Calor, férias escolares e algumas das cachoeiras mais bonitas do Brasil a apenas alguns quilômetros de distância. Essa tentadora combinação leva milhares de mineiros a procurarem refresco nas quedas d’água mais próximas. O problema é que esse período é também o mais arriscado devido ao maior volume de chuvas. Em dezembro, sete pessoas morreram em cachoeiras no Sul do Estado devido ao fenômeno cabeça-d’água, erroneamente confundido com tromba-d’água (que acontece no mar). Até o dia 13 de janeiro, foram 23 mortos por afogamento em Minas Gerais, segundo dados do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG). Por isso, antes de tudo, é preciso se planejar para o passeio.

A agente de viagens Juliana Sanna, 48, faz trilha há dez anos e, entre suas principais dicas para fazer trekking de forma segura está checar a previsão do tempo. “Em algumas regiões, como a serra do Cipó, é muito comum cabeça-d’água. Já cancelei vários eventos com previsão de chuva porque prezo muito pela segurança dos que caminham comigo”, explica.

Na cabeça-d’água, uma forte chuva na cabeceira do rio leva à formação de uma enxurrada que segue curso abaixo, aumentando em minutos o nível da água. Segundo o tenente Pedro Aihara, porta-voz do CBMMG, numa cabeça-d’água, 50 cm de lâmina de água consegue carregar até uma caçamba de lixo de 500 kg.

Observe

O fenômeno pega muitos banhistas de surpresa, mas, embora repentino, há de dois a três minutos para se observar alguns indícios e sair do local antes de a enxurrada chegar. “Se a correnteza começa a ficar mais rápida e a trazer muitas folhas e galhos, indica que está descendo um grande volume de água. Vale olhar a movimentação dos animais também. As aves fogem da chuva da cabeceira e voam no sentido contrário. Além disso, observe o aumento do nível de água”, explica o tenente.

De acordo com ele, para evitar o problema, é recomendável ficar mais próximo à nascente do rio: “é menor a possibilidade de acontecer a cabeça-d’água”, explica. “Na hipótese de ser surpreendido, procure proteção para só depois continuar o percurso. As pessoas que tentam atravessar a correnteza acabam não conseguindo”, completa. O ideal é buscar um lugar mais alto, longe do rio, e esperar a enxurrada passar.

 

Perdidos na mata

Outro problema muito comum nessa época do ano são de pessoas que se perdem. Só em 2018, o CBMMG fez a busca e salvamento de 607 pessoas perdidas em trilhas, o dobro do que em 2017. O tenente Aihara explica que é muito comum, por exemplo, grupos de igreja que saem para fazer adoração em montanhas e alguém acabe desaparecido. “O principal problema é o planejamento. Nesses grupos há pessoas desde os 20 anos até os 60, 70 anos. O condicionamento físico é diferente. Enquanto alguns estão subindo, outros ficam para trás e se perdem”, explica. Ele lembra ainda que há grupos que não contabilizam o tempo de retorno, passam a tarde na cachoeira e, na hora de retornar, anoitece e se perdem.

Itens básicos

A trilheira Juliana conta que, além de olhar a previsão do tempo, checa todos os equipamentos e itens necessários para uma trilha, por mais básica que ela seja. Entre os itens estão protetor solar, repelentes, antialérgicos em pomadas e de uso oral, medicamentos analgésicos, anti-inflamatórios, capa de chuva, blusa de frio e a quantidade de comida e água diretamente proporcionais ao tamanho da trilha. Até hoje, ela precisou somente de um anti-inflamatório ao torcer o pé numa travessia entre Petrópolis e Teresópolis. Apesar do susto, conseguiu terminar a caminhada sem muita dor.

“A maior parte das pessoas que morre depois de se perder é por desidratação ou hipotermia. Normalmente, nesses locais abertos, o gradiente de temperatura abaixa muito”, alerta o tenente Aihara. Por isso, segundo ele, a primeira coisa a se fazer é manter a calma. “Não tente achar o caminho por conta própria. A busca é feita no lugar onde a pessoa foi vista por último. Se ela começa a caminhar, acaba se embrenhando na mata”, explica o tenente.

O ideal, segundo ele, é se posicionar num lugar mais alto para facilitar a busca aérea. “As pessoas morrem de hipotermia e desidratação porque só deixam para pensar nisso quando já estão numa situação muito grave de sede e frio. Se me perdi agora e não sei se vou ser localizada rapidamente, tenho que procurar um lugar para me abrigar e conferir se há um curso d’água próximo para me hidratar adequadamente”, orienta.

Caso precise se mover a uma distância muito longa, ele recomenda deixar um pedaço de roupa amarrada para avisar que esteve naquele ponto. “E, pode parecer óbvio, mas lembre-se sempre de acionar os bombeiros caso a pessoa já tenha sido encontrada. Se não, os nossos trabalhos continuam”, afirma.

 

Boas práticas do trilheiro cuidadoso

- Escolha uma trilha compatível com seu condicionamento físico.

- Se não conhece o lugar para onde vai, procure um guia ou busque trilhas bem demarcadas.

- Confira a previsão de tempo.

- Confira o tempo exato do percurso e contabilize o retorno.

- Nunca vá sozinho, você pode se lesionar e alguém precisa pedir socorro.

- Leve itens básicos: água, comida, item que produz fogo, lanterna, equipamento de orientação e jaqueta.

- Avise a administração do parque que horas você deve voltar e qual percurso fará.

- Caso fique perdido, mantenha a calma. Não tente encontrar o caminho por conta própria. Procure ficar num lugar mais alto por causa da busca aérea. Deixe pedaços de roupas amarrados para avisar que você passou por aquele ponto. Para evitar hipotermia e desidratação, procure um lugar para se abrigar e confira se há um curso d’água por perto para você se hidratar.