Antes de ir ao Instituto Médico Legal (IML), na tarde deste domingo (26), reconhecer os corpos da família que perdeu no soterramento de sexta-feira à noite, na Vila Bernadete, região do Barreiro, Ademar Rodrigues de Souza, de 64 anos, que perdeu tudo e ficou apenas com a roupa do corpo, escolheu algumas peças para vestir entre as doações que não param de chegar à Igreja Comunidade Menino Jesus de Praga, perto de onde era a casa dele.
A mulher do aposentado e os três filhos, de 17, 19 e 25 anos, morreram soterrados. Ademar conseguiu se salvar, com um dedo quebrado.
Ademar conta que alimentou a esperança de encontrar a mulher e a filha vivas até a manhã deste domingo, quando os corpos foram encontrados pelos bombeiros. Os corpos dos filhos de 19 e 25 anos já haviam sido encontrados no sábado.
“Eu tinha esperança de que a minha esposa e a minha filha tivessem vivas. Eu estava do lado de fora e elas do lado de dentro da casa” contou o aposentado. “Os meus últimos dias foram de apreensão, de achar minha esposa e a minha filha e acabar com essa angústia", disse Ademar, que agora tenta se conformar com a realidade. “A vida é cheia de altos e baixos. A gente passa por isso e tem que se conformar. O tempo cura a dor. A dor vira saudade”, lamentou.
“Já pensou perder quatro pessoas da sua família e você ficar sozinho? E os meus meninos, coitados? Estavam começando a vida deles agora. Todo mundo conhece os meus filhos, respeitadores, gente boa. Já estavam ganhando o trocadinho deles, fazendo planos, realizando sonhos. Agora, só fica a saudade e as lembranças boas. Muitas, muitas, muitas...”, lamentou o pai.
Pesadelo
Ademar conta que está tomando remédios para conseguir dormir. Ele conta que a vida dele virou um pesadelo, mesmo quando está acordado. “Hoje eu já não consigo entrar em uma cachoeira com uma queda d'água muito alta, jorrando. É a mesma coisa da avalanche que levou a minha a família. Não sai da minha cabeça. Mesmo acordado, a minha vida tem sido um pesadelo”, disse ele.
Veja vídeo do depoimento de Ademar: