Eles mal chegaram à adolescência e já têm o mundo nas mãos. Mais do que o inglês, o espanhol ou o italiano na ponta da língua, os cerca de 4.000 alunos de escolas bilíngues e internacionais de Belo Horizonte chamam a atenção pela maturidade e mente aberta para o novo. Seja pelo convívio diário com as mais diversas nacionalidades, seja pela verdadeira imersão cultural em que vivem em sala de aula, crianças e adolescentes têm aprendido desde cedo que, muito além de dominar matemática ou biologia, é fundamental, no mundo de hoje, respeitar a diversidade.
E é justamente essa formação diferenciada, mais do que o puro domínio de um segundo idioma, que tem atraído cada vez mais famílias às metodologias de ensino que aliam currículos estrangeiros ao brasileiro. Na capital, alguns colégios bilíngues operam com listas de espera crescentes, e há até uma escola que já tem 50 vezes mais alunos do que tinha na inauguração, há sete anos.
Apesar das diferenças metodológicas, escolas internacionais e bilíngues da capital têm em comum o alinhamento da grade obrigatória do Ministério da Educação brasileiro com currículos de outros países. A maior parte das disciplinas é ministrada na segunda língua, ficando o português para as aulas de literatura e língua portuguesa, além de história e geografia do Brasil.
Geralmente, as turmas são pequenas, e os horários, estendidos, sendo que música, teatro e outras artes funcionam como suporte pedagógico. Enquanto as escolas bilíngues utilizam o calendário brasileiro, as internacionais seguem o chamado calendário boreal, em que o ano letivo começa em agosto.
Experiências. Segunda-feira, 3 de agosto. Era início de tarde do primeiro dia letivo do ano. Crianças brasileiras se sentaram lado a lado de francesas, indianas, árabes, americanas, portuguesas, mexicanas, argentinas e italianas no gramado da Escola Americana de Belo Horizonte, no Buritis, na região Oeste. Juntas, elas ouviram a história narrada, em inglês, pela professora.
Com os ouvidos atentos e olhares curiosos, os pequenos já se mostravam à vontade naquele ambiente internacional. “Em uma aula de história, por exemplo, o compartilhamento de experiências e visões diferentes enriquece a aprendizagem”, avalia Jason Baxley, um dos coordenadores da escola.
Na outra ponta da cidade, uma turma do quinto ano do Colégio Espanhol Santa Maria, no Cidade Nova, na região Nordeste, recitava com desenvoltura um diálogo entre Dom Quixote e Sancho Pança, durante ensaio para a peça teatral que apresentarão aos pais. “Como a gente já é acostumado com o espanhol desde pequeno, acaba ficando natural”, diz a estudante Ana Luísa Bastos, 10.
Mãe de João Pedro, 11, e Eduardo, 8, que há seis anos estudam na canadense Maple Bear, no Santa Lúcia, na região Centro-Sul, a publicitária Carla Figueiredo, 47, reconhece os benefícios do domínio da língua estrangeira, mas ressalta que o bilinguismo não foi o fator primordial na decisão pela escola. “O que me encantou foi a proposta pedagógica canadense, de educação construtivista, que não ensina o conteúdo pelo conteúdo, mas a aplicação no dia a dia. O professor é facilitador e parceiro na construção do conteúdo, e os alunos aprendem fazendo”.
Doutora em educação, Regina Scarpa, diretora pedagógica da Escola Vera Cruz, em São Paulo, explica que a diferença de um curso de línguas tradicional e da escola bilíngue está no tipo de interação. “Mais do que ficar decorando aspectos gramaticais, o que favorece a aprendizagem de leitura, escrita, escuta e oralidade é a capacidade de usar a língua nas diferentes situações do dia a dia. Nessas escolas, o aluno é estimulado ao ser envolvido em situações reais de comunicação”.
Custo é alto, mas vale a pena, dizem pais de alunos
Elogiadas por pais e alunos, escolas bilíngues costumam cobrar mensalidades salgadas, que podem ultrapassar os R$ 3.000. Em muitos casos, em função do horário estendido, material didático importado e possibilidade de ensino integral, quase sempre o desembolso está acima da média das escolas tradicionais. E o custo-benefício vale a pena? “Vale cada centavo”, defende Carla Figueiredo, 47, mãe de alunos da Maple Bear. “A maior herança que posso deixar para meus filhos é a educação. Quero criá-los como cidadãos do mundo”.
Doutora em educação, Regina Scarpa pondera que escolinhas de inglês também têm um custo, e é preciso analisar bem as propostas de cada instituição. “A escola bilíngue pode ser significativa na aprendizagem, mas também pode ser uma ‘fazeção’ de coisas para preencher tempo. Antes de matricular (o filho), o pai precisa perguntar o que está sendo proposto”.