Imagine inserir os pés numa bacia com água e um eletrodo por 30 minutos e, à medida em que o líquido se torna turvo, eliminar toxinas como metais pesados, agrotóxicos e pesticidas, ou até mesmo expelir gordura. É essa a ideia que muitas vezes é associada ao detox iônico, técnica que vem conquistando cada vez mais adeptos no Brasil, inclusive famosos como Marília Mendonça, Yasmin Brunet e Thiago Fragoso.

Por essa descrição parece ser algo milagroso, mas, na verdade, não é bem assim que a terapia funciona. O que acontece durante o processo é que a água, que está acrescida de sal, muda de cor por conta da reação química que acontece entre essa mistura e a eletricidade emitida pelo aparelho. Esse processo provoca uma troca de íons, o que ajuda a promover o equilíbrio entre os negativos e os positivos no organismo.

O terapeuta Rafael Borges, que oferece a técnica no Espaço Harmonia do Ser, com unidades em Belo Horizonte e Lagoa Santa, explica que o método reforça a capacidade de autorregulação do organismo. “É uma forma de tornar o pH do organismo menos ácido e mais alcalino, removendo radicais livres”, observa. Em excesso, essas moléculas podem contribuir para o enfraquecimento do sistema imunológico, facilitando o surgimento de alguns problemas de saúde. “Nosso corpo é programado para se autorregular, e a desintoxicação iônica é uma espécie de coadjuvante nesse processo”, acrescenta Rafael.

É a partir desse estímulo que o corpo libera, aí sim, as toxinas. Porém, por meio do suor, da urina e dos excrementos. Além de melhorar o sistema imunológico e promover a eliminação de toxinas, a terapia ajudaria a diminuir o estresse, a ansiedade e a insônia, além da retenção de líquido, melhoraria os sintomas da menopausa e da enxaqueca, reduziria problemas de pele, entre outros benefícios.

É indicada para qualquer pessoa, mas, sobretudo, para quem tem alguma debilidade no sistema imunológico ou no circulatório, quem tem retenção de líquido, excesso de fadiga e problemas para dormir. Há contraindicações, porém: pessoas com marca-passo e próteses metálicas, transplantados, quem tenha feridas nos pés, grávidas e quem tenha passado por processo de quimioterapia. São recomendadas dez sessões (cada uma custa R$ 80 no Espaço Harmonia do Ser), a serem realizadas semanalmente.

Para além da ionização, os 30 minutos são um momento propício para a promoção do relaxamento. “Quando a pessoa vem, é para ser um momento dela. Geralmente, coloco alguma música mais tranquila, para ajudar esvaziar a cabeça de preocupações e ansiedade, afinal, sabemos que os padrões de emoção também influenciam na fisiologia”, observa Rafael.

Eficácia

Ainda são poucas as pesquisas científicas relacionadas a essa técnica, por isso há controvérsia sobre sua eficácia. Procurado para dar um parecer sobre a terapia, o Conselho Regional de Medicina do Estado de Minas Gerais (CRMMG) informou que não tinha posição sobre o assunto. Por meio de nota, afirmou “que a terapia denominada ‘detox iônico’ não é uma prática reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina”.

Adeptos da prática relatam aumento do bem-estar

Aos 51 anos, o empresário Alexandre Eduardo vem procurando, nos últimos anos, encontrar respostas para alguns questionamentos da vida e buscando ferramentas que o auxiliem no processo de autoconhecimento. Isso o tem aproximado de terapias alternativas e foi assim que ele tomou conhecimento do detox iônico.

Após três sessões, ele já consegue perceber alguns resultados. “No momento da sessão, já existe um alívio, uma sensação de bem-estar e calma, parece que há toda uma energização do corpo. No dia em que faço também costumo observar que a qualidade do sono aumenta”, conta. “Também diminuiu bastante o inchaço que eu estava sentindo nos pés e senti uma melhora nas dores nas juntas. Mas estou contando mesmo é com o benefício para o organismo como um todo, essa ajuda na liberação das toxinas e a turbinada no sistema imunológico”.

Já a designer de moda e arquiteta Natalie Chlad, 26, recorreu à técnica pois ouviu dizer que ela auxiliaria na perda de peso. O terapeuta Rafael Borges, que aplica o detox iônico, explica que não existe essa relação de causa e efeito entre a terapia e o emagrecimento. “O que ela promove é um equilíbrio maior, o que pode acabar ajudando a perder peso, mas não necessariamente isso vai acontecer”, diz.

De fato, Natalie já fez sete sessões e não notou mudanças na balança, mas isso não a fez perder o entusiasmo com a desintoxicação. “Eu me sinto mais leve depois que eu faço, parece que renova minhas energias. Me deixa com uma sensação muito boa”, afirma.

Aliados

Durante a sessão, Rafael Borges costuma oferecer água aos clientes. “A maioria das pessoas não toma a quantidade ideal de água, mas todas as reações metabólicas do corpo precisam dela, que aliás compõe mais de 70% do corpo. Por isso, durante o processo, eu as incentivo a tomar”, relata. E se o propósito é tornar o organismo mais alcalino, é importante também evitar alimentos ácidos. “Café, sal, açúcar, farinha branca, leite e derivados, todos esses elevam a acidez do corpo”, completa.

Relato de uma sessão

Convite

Ao solicitar uma entrevista sobre o detox iônico para o terapeuta Rafael Borges, fui convidada por ele para fazer uma sessão experimental da terapia.

Aparelho

Ao chegar ao consultório, fui orientada a me sentar num sofá e colocar os pés em uma bacia com água e um eletrodo. Também tive que envolver uma faixa conectada a um fio em volta da lombar, que me aqueceu durante o processo, e pus uma pulseira que é uma espécie de aterramento para evitar choques.

Sensações

Os 30 minutos de aplicação da técnica transcorreram de forma agradável. A corrente elétrica que circula é bastante sutil e mal dá para sentir, mas a mudança de cor da água, além de curiosa de observar, não deixa dúvidas de que a reação química está acontecendo. No entanto, apesar de ter vivido uma experiência prazerosa, não consegui sentir com muita clareza os efeitos do processo.