São Carlos. Pesquisadores europeus estão realizando o primeiro teste controlado de uma tecnologia que promete destruir tumores de pâncreas antes considerados impossíveis de operar, usando calor concentrado para romper as defesas do câncer.
O ensaio clínico de fase 3 (quando uma abordagem médica já pode ser considerada adequada para uso mais amplo) tem como objetivo eliminar os chamados tumores pancreáticos localmente avançados, ou seja, aqueles em que a doença já afeta tanto o pâncreas quanto órgãos vizinhos, como o intestino, além de se espalhar por vasos sanguíneos importantes.
Cerca de 40% dos pacientes com câncer de pâncreas já apresentam essa forma da doença no momento do diagnóstico. Por causa da atual impossibilidade de retirar o tumor, a expectativa de vida média de tais pacientes é de oito meses.
Coordenado por pesquisadores do Centro Médico Universitário de Utrecht, na Holanda, o teste clínico já recrutou 98 pacientes em toda a Europa, e o plano é chegar a 228 participantes até o fim de 2019. Os resultados sobre o grau de êxito devem vir em meados de 2021.
Para destruir o tumor sem riscos elevados para o paciente, os coordenadores do estudo optaram pela chamada “ablação por radiofrequência”. Nesse método, eletrodos posicionados estrategicamente ao longo do tumor administram uma corrente elétrica alternada (ou seja, que muda periodicamente de direção) sobre os tecidos tumorais.
Como ali existem íons (partículas com carga elétrica), a corrente alternada faz com que eles se mexam rapidamente de um lado para o outro, o que provoca calor por fricção. E esse calor acaba sendo tão intenso que o tumor é destruído. É necessária muita precisão para posicionar os eletrodos, bem como um sistema concomitante de resfriamento dos órgãos vizinhos, para protegê-los do dano do calor. Isso é feito com o uso de líquidos a uma temperatura de 5ºC durante todo o processo, explica Elizabeth Pando, pesquisadora do Grupo de Transplantes Digestivos do Instituto de Pesquisa Vall d’Hebron, em Barcelona.