Os incômodos diários provocados pela sensação de comida parada na garganta, sinusite, dor de garganta, queimação e até dor de ouvido levaram a auxiliar técnico de educação Sandra Matos, 48, a descobrir, há um ano, o diagnóstico de refluxo gastroesofágico. O problema, conforme estudo realizado pela Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG), acomete mais da metade dos brasileiros a cada semana.
Apesar de frequente, o presidente da FBG, Flávio Quilici, diz que é comum os pacientes confundirem o refluxo com má digestão, o que leva mais de 30% ao risco da automedicação e pode agravar o quadro. Tomar sal de fruta é um dos tratamentos mais recorrentes entre a população: cinco em cada dez o fazem quando sentem algum incômodo.
“Alguns dos sintomas são semelhantes, mas a má digestão tem a ver com o estômago não trabalhando direito, e quem tem digestão lenta acaba sentindo uma série de incômodos. Já o refluxo ocorre quando o ácido gástrico do estômago, às vezes até com comida, volta para o esôfago, causando uma sensação de queimação e azia”, diz.
Um estudo realizado neste ano com mais de 3.000 pessoas, de ambos os sexos, em todas as regiões do país, conseguiu, pela primeira vez, segundo Quilici, detalhar o perfil dos pacientes com refluxo. “É mais frequente na mulher do que no homem, sendo que quase 40%, ou seja, quatro em cada dez, já tinham estado grávida ou estava grávida, e, nesse grupo, os sintomas são piores, assim como nos obesos, sedentários e fumantes entre 36 a 47 anos”, afirma.
Quando o refluxo é muito frequente, ele pode ser indício de um quadro mais grave conhecido como “doença do refluxo gastroesofágico”, às vezes com sérias complicações. Alguns estudos regionais mostram que no Brasil a doença tem prevalência de 12% da população. “Felizmente, é uma doença benigna e não comum, mas, se não levada a sério, pode evoluir para uma irritação grande podendo ‘abrir a porta’ para o câncer de esôfago”, alerta.
De acordo com o presidente da FBG, alguns alimentos ajudam no aparecimento de refluxo, mas o problema não tem a ver tanto com a dieta, mas sim como a pessoa come. “Quando os sintomas se tornam frequentes ou intensos, deve-se procurar opinião médica”, orienta Quilici.
Sensação ruim
“Tenho refluxo há mais ou menos dois anos. Os sintomas começaram com um pigarro na garganta que nunca passava. É como se tivesse algo entalado.”
Joilson Cruz Nunes
Soldador, 35
Tratamento certo
“Fui ao médico gastroenterologista e fiz endoscopia. Tinha uma azia que melhorava com antiácidos, mas hoje faço tratamento com outros remédios.”
Mônica Gutterres
Técnica de enfermagem, 49
Qual é a diferença
Sal de frutas
Ao chegar ao estômago, cria uma ‘proteção’, melhorando a digestão, mas piora o refluxo, pois enche o estômago de ar, o que faz o ácido voltar para o esôfago.
Leite de magnésia
Não vai atuar no refluxo, apenas diminui a acidez no estômago e a pessoa não sente incômodo. Ajuda na digestão e alivia a queimação.
Alginato
Ainda pouco conhecido pela população. Segundo o estudo, apenas 6% recorrem ao medicamento com esse princípio ativo. É muito eficaz no combate ao refluxo, além de possuir ação de longo prazo, por até quatro horas. Ele age formando uma barreira mecânica que impede as sensações de queimação e azia. Além de proteger o estômago, forma uma substância líquida que fica em cima da comida e impede o refluxo.
Fonte: Presidente da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG), Flávio Quilici
Flash
Mudança. “Para melhorar, quem tem refluxo, e não a doença em si, deve comer devagar, mastigar bem os alimentos, comer pouco de cada vez, não tomar líquido durante as refeições, não deitar após comer. Comer alimentos gorduroros e fritura, em pequenas quantidades, pode, mas quando a pessoa já têm a doença isso deve ser diminuído ao máximo”, diz Quilici.