São Paulo. Com objetos do dia a dia cada vez mais complexos tecnologicamente, há um costume sob risco de desaparecer: desparafusar e consertar algo por conta própria, em vez de incumbir uma assistência técnica ou comprar um novo. Nos Estados Unidos, a terra do “faça você mesmo”, tramitam projetos de lei em oito Estados pedindo o direito ao reparo.

A ideia é exigir que fabricantes vendam peças originais e manuais de instrução para quem quiser comprar. “As empresas querem ter o monopólio do conserto”, afirma Julia Bluff, diretora do site iFixit. “Acreditamos que o reparo deve ser algo acessível economicamente, não só para o usuário, mas para criar empregos”.

No iFixit, há 24 mil manuais ensinando a desmontar todo tipo de utensílio: aspirador de pó, fone de ouvido, mouse, câmera e ar-condicionado do carro. Em 2009, quando a Apple criou o parafuso pentalobe, que só abre com uma chave específica, o iFixit produziu uma cópia da chave e a colocou à venda.

A tecnologia está virando uma caixa-preta. Há uma pressão para consumir e descartar, que é ruim para as pessoas e para o ambiente. Os norte-americanos já conquistaram o direito ao reparo dos carros em 2014, em acordo com as montadoras. Mas as peças originais geralmente são de fácil acesso, diferentemente do caso dos eletrônicos.

A Repair Association, que está por trás dos projetos de lei, diz que mais de 3 milhões de norte-americanos trabalham com manutenção e reparo. No Brasil, havia 462 mil pessoas ocupadas no setor em 2014, segundo o IBGE.

Tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, as empresas que vendem bens duráveis são responsáveis por consertos e trocas, mas não há controle sobre os preços e condições desses serviços. “No Brasil, ainda há a ideia de que a exigência de consertar na rede autorizada está ligada a uma garantia de qualidade”, afirma Simone Magalhães, membro do Instituto Brasileiro de Política e Direito do Consumidor. "Muitas cidades do interior não contam com nenhuma autorizada, o que deixa o consumidor sem opções”.

Como funciona. O usuário entra no iFixit 9que tem versão em português), procura o item que quer consertar, a parte específica do problema – trocar a bateria do celular, por exemplo – e acompanha o tutorial. O site explica qual o grau de dificuldade, quantos passos são necessários, o tempo médio necessário para o serviço, e, para quem mora nos Estados Unidos, ainda tem link para comprar as ferramentas necessárias. O kit para trocar a bateria de um iPhne 5, por exemplo, custa US$ 30. Se for despachar para o Brasil, mais US$ 15,50 de frete.

Colabore. A iFixit é uma página tipo wiki. Qualquer pessoa pode criar um manual de reparo para um dispositivo e qualquer pessoa pode, também, editar os manuais criados e incrementá-los. Eles são avaliados pela equipe do site e por usuários.

FOTO: reprodução/ifixit
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Passo a passo é ilustrado com vídeos e fotos detalhadas