Mais duas testemunhas ouvidas pela CPI de Brumadinho na Assembleia Legislativa de Minas Gerais confirmaram que houve vazamento de lama na barragem de Córrego do Feijão, meses antes de seu rompimento, em 25 de janeiro deste ano.

A Comissão Parlamentar de Inquérito convocou cinco funcionários de terceirizadas, que prestavam serviço para a Vale, para deporem na tarde desta segunda-feira (15). Um deles não compareceu.

Dois funcionários da empresa Reframax abriram a sessão. O gestor de produção e levantamento de projetos, Romero Xavier, contou que, em junho de 2018, a empresa foi chamada para prestar serviços de prevenção a incêndios, com instalações de placas informativas e alimentação de hidratantes, porém, parte dos funcionários da Reframax foram transferidos de função para atuar no vazamento da barragem.

"Cerca de 59 pessoas da Reframax estavam atuando no local, cerca de cinco estavam trabalhando no vazamento", contou. 37 funcionários da empresa morreram no rompimento.

Um dos funcionários que ajudou a contêr o vazamento foi o ajudante da Reframax, Antonio França Filho. O depoente afirmou que atuou no local carregando lama em um carrinho de mão. "Estava vazando água. Quando chegamos lá, funcionários da Vale já eatavam trabalhado. Ajudamos a conter o vazamento com areia e brita", contou Filho.

Os depoimentos confirmaram a acusação do ex-funcionário Fernando Barbosa Coelho, que depôs à CPI na semana passada. Coelho contou que o pai dele, morto no rompimento, teria alertado sobre o vazamento de água na barragem meses antes do rompimento.

Também na semana passada, a CPI havia convocado quatro funcionários da Vale, que tinham alegado ausência de risco na barragem, para uma acareação com Fernando Coelho, mas eles conseguiram um habeas corpus que os livrou da participação.

O relator da CPI, deputado André Quintão (PT), disse que os depoimentos corroboram as responsabilizações da Vale. "É uma serie de omissões, isenções que culminaram na morte de quase 300 pessoas".

Ainda segundo o deputado, o relatório final será entregue em setembro.

O diretor de operações da Alphageos Tecnologia de Operações - empresa contratada para fazer os drenos na barragem - Marcelo dos Santos, informou que a empresa interrompeu a instalação do 15º dreno na barragem depois que começou a sair água pela estrutura.

Segundo ele, a exigência da mineradora era que os drenos fossem instalados, pelo menos, a 100 metros de profundidade, porem, a 30 metros eles alegaram ser suficiente e que mais profundo não seria possível. "A gente interrompeu a perfuração quando começou a sair água do outro lado, fechamos com sacos de areia", contou.

Novos depoimentos

Os funcionários das empresas Alphageos Tecnologia Aplicada S.A. e Fugro In Situ Geotecnica também serão ouvidos ainda nesta tarde.

Na próxima quinta-feira (18), o coordenador de plano de ação de emergência da Vale, Marco Conegundes, será ouvido pela CPI. Além dele, outros cinco funcionários, que estavam com Fernando Barbosa Coelho, também serão ouvidos.

Procurada, a vale informou que  a  Barragem I  passava por constantes auditorias, e que nos dias 8 e 22 de janeiro, a estrutura passou por inspeções, entretanto, segundo a empresa, em nenhuma delas, foi detectado alguma anomalia que indicasse risco de rompimento.