Nem um metro

À espera de um metrô: concessão faz um ano sem sinal da linha 2 em BH

Empresa tem até 2027 para realizar obra do Calafate à região do Barreiro

Por Anderson Rocha
Publicado em 22 de março de 2024 | 05:00
 
 
Valdirene, moradora do Barreiro, espera ampliação do metrô há mais de 30 anos Foto: Fred Magno/ O TEMPO

Após 36 anos de existência sob comando federal, o metrô de Belo Horizonte foi concedido à iniciativa privada em 23 de março de 2023 com a promessa de, finalmente, ser ampliado para além dos 28,1 km de sua única linha. O Metrô BH, formado pelo Grupo Comporte Participações, tem até 2027 para construir a Linha 2, que ligará o Barreiro à região Oeste da cidade, e até 2029 para colocá-la em funcionamento.

Para isso, contará com R$ 3,2 bilhões de recurso públicos, já anunciados pela União. Mas, nesse primeiro ano de privatização, não há sinal da obra rumo à realização desse sonho de décadas da população da área com o maior número de bairros (72 dos 487) e de extensão territorial (53,6 km² dos 332 km² de área total) da capital mineira.

Estimativa do Metrô BH dá conta de que cerca de 50 mil pessoas/dia serão beneficiadas pela Linha 2 e deixarão de depender exclusivamente do ônibus como meio de transporte coletivo. “Tem dia que fico quase uma hora no ponto, esperando o ônibus. Estou cansada. A gente conta com esse metrô, sempre prometeram”, desabafa a confeiteira Valdirene Alves Brandão, de 51 anos, que diariamente vai do bairro Diamante, no Barreiro, ao Santa Efigênia, na região Leste de BH, onde ela trabalha.

Haja promessa. Desde que foi inaugurado, em 1986, o metrô da capital foi alvo de diversas “quase expansões”. Em 1998, a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), que era responsável pelo sistema em Belo Horizonte, chegou a iniciar obras no Calafate, justamente para chegar ao Barreiro, mas elas foram logo paralisadas. Hoje resta um esqueleto da estrutura no local (veja vídeo acima), e é de lá que as obras deverão ser retomadas.

Mas no caminho, entre as inúmeras etapas, está a retirada de cerca de 250 famílias que moram em parte do trecho, o que nem começou a ser feito. A concessionária informou na terça (19), depois de mais de 30 dias de pedidos e cobranças da reportagem, que as obras da Linha 2 começarão ainda no primeiro semestre de 2024. “Vários processos para a implantação da Linha 2 já estão em andamento, como a elaboração de projetos e estudos em campo”, declarou a empresa.

Mas a falta de informação e de movimentação na área dos novos trilhos só amarga a espera de quem mora nas regiões a serem atendidas. Embora dentro do prazo estabelecido em contrato, especialistas dizem que já daria para ter avançado nas etapas necessárias para a obra e no diálogo com a população. “A concessionária atua sem transparência. Não há nenhuma informação sobre a ampliação, mesmo depois de 12 meses”, afirma o arquiteto e mestre em planejamento urbano Roberto Andrés, professor da Escola de Arquitetura da UFMG. A urgência é maior diante da espera de décadas. “BH é uma metrópole entre as maiores do Brasil e que precisaria de um sistema de metrô robusto”, completa.

Estrutura de BH é a segunda menor entre as capitais

Entre as 12 capitais do Brasil que têm metrô em circulação, Belo Horizonte é a segunda com o menor sistema em extensão (28,1 km) e só está à frente de Teresina (PI), com 13,5 km. Os maiores metrôs do país ficam em São Paulo (104,4 km), Natal (77,5 km) e Recife (71 km).

Para o presidente da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), Joubert Flores, a demora na expansão do modal é reflexo da falta de vontade e de visão política. 

Ele lembrou que sistemas que começaram juntos, na década de 1970, como o de São Paulo e o de Santiago (Chile), trilharam caminhos diferentes – enquanto o metrô do Estado vizinho tem cerca de 100 km de extensão, o chileno tem mais do que o dobro. “Fez-se uma opção política de ter o desenvolvimento do transporte estruturante melhor e mais definido por lá”, avalia Joubert Flores.

O que diz a concessionária sobre as obras

Sobre as obras, o Metrô BH informou que, em novembro de 2023, começou a revitalização da rede de alimentação elétrica dos trens e a substituição dos trilhos e dormentes da Linha 1. Em dezembro de 2023, foi iniciada a modernização das estações Eldorado, Cidade Industrial, Gameleira, Calafate, Carlos Prates, Lagoinha, Santa Efigênia e Vilarinho. Em meados de 2025, o Metrô BH promete reformar outras nove estações da Linha 1 e, para 2026, entregar a estação Novo Eldorado, que ampliará a Linha 1 em 1,6 km.

Promessa. Em abril de 2023, o presidente do Metrô BH, Guilherme Martins, em entrevista ao portal O TEMPO, afirmou que realizaria estudos para que a linha 2 pudesse chegar à área Central.

Sem resposta. Um ano após a concessão, a empresa não se manifestou.