Transporte

Autotechs tiram carros das ruas

Startups aliam economia e sustentabilidade, com fretes e caronas compartilhados e muito mais


Publicado em 09 de setembro de 2017 | 03:00
 
 
 
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Menos carros nas ruas, menos gás carbônico na atmosfera e mais comodidade e economia para os usuários. Esses são os desafios que as autotechs, startups que atuam nos setores de logística, transporte e mobilidade, buscam solucionar por meio da inovação. E os primeiros frutos já estão sendo colhidos. Estudo realizado pela aceleradora Liga Ventures, com 6.000 startups do setor, mostra que 193 delas já estão alterando o trânsito, a logística e o setor automotivo do país.

“Entre as selecionadas, observamos que cerca de 50% nasceram nos últimos dois anos, o que mostra o crescimento da atuação das empresas de tecnologia no mercado. São soluções inovadoras, nas etapas de produção automotiva, venda, logística, frete, manutenção de veículos e mobilidade urbana”, explica o diretor da Liga Ventures, especializada em gerar negócios entre startups e grandes corporações, Daniel Grossi. A Liga, segundo ele, tem uma linha de aceleração específica para autotechs, que são trabalhadas individualmente. “Os modelos de negócio são bem localizados, atuam em nichos, em problemas específicos”, explica o hunter da aceleradora, Raphael Augusto.

Bruna de Barros Léo, 26, teve a vida melhorada por uma dessas startups, a Zumpy, há um ano. Antes de conhecer o aplicativo, a estudante de enfermagem, que trabalha em um escritório de marketing no bairro Belvedere, na região Centro-Sul da capital, gastava duas horas entre o serviço e sua casa, na região da Pampulha. Com o app, ela descobriu que seu vizinho, que mora no mesmo prédio, trabalha na mesma região que ela. E agora a estudante vai de carona com ele todos os dias. “Gasto metade do tempo para chegar ao trabalho e ainda economizo, porque só pago a divisão da gasolina, R$ 5 por dia”, conta Bruna.

O Zumpy, desenvolvido em Belo Horizonte há dois anos, já tem 85 mil usuários, 70 mil na região metropolitana da capital. Segundo André Andrade, fundador do Zumpy, o aplicativo já retirou da atmosfera 3.600 toneladas de gás carbônico. “Otimizamos o uso do automóvel mostrando rotas comuns. Hoje, 70% dos carros particulares rodam apenas com o motorista”, conta Andrade. Segundo ele, um motorista que oferece vagas no carro por meio do Zumpy pode economizar até R$ 800 por mês, praticamente sem alterar sua rotina. O dono do carro não recebe o valor pago pelo ‘carona’ diretamente, mas recebe 90% em crédito para comprar produtos ou abastecer o veículo. Os outros 10% ficam com a startup.

O transporte compartilhado também foi o ponto de partida para a criação da PickMeApp (PMA), em 2015. Mas, nesse caso, quem paga o transporte é o estabelecimento comercial. “Nosso foco são as casas de show e eventos, além de bares. O objetivo é diminuir o número de pessoas que bebem e dirigem depois”, conta um dos fundadores da empresa, Gustavo Azevedo. Para isso, o PMA fecha parceria com empreendimentos que oferecem transporte a seus clientes. “É uma ação de marketing, para fidelizar e conquistar clientes, além de aumentar, em até 30%, o tíquete médio de consumo”, diz Azevedo. Nos últimos dois anos já foram transportados pelo aplicativo, que tem mais de 40 mil downloads, mais de 20 mil pessoas só em Belo Horizonte. Diante do sucesso, a startup foi adquirida neste ano pelo grupo de comunicação e marketing JChebly.

As relações entre empresas também estão mudando graças às autotechs. Atuando na grande São Paulo, a plataforma menu.com.vc, criada em 2016, une pequenos comerciantes, como restaurantes e mercados, a grandes distribuidores e oferece o frete. “São várias vantagens. Além de levar a encomenda até o comerciante, que na maioria das vezes tinha que se deslocar aos atacadistas, temos parceria com vários distribuidores. Com isso, nosso cliente pode fazer cotação online. Também garantimos o crédito”, diz o fundador da Menu, Leonardo Almeida. A startup, que foi acelerada pela Liga Ventures, já atendeu 3.000 clientes em 50 cidades paulistas. E pretende chegar a Minas, Rio de Janeiro e Paraná até o fim de 2017.

Bolha. As startups tornaram-se conhecidas em todo o mundo durante a bolha da internet, quando um grande número de “empresas.com” foram fundadas.

FOTO: Eduardo Kenji Misawa / Menu / Divulgação
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Gustavo Penna e Leonardo Almeida do app Menu atuam na logística de SP

Benefícios

Características do mercado brasileiro apontadas pela aceleradora Liga Ventures, que beneficiam a atuação das autotechs.

Empresas de grande porte – Presença de grandes players no país, como montadoras e distribuidoras, que necessitam de logística, mas que não incluem o transporte em sua atividade-fim.

E-commerce – Crescimento das vendas no comércio eletrônico e a cultura brasileira de buscar fretes mais baratos. “O valor do frete muitas vezes define se o cliente vai ou não comprar um produto em um e-commerce”, diz Raphel Augusto, hunter da Liga Ventures.

Motos – Utilização de transportes alternativos, como as motocicletas nos grandes centros do país.

Mudança de hábitos – O crescente movimento de enxergar o veículo como um serviço e não mais como um bem nas gerações mais novas.


Números

1 milhão de caminhoneiros atuam no setor de logística no país

6.000 startups já foram identificadas pela Liga

70 mil veículos deixaram o trânsito de Belo Horizonte

85 mil é o número de usuários do aplicativo Zumpy

20 mil é a quantidade de pessoas transportadas pelo PMA

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