A morte de 54 cães, supostamente, intoxicados após ingerirem petiscos, deixam tutores preocupados. Mas, afinal, o processo de produção dos alimentos é seguro? A resposta é sim, segundo o professor de produção e nutrição de animais de estimação e silvestres Leonardo Boscoli Lara, da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

O especialista avalia que os casos de petiscos supostamente contaminados devem ser tratados como “ponto fora da curva”. “A fiscalização é bem feita. Foi um acidente muito infeliz”, prossegue. Conforme o professor, os fabricantes e fornecedores são submetidos a normas e fiscalizações, de responsabilidade do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Além disso, para atuarem, eles precisam de um selo de inspeção federal.

Na situação da suposta intoxicação dos cães, o especialista avalia que possa ter ocorrido uma falha do tipo do aditivo propilenoglicol comercializado. A posição é corroborada pela própria empresa apontada como fornecedora da substância, que afirma não disponibilizar o composto para uso alimentício. Já a fabricante dos petiscos afirma ter comprado o aditivo com certificação para uso em alimentos.

“O erro parece ter sido em utilizar um produto de uso industrial como uso alimentício. Agora,se quem comprou  como alimentício ou se quem vendeu comercializou como alimentício, caberá as investigações responder”, afirmou o especialista.

Segundo ele, o propilenoglicol é amplamente usado na produção alimentícia, tanto para animais quanto para humanos. Ele não é tóxico e atua, por exemplo, para manter os produtos macios e úmidos. Mercadorias de panificação estão entre as mais comuns que recebem o aditivo. 

Já o propilenoglicol para uso industrial, em geral, está contaminado com monoetilenoglicol, e por isso, não pode ser usado para produção alimentícia. “Ele será usado como anticongelante, para motores de carros, para fabricação de tintas, qualquer coisa que queira ter homogeneidade na cor”, explica. 

O especialista pontua, ainda, que, por ser uma substância pura, o custo do propilenoglicol para uso alimentício tem um custo médio dez vezes maior do que o propilenoglicol misturado com etilenoglicol. 

Entenda o caso 

Até o momento, 54 cães morreram após consumirem petiscos supostamente contaminados, conforme a delegada Danúbia Quadros, responsável pelas investigações. A forma como os pets foram contaminados ainda é um mistério.

Conforme o Mapa, a empresa que fabricou e vendeu os petiscos supostamente envenenados, a Bassar, comprou a matéria-prima de uma distribuidora de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. No entanto, essa empresa (a Tecnoclean Industrial) informou que adquiriu o produto da A&D, companhia de São Paulo.

A empresa paulista informou, ao Fantástico da Rede Globo, que tem atuação "exclusivamente à fabricação de itens para higiene e limpeza, inclusive o produto denominado propilenoglicol". 

A princípio, a investigação identificou a contaminação em dois lotes de propilenoglicol — AD5053C22 e AD4055C21. O Mapa informou que há mais lotes contaminados.

As investigações seguem e são conduzidas pelo Mapa e pela Polícia Civil de Minas Gerais.