O nascimento de um bebê prematuro pode significar o começo de um longo período de internação. Com o passar dos dias, semanas e até meses, a rotina de UTI fica pesada e desgastante, sobretudo para as mães sem rede de apoio. “Mentalmente, não é nada fácil. Aquele lugar é um cenário de guerra, todos os bebês e crianças estão ali lutando, e a gente investindo junto, orando, sofrendo e se alegrando com cada conquista”, diz Jaqueline Ribeiro, 40, mãe de um dos menores prematuros do Brasil. Luan nasceu com 25 semanas, pesando 350 g.
Foram nove meses de internação, sem muitas expectativas por parte dos profissionais de saúde. “Teve um médico que falou que nem no Japão, nem nos Estados Unidos, onde os tratamentos são mais avançados, conseguiriam cuidar de um bebê tão pequeno assim”, lembra o pai Daniel Vieira Silva, 40. Nas visitas diárias, as notícias nem sempre eram boas. “Nessas horas, eu falava para minha esposa que tínhamos que confiar em Deus”, recorda Daniel. Luan teve várias paradas cardíacas, infecções, recebeu transfusões e foi submetido a uma cirurgia de gastrostomia.
A filha de Paulo Lima Peixoto, 41, já tem 5 anos, mas as lembranças do hospital o emocionam até hoje. Analice chegou com 32 semanas e, da sala do parto, foi direto para a UTI. Ele tinha 15 minutos por dia para visitar a bebê, e o restante do tempo passava dentro do carro do lado de fora da maternidade apreensivo e esperando por notícias. “Era um sentimento de alegria, desespero e impotência”, recorda o pai. Paulo acompanhou a filha durante os 21 dias em que ela ficou internada. “A UTI é um tipo de lugar em que é difícil você encontrar amor porque a preocupação toma conta”, diz. “Quando via aquele monte de criança ali, meu pensamento era: ela vai viver ou não vai viver? Ela vai sair desse local ou não vai sair?”, comenta o pai.
Para Ana Cecília Carneiro, 34, o pior momento era a hora do boletim médico. “Todo dia, às sete horas da manhã, tinha uma sala em que todas as mães e pais ficavam esperando. É a pior angústia do mundo, porque você não sabe se seu filho está vivo ou morto”, conta a mãe dos gêmeos Bento e Francisco, que nasceram com 34 semanas. Bento ficou 17 dias internado, e Francisco, 28. “A gente sente muito também pelas outras mães porque, muitas vezes, eu chegava e ficava feliz porque meus bebês estavam bem, mas aí o da outra não estava, o da outra tinha falecido. É muito triste”, lembra Ana Cecília.
A tristeza de um passa a ser de todos. “Teve um caso que me marcou muito. Quando eu cheguei para substituir minha esposa, eu os vi puxando a cortina e escutei, do lado da minha baia, um pai e uma mãe se despedindo. Eles falavam: ‘Minha filha, um dia eu vou te encontrar, você agora é uma estrelinha, papai vai morrer de saudade de você”, relata o pai de Analice. “Você não sabe se dá um abraço, você não tem o que dizer. É um sentimento que até hoje eu nunca presenciei igual”, acrescenta Paulo, que acompanhou a internação da filha na maternidade do Mater Dei de Betim.
A psicóloga Zaine Martins explica que o ser humano tem como característica o olhar empático pela dor do outro. Então, partilhar a rotina vivida em uma UTI, com todas as angústias como a do boletim médico de cada dia, faz com que o olhar, o apoio e o sorriso de uma mãe fortaleçam a outra.
“Mas, muito além da dor, o que une mais é a esperança. Quando uma mãe olha um bebê de outra se recuperando, ela sente esperança de que o seu também vai melhorar, de que tudo aquilo é só uma fase e, em breve, ela também vai levar o filho para casa”, destaca.
Empatia da equipe de saúde traz mais leveza
Nesse ambiente árido e de muita apreensão há também solidariedade, troca e união. Uma identificação pela dor. “A gente acaba criando uma família entre pais e mães porque são várias crianças uma do lado da outra”, comenta Daniel.
A equipe médica também passa a fazer parte dessa grande rede de apoio. “Guardo muito no meu coração o carinho que aquela equipe maravilhosa teve. Quando o Luan alcançou o peso de 500 g, eles colocaram um coraçãozinho, enfeitaram as incubadoras e escreveram: ‘meio quilo de amor’”, recorda Jaqueline. Luan ficou internado na UTI neonatal do Hospital Belo Horizonte.
O carinho da equipe de saúde da maternidade Neocenter, onde os gêmeos de Ana Cecília nasceram, também vai ficar guardado no coração dela. “As enfermeiras cuidavam muito dos bebês, mandava a gente almoçar, mandava a gente descansar. E, quando acontecia uma coisa com um bebê, elas resolviam tudo e depois choravam. É muita humanidade”, conta a mãe.
Nas surpresas do dia a dia, o esforço é em conjunto para solucionar. “Esse carinho é muito importante porque você fica muito vulnerável. Eu não dormia, escolhia o dia em que ia tomar banho, pois queria estar lá para os dois. Eu não tinha mais energia para chorar”, revela Ana Cecília.