A baixa cobertura vacinal dos países africanos pode ter contribuído para o surgimento da ômicron, classificada como variante de preocupação do coronavírus nesta sexta-feira (26) pela Organização Mundial de Saúde (OMS). De acordo com Flavio Fonseca, pesquisador da UFMG e presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, outras variantes podem estar surgindo no continente africano, mas não são detectadas por falta de estrutura para um monitoramento genético do vírus.

“O continente africano tem coberturas vacinais baixíssimas e um acompanhamento epidemiológico muito falho. Nós não temos noção de qual foi comportamento da epidemia em vários países. Não por acaso, já são duas variantes de preocupação identificadas na África. E possivelmente as duas foram detectadas na África do Sul porque é um país com melhor estrutura científica para esse monitoramento”, afirma o virologista.

Fonseca explica que se a cobertura vacinal é baixa, o vírus se espalha com muito mais facilidade. Quanto mais pessoas são infectadas, maiores são as chances de aparecerem variantes com características que facilitam a propagação. A nova variante detectada na África do Sul tem mais de 30 mutações, dez a mais do que a Delta, que é a responsável pela alta de casos na Europa neste momento.

“O que impressiona foi a rapidez com que a OMS declarou esta variante como de preocupação. Antes havia um acompanhamento por semanas antes de fazer essa declaração. Isso acontece porque se observou que em apenas duas semanas ela substitui a Delta em uma região, uma mostra de que ela tem vantagens seletivas em relação à Delta. Se não for contida, vai se espalhar pelo mundo facilmente”, diz Fonseca.

Atualmente, a África do Sul vacinou 28% da população – sendo que 23% está com esquema vacinal completo. A Nigéria, que é o país mais populoso do continente, está com apenas 3% da população vacinada. No Quênia o índice é de 8%, enquanto na Etiópia é de 4,6% (considerando a primeira dose).

Para Fonseca, o Brasil pode evitar a chegada da ômicron proibindo a entrada de moradores de países onde há transmissão dessa variante. E a melhor forma de se precaver contra essa e outras variantes é ampliar a vacinação. “Antes mesmo de saber se essa variante escapa à vacina, temos que ampliar a cobertura vacinal. Tivemos sucesso em conter a mortalidade pela Delta por causa da nossa cobertura vacinal”.

Segundo reportagem publicada pela revista Nature, pesquisadores na África do Sul estão correndo para rastrear o preocupante aumento de uma nova variante do coronavírus SARS-CoV-2. “O perfil de mutação nos preocupa, mas agora precisamos trabalhar para entender o significado dessa variante e o que ela significa para a resposta à pandemia", afirmou Richard Lessells, médico de doenças infecciosas da Universidade de KwaZulu-Natal em Durban, na África do Sul, conforme a reportagem.