Intolerância

Reitoria da UFJF é pichada com suástica e ameaças aos gays

Em nota, universidade repudia homofobia e diz que caso reflete ódio do cenário eleitoral

Por Thuany Motta
Publicado em 18 de outubro de 2018 | 03:00
 
 
Repúdio. Os dizeres agressivos foram escritos nas paredes do banheiro da reitoria, em Juiz de Fora UFJF/divulgação

Os banheiros da reitoria da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) foram pichados com frases homofóbicas e suásticas, em referência ao nazismo. As ameaças – que incluíam dizeres como “morte aos gays”, “morte a todos LGBTs” e “todo o viado (sic) é lixo” – foram vistas por estudantes na terça-feira.

Em nota divulgada no Facebook, a UFJF afirmou que “manifestações como essas têm sido encontradas, também, em outros ambientes” do campus. A instituição disse “repudiar e lamentar veementemente todas as manifestações de racismo, homofobia, misoginia, sexismo ou quaisquer outras formas de discriminação contra a liberdade, verificadas na UFJF e em todo o país”.

A universidade expôs ainda, na nota, que “esses fatos não são ocasionais ou isolados”. “As expressões e símbolos refletem o ódio e o irracionalismo que vêm se ampliando no contexto da disputa eleitoral, estimulados por discursos pouco afeitos à democracia e pelo crescente desrespeito à diferença que campeia pelo país, ataca as universidades e ameaça a todos nós como cidadãos livres e portadores de direitos”. Segundo o estudante de Jornalismo da UFJF Armando Junior, 24, o clima é de tensão entre os membros dos movimentos LGBTs ligados à instituição. “E não somos apenas nós. Qualquer estudante declaradamente gay está com medo. O que mais nos preocupa agora é que a agressão saia do âmbito das palavras e se torne física a qualquer momento. Estamos andando com receio dentro da universidade”, afirma.

O jovem confirma que o histórico de ameaças é antigo. “Estudo aqui desde 2014 e sempre presenciei pichação nos banheiros. Mas parece que, de uns tempos para cá, a frequência aumentou. As pessoas preconceituosas estão saindo do armário e nós estamos entrando nele para nos protegermos”, diz.

Para uma aluna de Direito que não quis se identificar, “o clima fica pesado dentro da universidade, mas fora dela também”. “Saber que as pessoas não conseguem lidar e respeitar as diferenças – coisas básicas do convívio social – é um regresso muito grande”, disse.

A reportagem de O TEMPO perguntou à universidade acerca do registro e da apuração do caso e da possível identificação dos suspeitos. A instituição também foi questionada quanto à punição dos autores das frases, mas não respondeu às perguntas.

 

LGBTs aprendem defesa pessoal contra onda de violência

Brasília. De salto alto, Alexandre Dias chuta o ar. O stiletto faz uma parábola no ar. “Isso aqui faz um estrago”, ri ele. A demonstração faz parte de uma aula de “autodefesa e autopreservação” ministrada por Dias no sábado em Brasília.

No chão de grama, bandeiras do arco-íris eram estendidas à guisa de cangas para abrigar os 20 alunos do grupo, a maioria homens e todos gays, lésbicas ou bissexuais. Na caixinha de som, “I Don't Feel Like Dancing”, da banda Scissor Sisters.

A iniciativa surgiu em um dos grupos de “segurança LGBT+” criados no WhatsApp no dia 8 de outubro, um dia após a confirmação da ida de Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) para o segundo turno das eleições. “A criação foi uma demanda por causa dessa onda de violência que começou a ser sentida na semana antes do primeiro turno e na imediatamente depois”, afirma Julio Cardia, 34, um dos administradores.

Pouco mais de uma semana depois, já são seis grupos de 250 pessoas cada que trocam dicas de segurança, denúncias de violência e convocações para mobilizações contra o candidato do PSL. “É uma boa ferramenta porque possibilita a gente ajudar outra pessoa, ou saber que não dá para ir em algum lugar porque podemos sofrer preconceito lá", diz o gerente de vendas Hugo Sanroman, 30.

Em declarações, o candidato já criticou gays e disse que seria “incapaz de amar um filho homossexual”. “Ele falou muitas besteiras, e aí o pessoal se sentiu à vontade para expressar o seu ódio”, afirma.

Mais um caso

USP. Cinco apartamentos do bloco A conjunto de residência estudantil da USP amanheceram nesta quarta-feira (17) com suásticas pichadas nas portas. A universidade não havia se pronunciado até o fechamento desta edição.