Se antes o aquecimento global se limitava a projeções científicas alarmantes de um futuro distante, atualmente a ameaça ambiental fica cada vez mais exposta diante das tragédias climáticas ocorridas em todo o mundo – como, recentemente, no Rio Grande do Sul, onde enchentes afetaram 2.390.556 pessoas, em 475 municípios.

Entre debates que envolvem a população, cientistas, empresários e o poder público, a preocupação crescente relacionada às mudanças climáticas, à degradação ambiental e aos possíveis impactos sobre a vida das pessoas e os ecossistemas provoca angústias que configuram a ecoansiedade – também conhecida como “ansiedade climática”.

Embora o termo ainda não tenha se popularizado, um estudo publicado na revista científica “The Lancet Planet Health”, em 2021, que envolveu mais de 10 mil crianças e jovens (com idades entre 16 e 25 anos) de dez países, incluindo o Brasil, comprovou que a preocupação com as mudanças climáticas vem afetando diretamente a vida das pessoas.

Segundo a pesquisa, 59% dos entrevistados se diziam muito ou extremamente preocupados com as mudanças climáticas, e 89% estavam moderadamente preocupados. Mais de 50% relataram sentimentos como tristeza, ansiedade, raiva, impotência e culpa relacionados às alterações climáticas, e mais de 45% afirmaram que esses sentimentos afetaram negativamente suas vidas.

De acordo com a psicóloga social e clínica, educadora socioemocional e integrante do grupo de estudos da Comissão de Psicologia das Emergências e Desastres (Coped) do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais, Natália de Aguiar, a ecoansiedade não é considerada uma doença, mas pode ocasionar impactos psicológicos em algumas pessoas. “Esse termo reflete a preocupação crescente com as consequências das ações humanas no meio ambiente. As pessoas que sofrem com a ansiedade climática podem sentir estresse e medo em relação ao futuro do planeta e à própria vida”, ressalta a especialista. 

Fatores que intensificam a ecoansiedade 

Moradia em áreas de risco iminente de uma catástrofe ambiental;
- Intensificação dos desastres naturais, que pode aumentar as preocupações;
- Consumo constante de notícias e mídias sobre o tema;
- Sentimento de impotência diante dos desafios climáticos;
- Vivências pessoais e comunitárias de eventos climáticos extremos que causaram impactos.

Técnicas cotidianas podem amenizar os danos emocionais 

Encontrar maneiras de amenizar os sintomas da ecosiendade é um desafio. No entanto, a psicóloga Natália de Aguiar pontua como estratégia ações simples no dia a dia, como aprender técnicas de mindfulness, que ajudam a focar o presente, reduzindo a ansiedade em relação ao futuro. 

“Passar mais tempo ao ar livre e conectar-se com a natureza é tão importante quanto impor limites em relação ao consumo de notícias sobre mudanças climáticas e mídias sociais para reduzir a exposição a informações estressantes”, afirma.

Ela também indica o envolvimento em projetos de conservação, voluntariado ou adoção de práticas sustentáveis na vida cotidiana. “Caso a ecoansiedade comece a impactar significativamente a vida do indivíduo, é recomendado buscar ajuda especializada”, finaliza.