Se por um lado, nem sempre é possível identificar o que provoca um parto prematuro, por outro lado, especialistas são unânimes ao afirmar que a única forma de prevenção é o pré-natal. De acordo com a coordenadora médica da Neonatologia do Hospital Sofia Feldman, Raquel Aparecida Lima de Paula, o indicado são pelo menos sete consultas ao longo de uma gravidez normal. Mas as estatísticas do DataSUS mostram outra realidade. Dos cerca de 302 mil bebês prematuros que nasceram no Brasil em 2023, cerca de 40% das mães fizeram menos do que o recomendado.
Segundo dados do Painel de Monitoramento de Mortalidade Infantil e Fetal, 11,2% das gestantes fizeram no máximo três consultas, e 28,4% fizeram até seis.
Nessas consultas, são pedidos exames, ultrassons, além de ser feita a medição do tamanho e peso. As informações são essenciais para avaliar as condições da mãe e do bebê. “É a partir desse roteiro básico que vamos saber se a gravidez é de risco e determinar a necessidade de fazer exames mais específicos. O acompanhamento é fundamental. Por exemplo, uma coisa simples de ser tratada, que é a infecção urinária nas gestantes, se não for diagnosticada na hora correta, pode ser uma das grandes causas de parto prematuro”, explica a especialista em desenvolvimento infantil Teresa Ruas.
Saiba mais sobre as causa da prematuridade
No caso de Ana Cecília Carneiro, 34, o fator de risco foi a gravidez gemelar. Passado o susto da descoberta de que não era somente um, mas dois bebês, vieram as primeiras intercorrências. “Tive um descolamento ovular no começo e, além disso, o meu útero cresceu muito rápido. Aí, tive muito sangramento”, conta.
Nas primeiras consultas de pré-natal, o obstetra já a informou dos riscos. “Por ser gemelar e como eu estava tendo sangramentos, o médico falou assim: ‘Pode comemorar, mas a gente tem que ter consciência que talvez um não vingue ou os dois, porque é de risco mesmo’”, recorda Ana Cecília.
De acordo com o Ministério da Saúde, a gravidez gemelar é responsável por cerca de 10% dos partos prematuros e 25% de todas as mortes pré-termo, apesar de representarem apenas 1% de todas as gestações.
Em meio a tantos riscos, na gestação de Ana Cecília, as tensões foram diárias. “Eu tinha medo o tempo inteiro. Não queria nem fazer xixi porque se eu fosse ao banheiro e visse que tinha sangue, tinha que ir para o hospital. Comprei aquele aparelhinho para escutar o coração. Todos os dias escutava o coração deles de manhã, de tarde e de noite e mesmo assim eu não ficava segura”, conta a mãe.
Bento e Francisco vieram ao mundo no dia 20 de novembro de 2023, com 34 semanas de gestação. “A gente nunca espera um parto prematuro. Eu sabia que seria um pouco antes, mas nem tanto”, comenta Ana Cecília.