A proposta inquieta e intriga. “Olhar nossos pais e nossos avós como seres humanos que ocupam um lugar na história de vida de cada família e, assim, enxergar que somos frutos de toda essa árvore, que fomos constituídos com a essência de cada personagem dessa história”, propõe Mônica Justino, psicóloga, especialista em psicogenealogia e mestra e doutora em criatividade.
A psicogenealogia nasceu dos estudos da psicóloga Anne Ancelin Schützenberger (1919-2018), nos anos 70, na França, e disseminou-se com a publicação do livro “Meus Antepassados”, em 1988. Ela começou trabalhando com pacientes oncológicos e observou que eles repetiam o mesmo padrão de seus familiares. “Eles tinham a mesma doença, o acometimento do mesmo órgão e repetiam até mesmo a data em que descobriam uma doença idêntica à de algum antepassado”, explica Mônica.
Anne começou a olhar para a história de vida desses pacientes e para a árvore genealógica de suas famílias e identificou padrões de repetição. “Na sequência, ela iniciou uma pesquisa com seus alunos da universidade para saber se na historia deles também havia repetições. Ela queria se certificar de que a repetição de certos padrões não estava relacionada apenas às pessoas doentes. E não estava.
Assim, nasce a psicogenealogia, que lança mão de uma ferramenta chamada genossociograma para abordar questões do inconsciente que passam de uma geração para outra. Fisgada pela técnica, Mônica se formou na França em 2006 e, em 2017, lançou seu primeiro livro “Psicogenealogia: Um Novo Olhar na Transmissão da Memória Familiar” e começa a formar profissionais no Brasil pela Associação Internacional de Psicogenealogia em um curso com duração de um ano e meio.
“A psicogenealogia parte do princípio que os nossos conflitos, nossos bloqueios e nossas dificuldades são frutos de acontecimentosda história de vida dos nossos antepassados, dos traumas vividos por eles e que, mal-elaborados, são repassados de geração a geração”, explica Mônica.
Por meio dessa abordagem, a pessoa passa a conhecer seus familiares de forma mais aprofundada. “Podemos enxergar melhor nossas raízes. É um trabalho que nos proporciona a compreensão de nossa história e nosso lugar na família e, dessa forma, podemos nos libertar das heranças que nos impedem de viver conforme nosso desejo”, ressalta a especialista.
Segundo ela, “ao pesquisar a árvore genealógica, pode-se identificar segredos, traumas, situações que não foram bem vividas, sonhos que não se realizaram e que a pessoa segue carregando como um peso, paralisando-a. Quando a pessoa chega para o atendimento, já trás uma demanda, um desconforto, uma situação que está dificultando sua vida”, diz.
Para acessar a árvore genealógica da pessoa é necessária uma pesquisa que vai até a sétima geração, o que não é fácil. “Quando isso não é possível, trabalhamos até a quarta ou quinta geração”, comenta Mônica.
SERVIÇO: Para mais informações, acesse www.psicogenealogiabrasil.com.br ou ligue (48) 99962-4275.
É comum a identificação com eventos do passado
Dentro da psicogenealogia, o foco não está nas doenças, mas em porque ela está se manifestando naquele momento. “Casos de esquizofrenia, bipolaridades e psicopatologias, em geral, têm relação com a história de famílias que guardam segredos. Isso não quer dizer que toda família que guarda segredos vai gerar um esquizofrênico”, explica Mônica Justino.
A síndrome do pânico pode ter a ver com sufocamento de algum antepassado ou excesso de controle. Ela revela que mulheres com dificuldades de engravidar podem ter medo do parto. “Muitos casais saudáveis chegam a pensar em inseminação artificial, mas, quando se verifica a árvore, uma bisavó morreu no parto ou teve dores severas ou perdeu o bebê durante o parto. Nesse caso, há ainda mães, irmãs, tias com problemas no útero”, revela.
São situações traumáticas que aconteceram com os antepassados, mas que a pessoa traz como forma de identificação. “Quando ela toma consciência desses eventos, pode evitar as repetições, mas tem liberdade de escolha para fazer o que quiser com seu futuro”, finaliza a especialista. (AED)
Descendentes podem herdar sequelas por conta da pandemia
Uma reflexão torna-se necessária neste momento de isolamento social. Que semelhanças terão as futuras árvores? Quais registros essas pessoas vão carregar? “Elas poderão herdar certa fobia social, mania de limpeza, medo de morrer. Ou ainda traços psicológicos desenvolvidos pelos antepassados que ficaram internados e tiveram sequelas. Já ouviu aquela frase ‘não sei com quem fulano se parece’?. O importante é saber onde tudo começou, o que deu o start”, pontua Mônica Justino. (AED)