Visualizar a cena não é difícil: pessoas de diferentes aparências com roupas de ginásticas se juntam para aulas de spinning, jump ou zumba na academia, acompanhadas de um professor que as estimula no ritmo da música alta. Mas a busca pelo corpo perfeito pode comprometer um dos sentidos humanos mais importantes: a audição. Uma pesquisa constatou que a música tocada nas aulas pode chegar a incríveis 110 decibéis (dB), 30 dB acima do limite recomendado pelos especialistas.

O estudo, realizado na Universidade George Mason, na Virginia, Estados Unidos, revelou os perigos existentes nessa prática. A intensidade sonora durante essas aulas pode atingir um nível preocupante para a saúde auditiva de alunos e professores, que podem, já a curto prazo, sentir zumbido nos ouvidos e, ao longo dos anos, ter uma perda auditiva cada vez mais severa se continuarem a frequentar esses ambientes ruidosos.

De acordo com o otorrinolaringologista Eduardo Machado, um dos diretores da Sociedade Mineira de Otorrinolaringologia, quanto maior a frequência em lugares com som alto, maiores os perigos à audição. “Cada vez que o volume ultrapassa o valor considerado máximo (80 dB) aumenta o risco de se ter lesões na cóclea – local dentro da orelha responsável pela audição. Isso pode acontecer porque o impacto causado pelas ondas sonoras nessa região acaba sendo mais forte do que o necessário. O perigo, nesse caso, existe para os alunos e pode ser maior para os professores, já que eles permanecem expostos nesses locais por muito mais tempo”, explica o médico.

Segundo Machado, o período de exposição, caso o ambiente ofereça decibéis acima do adequado, é de, no máximo, entre 30 minutos e uma hora por dia, mas deve ser limitada a três a quatro vezes na semana.

Outro perigo. Recorrer ao fone de ouvido também oferece riscos. “O fone de ouvido não se torna um vilão se a pessoa tomar alguns cuidados. Escolher um modelo que seja avaliado e liberado pelo Instituto Nacional de Metrologia (Inmetro), que, geralmente, possui um limitador de volume para impedir abusos sonoros”, diz.

Machado finaliza, apontando que outro exemplo de cuidado é estar atento à altura do som: se tiver alguém ao lado e a pessoa conseguir ouvir o que sai dos fones, o sinal de alerta deve ser emitido. “Não é preciso exagerar, dá para ouvir música e sentir prazer. O bom senso continua sendo o principal”, afirma o médico.

Ouvido pode ter danos irreversíveis

A exposição frequente à música alta pode levar a vários tipos de lesão no ouvido, segundo o otorrinolaringologista Eduardo Machado. Os três tipos mais comuns são: perda auditiva de condução, perda auditiva neurossensorial e perda auditiva mista.

Quando possível, o tratamento inclui uso de aparelho auditivo ou cirurgia. Mas há casos, como o da perda neurossensorial, que podem ser irreversíveis. Geralmente, essa lesão é causada pela lesão das células ciliadas da cóclea (responsável pela audição).

Sinais. São sinais da perda de audição zumbido, tontura, sensação de ouvido tampado, dor de cabeça e dificuldade de concentração, diz o médico Eduardo Machado.