Há duas semanas, quatro presidentes de montadoras com fábricas e investimentos no Brasil - Volkswagen, Toyota, Stellantis e General Motors - aguardam uma reposta do presidente Lula a um alerta do setor nacional para desinvestimento e demissões em massa, se for aprovado o incentivo do governo à importação de veículos desmontados para serem acabados no Brasil.
A carta foi assinada pelos CEOs: Ciro Possobom, da Volkswagem do Brasil; Evandro Maggio, da Toyota do Brasil; Emanuelle Cappellano, da Stellantis Automóveis do Brasil; e Santiago Chamorro, da General Motors do Brasil.
O setor está investindo R$ 180 bilhões no mercado brasileiro nos próximos 5 anos, mas isso pode ser revisto para um desinvestimento de R$ 60 bilhões e demissões em mais de 10 mil empregos na indústria automotiva.
A carta ao presidente Lula, assinada pelos dirigentes de quatro montadoras com fábricas no Brasil alerta que a indústria nacional está sendo colocada em risco e sofrerá forte abalo.
"Representaria, na verdade, um legado de desemprego, desequilíbrio da balança comercial e dependência tecnológica", adverte a carta ao presidente Lula.
O setor gera 1,3 milhão de empregos e um faturamento anual de USS 74,7 bilhões no Brasil.
SKD e CKD
Mas no mercado a informação é de que o presidente Lula vai baixar as alíquotas de importação para beneficiar a marca BYD, que tem fábrica na Bahia.
No caso do SKD, a redução seria de 28% para 10% e no CKD de 25% para 5%.
A partir de julho de 2026 seria de 35% para 10% no caso de SKD e 5% para CKD.
Na indústria automotiva, SKD e CKD são métodos de produção que envolvem o envio de veículos em partes para serem montados em outro país.
No caso do SKD, especialistas dizem que o carro vem pronto, chega no Brasil e a empresa diz que fará a industrialização. "E o que acontece é que ela somente põe um retrovisor para justificar", criticam.
"Isso está sendo feito por encomenda para a BYD", reafirmam fontes do mercado.
Mercado delicado
O setor vive um momento delicado: o mercado brasileiro não está crescendo, havia a projeção para este ano de um incremento de 6% nas vendas de veículos e isso não aconteceu ainda.
Nas últimas semanas, o resultado tem sido de queda nas vendas que só não foram piores por conta das demandas das locadoras.
Nas vendas para os consumidores (pessoa física), elas caíram 10%.
Outras marcas
Especialistas acreditam que se o governo levar o plano adiante e baixar as alíquotas, isso pode estimular montadoras no Brasil que possuem marcas chinesas no seu portfólio a fazerem o mesmo.
"Somos contra o mecanismo com essa abertura para a China em detrimento com a produção local", afirmam fontes do mercado.
Carta a Lula
Na carta ao Presidente Lula, os dirigentes de montadoras explicam que: "Ao contrário do que querem fazer crer, a importação de conjuntos de partes e peças não será uma etapa de transição para um novo modelo de industrialização, mas representará um padrão operacional que tenderá a se consolidar e prevalecer reduzindo a abrangência do processo produtivo nacional, consequentemente, o valor agregado e o nível e geração de empregos".
As montadoras com fábricas no Brasil informam que essa prática pode disseminar-se em toda a indústria, afetando diretamente a demanda de autopeças e de mão de obra.
"Representaria, na verdade, um legado de desemprego, desequilíbrio da balança comercial e dependência tecnológica", adverte a carta ao presidente Lula.
Eles pedem igualdade de condições na competição pelo mercado, vetando privilégios para a importação de veículos desmontados ou produzidos no exterior com subsídios.
Tamanho da indústria no Brasil
São 26 fabricantes de veículos instalados no país e 508 produtores de autopeças que formam uma cadeia produtiva responsável por 2,5% do PIB brasileiro, 20% do PIB industrial de transformação, geração de 1,3 milhão de empregos e um faturamento anual de USS 74,7 bilhões.
A seguir, a íntegra da carta enviada pelos presidentes das montadoras ao presidente Lula e que continua sem resposta: