Quando as finanças não vão bem, a saúde mental paga o preço. Ansiedade, insônia e até isolamento social são alguns dos efeitos colaterais que os problemas financeiros podem causar. Mas eles não são os únicos: 80% dos endividados convivem com picos de estresse, 57% relatam problemas com a autoestima e 61% chegam a se isolar para não conviver com amigos e familiares. Os dados são do estudo “O Impacto das Finanças na Saúde Mental do Brasileiro”, feito pela Serasa, em parceria com o Instituto Opinion Box. 

Para os idosos, os efeitos do endividamento podem ser ainda mais intensos. “Algumas doenças crônicas podem piorar com estresse. Desde a hipertensão, dificuldade maior de controlar a pressão alta, o açúcar no sangue pode subir. E a dor crônica, pois quando não estamos bem emocionalmente, as dores pioram muito”, explica o presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Leonardo Oliva. 

Quando Juçara Costa, de 73 anos, perdeu o controle das finanças por uma dívida no cartão de crédito, sentiu esses efeitos na pele. “Eu acordava de manhã e era a primeira coisa em que eu pensava. Isso gera uma ansiedade, gera doença. Os meus exames na época eram todos alterados”, relembra. Juçara, que é atriz e artista plástica, viu o valor de uma dívida de cartão de crédito quintuplicar, quando precisou dar um tempo no trabalho para se recuperar de uma cirurgia. E até conseguir resolver a situação, a angústia era sua companhia. “Isso mexe na sua alma. É como se eles comprassem, pegassem e roubassem sua alma. Mexeu com tudo, com minha saúde, com minha vida, com minha dignidade. Porque eu sou uma pessoa que eu não gosto de dever, nunca deixei de pagar banco, nunca deixei de pagar dívida”, conta. 

Assim como Juçara, a vontade de resgatar a dignidade é algo comum para outras pessoas idosas. A especialista em educação financeira da Serasa, Mônica Seabra, viaja o Brasil com o Feirão Limpa Nome, e já presenciou muitos momentos que mostram essa realidade. “A pessoa chega para a gente chorando, dizendo que o nome limpo é a coisa mais importante. Elas não querem ir embora dessa vida com o nome sujo, é uma questão de honra, principalmente para os 60+”, explica. 


De acordo com o estudo a Serasa, entre o descontrole das finanças e os impactos emocionais existe um ciclo. As dificuldades com dinheiro desencadeiam estresse e ansiedade, que levam a problemas de saúde mental, prejudicando no ganho e administração do dinheiro. Tudo isso resulta em mais problemas financeiros. 

Sair desse ciclo não é simples e, em muitos casos, é necessário pedir ajuda de alguém. Mas o constrangimento impede que as pessoas compartilhem a sua realidade. Segundo a Serasa, 69% das pessoas endividadas evitam ter conversas sobre dinheiro. Juçara se abriu para receber suporte, conseguiu diminuir a sua dívida e, dessa experiência, tirou uma lição. “Se eu não tivesse ajuda para renegociar, calculo que essa dívida estaria em uns R$ 200 mil. Essa experiência me faz pensar que a gente tem que pedir ajuda”, diz. 

Educação financeira é o tratamento mais indicado

a saúde financeira não anda bem, o remédio pode estar em uma receita muito simples: educação financeira. “Você faz isso organizando o seu orçamento com uma fórmula antiga que diz o seguinte: não gaste mais do que você ganha”, afirma Marcelo Barbosa, coordenador do Procon Assembleia</CW><CW-15>. 
Mas na prática, isso pode não ser tão simples, especialmente para as pessoas aposentadas. “Existe uma mudança de comportamento de renda, uma situação diferente, para mais ou para menos. Agora o aposentado precisa encaixar todo o seu padrão de vida naquela nova condição”, explica o superintendente de negócios do banco Mercantil, Igor Magalhães. 

Nesse caminho rumo à organização financeira, o primeiro passo no caminho da primeiro passo está no reconhecimento da dívida. “Precisa reconhecer a situação de endividamento. Reconheceu? Busque ajuda”, recomenda a diretora-executiva do Instituto Defesa Coletiva, Elen Prates.

Em Belo Horizonte, essa ajuda pode ser encontrada no Programa de Atendimento ao Superendividado (PAS) do Procon-MG, do Ministério Público. O PAS ajuda os endividados a renegociarem as suas dívidas e a montar um planejamento financeiro com base na realidade em que vive. Além dos Procons e organizações de defesa do consumidor, outra dica são os serviços de apoio jurídico das universidades. 

Elen ressalta ainda três dicas essenciais: é evitar o endividamento desnecessário, fugir do parcelamento sem necessidade e fazer uma reserva para emergências.