente do outro”, revela. Então, foi um pulo até que o sexo também estivesse presente na relação. “Foi um mergulho maravilhoso, nos divertimos muito”, lembra.
Mas, para evitar mal-estar com os atuais parceiros de ambos, eles não falam muito sobre o assunto. “Eles (o atual namorado dela e a esposa do amigo) não sabem da coisa. Para eles, nós tivemos um rolinho básico e nossa amizade nem é tão importante assim”, conta ela aos risos.

Ao contrário. Uma amizade também pode nascer de uma aventura romântica. Há cerca de um ano, o jornalista Átila Moreno, 31, conheceu um rapaz em uma festa. “A aproximação foi instantânea. Não ficamos na primeira noite, mas viemos a nos relacionar depois. A amizade foi crescendo junto com o lance de ficarmos”, conta ele.

Mas o período não era dos melhores para nenhum dos dois: recém-saídos de relacionamentos anteriores, eles decidiram não continuar com o relacionamento. “Fomos percebendo que não seria uma boa nos envolvermos afetivamente e sexualmente, pois estávamos muito carentes. Não sentamos e conversamos sobre o assunto. Um foi ‘sacando’ isso no outro. Hoje, ele é um dos meus melhores amigos”, revela Átila.

*Pseudônimo usado para preservar a identidade

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