“Quando a gente acha alguém para olhar o valor, é muito alto. No meu caso, como tenho uma filha de 12 anos, é ela que vai cuidar da irmã mais nova, de 2 anos e 6 meses, nestas férias. Não tenho outra opção, porque preciso trabalhar”, diz Carla, 38, uma mãe que vive no aglomerado da Serra. O nome é fictício, para preservar a identidade dela.

Carla sabe dos riscos de deixar a filha adolescente cuidando de uma criança pequena. Mas a necessidade fala mais alto. “A gente não trabalha direito, me preocupo muito. Ligo pra ela o tempo todo”, comenta. 

Ela trabalha das 9h às 16h, e, quando volta para a casa, a jornada continua. “Acaba que a gente gasta mais, fica mais cansada, porque tem que chegar do trabalho e preparar alimentação do outro dia para as duas. Nossos governantes poderiam dar uma olhadinha para as mães”, desabafa.

Segundo a líder das iniciativas de educação da Fundação Abrinq, Cassia Moraes Longo, o que Carla vive é a realidade de muita gente no Brasil. “Sabemos que uma criança ou adolescente não pode cuidar de outra criança. Temos muitos casos de incêndio com velas ou com fogão. Por lei, a criança precisa de um adulto para garantir seus direitos à educação, saúde, lazer, esporte, alimentação. Só que, no Brasil, há muita dificuldade de garantir esses direitos, principalmente nas férias”, avalia Cassia.

De acordo com a especialista, o governo deveria desenvolver políticas públicas para acolher essa demanda. “Hoje, existem muitos casos de pais com transtorno de ansiedade e depressão derivados do estresse. E temos que ressaltar que as crianças também acabam sendo afetadas, pois, se os pais não sabem com quem elas vão ficar, a rotina delas é quebrada. Elas são muito pequenas para ter que passar por esse estresse e essa preocupação do mundo dos adultos”, analisa Cassia Moraes.