Nova York, EUA. Assim como cães, lobos e ursos, os pássaros e os seres humanos também podem sentir o cheiro do medo.
A nova descoberta é surpreendente porque, durante muitos anos, julgou-se que tanto os pássaros como os seres humanos confiassem na visão e na audição - e não no olfato - para perceber o mundo e suas ameaças. No entanto, novos trabalhos científicos revelam que tanto os pássaros como as pessoas usam, também, o olfato para perceber o mundo.
Segundo os cientistas, os seres humanos são profundamente afetados pelos odores de formas que, muitas vezes, não são nem conscientes - e um tipo de odor provável de afetar tanto humanos como pássaros é o do desespero de um outro indivíduo da mesma espécie.
O pesquisador da Universidade de Viena, Karl Grammer, e sua equipe descobriram que as pessoas também são capazes de sentir o cheiro das situações de perigo. A pesquisa descobriu que sujeitos que cheiravam amostras de suor das axilas de mulheres que haviam acabado de assistir a um documentário neutro sobre viagens de trem ou o filme de terror "Candyman" classificavam o segundo odor como "significativamente mais forte e mais desagradável" e relataram que os fazia lembrar de "agressão".
Cenas. Em outros estudos, a olfação opera por trás das cenas. A cientista da Faculdade de Medicina de Baylor, Denise Chen, e seus colegas coletaram amostras de suor de estudantes homens e mulheres que assistiram a um documentário ou a um filme de terror. As amostras foram colocadas sob os narizes dos alunos, que expressaram somente opiniões vagas. Porém, quando eles fizeram uma série de testes cognitivos em que tinham que determinar se os pares de palavras piscavam na tela eram relacionados ou não, o suor do medo parecia melhorar sua performance.
Em todos esses casos, o comportamento humano encontra correlatos em outras espécies. Há muito, os biólogos estão cientes dos fatores de medo na natureza - sinais químicos enviados por um espécime estressado, deliberadamente ou não, que acaba incitando uma agitação de medo similar nos recebedores desses sinais.
Formigas que sofrem ataques a seus formigueiros produzem feromônios de alarme que despertam uma reação de defesa na colônia. Se há uma corrente de ar sobre a gaiola de um rato enquanto ele recebe um choque elétrico nos pés, outros roedores que estiverem na direção a favor do vento reagem como se eles próprios tivessem tomado o choque.
Aves. Situação similar acontece com as aves, concluiu a bióloga Deseada Parejo, da Estação de Pesquisa Experimental de Zonas Áridas, em Almeria, Espanha. Em um trabalho de campo, ela tocou acidentalmente um filhote de pássaro. Sua reação - digna de filmes de terror - foi regurgitar um líquido laranja e pegajoso. Curiosa, ela intencionalmente tocou outros filhotes da espécie, que repetiram a reação. A pesquisadora concluiu, então, que essa era a resposta padrão da espécie ao medo.
O próximo passo da pesquisa foi verificar se os pais eram capazes de sentir o cheiro da substância e ver sua reação à situação de perigo enfrentada pelo filhote. A observação revelou que, sim, os pais eram capazes de sentir o cheiro da substância regurgitada pelo filhote. E que reagiam a ela, surpreendentemente, não indo de encontro ao filhote para salvá-lo, mas os abandonando.
Os resultados ainda são preliminares e os pesquisadores não têm ideia de como sintetizar os aromas que detonam reações de desespero, mas as novas descobertas já são surpreendentes.
Traduzido por Raquel Sodré