A paixão do estilista francês Jean Paul Gaultier pela Índia é bem conhecida. Ela aparece sobretudo em suas coleções com toques e simbolismos da cultura daquele país. Em fins de junho, durante a semana de moda masculina de Paris, Gaultier nos apresentou um homem austero, elegante e, apesar de, em alguns momentos, vestir saias, bastante vigoroso. O turbante, amarrado a maneira dos sikhs indianos, surgiu como um dos ícones de sua coleção, indicador de elegância e ousadia que promete fazer a cabeça de fashionistas e antenados com moda na próxima estação.
Se a força do verão 2013 de Gautier estava ou não nos turbantes bem estruturados, com certeza as referências aos trajes sikh colaborou para o fortalecimento da imagem masculina. Além dos acessórios de cabeça, traços militares e elementos, como pregas e pespontos, mostravam a paixão do estilista pela Índia na forma de uma homenagem ao sikhismo, religião dhármica fundada no século XV por Guru Nanak.
Mas que tradição é essa e o que ela tem a ver com nosso contexto mineiro e brasileiro? Em bom português, "sikh" significa aquele que busca a verdade, e representa o caminho do estudante. Aqueles que assumem o sikhismo como religião seguem um estilo de vida pautado pelo serviço altruísta, pela compaixão, pela gentileza, pela coragem e pela dignidade.
O que, à primeira vista, pode parecer distante de nós, na verdade, encontra-se bem debaixo de nosso nariz. Duvida? Em outubro, acontecerá em Belo Horizonte, um desfile de roupas elaboradas a partir dos valores dessa tradição, preparado pela comunidade de kundalini ioga de Belo Horizonte, considerada a comunidade modelo no mundo desse tipo de prática ióguica.
"Apesar de nem todo sikh fazer kundalini ioga e nem todo kundalini iogue ser um sikh, há um momento em que essas duas tradições se fundem. E esse momento acontece com Yogi Bhajan, um indiano que fundou o sikh dharma e trouxe os conhecimentos das duas tradições para o Ocidente", explica Ditta Kaur, designer gráfica e professora de kundalini yoga, responsável pela elaboração das roupas que comporão o desfile.
Pautado pelo verão 2013 de Gaultier e pelo desfile conterrâneo, Pandora foi a campo decifrar os significados e simbolismos que pautam tais roupas. Como explica Ditta, os trajes sikhs - compostos por calças saruel e cholas, espécie de blusas longas e acinturada, que vão até o joelho - surgiram com o último Guru, Gobind Singh, quando precisou distinguir seus seguidores entre a população indiana e, para isso, tornou obrigatório o uso desses trajes específicos. "As cholas tem origem nas vestimentas dos soldados que iam para batalha. Por isso, elas tem uma costura reforçada nas regiões consideradas como centrais de perda de energia, como os rins, o umbigo e os joelhos. E por isso, por serem as vestimentas dos guerreiros, elas tem esse forte traço militar", explica.
No caso do verão de Jean Paul Gaultier, explica Ditta, os pespontos e costuras reforçadas das cholas indianas surgem como pregas que se tornam saias, muito próximas das kilt escocesas.
Usado por muitos como símbolo de elegância e como elemento de ousadia no look, os turbantes simboliza a coroa para a tradição sikh. "O turbante faz a contenção da força interna, que reside em todos nós, faz um ajuste da caixa craniana, que aproxima os dois hemisférios cerebrais e nos deixa muito mais concentrados e focados. No caso do guerreiros, eles ainda usavam um circulo de aço como proteção e como instrumento de batalha", explicita Ditta.