Prazer

Fetiche ou tabu: fazer sexo de meia ajuda na hora do orgasmo?

Estudiosos analisam se a fantasia que vem crescendo cada vez mais mundo afora funciona ou não na chamada hora 'H'


Publicado em 14 de outubro de 2022 | 05:30
 
 
 
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Na hora da transa, muita gente jura que tudo é válido. Há práticas sexuais para todo tipo de gosto – desde as mais comuns até as raras e bizarras – o que é subjetivo. E aquilo que é considerado “broxante” para alguns pode ser um manancial de prazer para outros. 

Entre as fantasias que vêm crescendo cada vez mais mundo afora está o fetiche por fazer sexo vestindo meias. Os adeptos garantem, inclusive, que o acessório ajuda as mulheres a terem orgasmos mais intensos. 

O argumento é o seguinte: como o adereço aquece o pé, ele, por consequência, relaxa a amígdala e o córtex pré-frontal, duas áreas do cérebro ligadas à ansiedade. Dessa forma, o coração fica menos sobrecarregado e acaba irrigando diretamente o clitóris, criando, assim, muito mais prazer. 

O tatuador Luis Claudio, 45, acredita que o apetrecho traz um certo “boost” para o momento de excitação. 

“Para mim, isso traz sensualidade para a transa. Antigamente, talvez as pessoas não iam se importar porque preferiam ir logo para o ‘rala e rola’. Hoje, a gente tem a mente mais aberta e encara tudo com mais naturalidade. Eu acho que dá até para usar uma meia mais estilosa e trazer um certo ‘requinte’ para o sexo. Acho muito válido. Eu curto”, avalia.  

No entanto, especialistas afirmam que não existe nada científico que ampare essa lógica.

“Não há comprovação científica que ligue o uso de meias com maiores chances de se ter um orgasmo”, explica o fisioterapeuta pélvico, terapeuta sexual e mestre e doutorando pela Universidade Estadual Paulista, Gianluca L. M. Leme. 

Gianluca chama ainda a atenção para um estudo publicado pelos doutores Rausch e Rettenberger, da Universidade Johannes Gutenberg de Mainz, na Alemanha, que demonstra alguns dos fatores que podem atrapalhar o sexo e o clímax feminino. 

“Há evidencias concretas de que as mulheres são mais propensas a perderem o foco na hora do sexo. Assim, qualquer pensamento ou estímulo não sexual – como o contato com o chão frio, por exemplo – acaba atrapalhando o ato para elas”, enfatiza o estudioso.

E essa queda no desejo sexual feminino tende a ser mais sentida diante de temperaturas mais baixas. 

“Fisicamente, as mulheres costumam ter menor massa muscular e baixo índice de gordura corporal – fatores essenciais para produção e manutenção do calor em qualquer estação”, destaca a psicóloga, sexóloga, terapeuta cognitiva sexual e programadora neurolinguística Maria Isabella Nunes. 

Segundo a especialista, com os pés aquecidos, as veias dilatam, e a circulação de sangue pelo corpo melhora – o que acaba tendo influência direta na libido.

“Obviamente não se pode generalizar esse fator, uma vez que cada mulher possui um corpo diferente e recebe os estímulos de maneira individual”, argumenta. 

Além da questão do clima, fatores externos, como emoções, autoestima e autoconfiança também podem influenciar o orgasmo feminino. 

“Se uma mulher na hora do sexo tem pensamentos negativos, como ‘será que estou indo bem? Será que meu corpo está bom? Será que ele está gostando?’, isso vai desviar suas sensações, dificultar o desejo e consequentemente o prazer”, esclarece a psicóloga, sexóloga e especialista em terapia cognitiva-comportamental Roze Meire Castro Bueno e Vasconcelos. 

A médica ginecologista e sexóloga especializada pelo Hospital das Clínicas da UFMG Maria Virginia de Aguiar concorda e acrescenta: 

“Se estiver com o cérebro dividido, concentrada em situações pessimistas, a mulher fica travada e dificilmente vai conseguir experimentar o gozo. O medo, a vergonha e fatores psicológicos e até hormonais são os maiores inimigos do bom desempenho sexual de uma mulher”. 

O poder dos acessórios 

Se não existe uma comprovação científica de que as meias afetem diretamente no prazer das mulheres, quais acessórios podem, de fato, preencher esse requisito?

“O uso de vibradores e sugadores pode ajudar e muito. Inclusive alguns sugadores prometem orgasmos em até três minutos. Mas o segredo maior é permitir-se e entregar-se sempre – seja sozinha ou com outra pessoa”, aconselha Gianluca L. M. Leme. 

Para Maria Virginia de Aguiar, os brinquedos eróticos são ainda a melhor opção para se alcançar o bem-estar sexual.

“Hoje não existe mais tanto estigma em torno dos estimuladores eróticos, e isso é uma coisa boa. As mulheres estão mais livres para descobrirem o poder e os benefícios de lubrificantes, óleos estimulantes e sextoys. Precisamos cada vez mais de pensamentos e fantasias para termos uma vida sexual feliz e saudável e com mais prazer. Isso, sim, é ser livre”, garante a médica. 

Confira algumas dicas dos especialistas para as mulheres prepararem o corpo e a cabeça para um orgasmo daqueles... 

1 – Fale e pense mais sobre sexo e sexualidade, fantasie mais, se permita, veja que você é orgástica, merece e pode sentir prazer. Não ache que sexualidade é suja ou pecaminosa; 

2 – Tire tudo o que pode te atrapalhar antes do momento íntimo: desligue as panelas do fogão, a máquina de lavar e a televisão; deixe os filhos com outras pessoas, coloque o celular no silencioso e escondido para não ver as mensagens chegando. 

Desconecte-se do mundo lá fora e foque o prazer – seja sozinha, seja com outra pessoa; 

3 – Conheça seu corpo e sua mente, seus desejos, se toque (se masturbe), se liberte de crenças limitantes e de culpas em relação à sua sexualidade. Procure ajuda profissional (terapeuta sexual ou sexólogo) se for preciso; 

4 – Passar por uma avaliação com fisioterapia pélvica ajuda – e muito – a se conhecer e a saber se sua região íntima está bem ou se precisa de tratamento para melhorar sua saúde e sexualidade; 

5 – Se você estiver ou se quer estar em um relacionamento, procure alguém com quem você possa estar livre sexualmente, alguém com quem você possa falar sobre suas vontades e desejos, alguém que te respeite e queira ter experiências com você.

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