Estudantes de aviação não estão conseguindo realizar aulas no aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte. O impedimento se dá pela falta de hangar disponível e é reflexo do fechamento do terminal Carlos Prates, na região Noroeste da capital mineira. O fato foi narrado em audiência pública na Câmara Municipal, que tratou, nesta quinta-feira (13), sobre os impactos do encerramento das atividades do aeródromo. 

O aeroporto da Pampulha chegou a ser apontado como a alternativa para os estudantes não terem de se deslocar para outras cidades mineiras. “Já  tínhamos alertado que atualmente não temos infraestrutura pronta num raio de 150 km de Belo Horizonte que poderia receber as escolas. Tínhamos quase 500 alunos que estão sem saída”, disse o presidente da associação VoaPrates, Estevan Velasquez.

O presidente da entidade pontuou que no Carlos Prates tanto alunos de forças de segurança, quanto do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) utilizavam o espaço visando a formação. “Na Pampulha, por exemplo, não existe um hangar disponível para que as aulas aconteçam e nas demais cidades não há estrutura. Simplesmente fomos deixados de lado. As aeronaves estão jogadas na Pampulha, pois há uma regra que a aeronave de instrução não pode operar”.

Diante do impasse, restou aos alunos interromperem os estudos. “Alunos estão com a formação paralisada, e a perspectiva é terrível. Eles não podem ir para o interior. Imagina só a situação de um estudante do Fies que trabalha de manhã e à noite e só tem o fim de semana para realizar as aulas. Pará de Minas, que poderia ser uma das opções, é muito complicado. Na Pampulha, a infraestrutura não comporta os alunos que estão desesperados e terão a formação paralisadas”, alertou.

Velasquez, que é professor de aviação, destaca que o aeroporto Carlos Prates foi criado visando a formação profissional. “Mais de 85 mil aviadores já se formaram por lá. Me diga qual outra estrutura, além do Campo de Marte (SP), formam tantos técnicos”.

Desespero

Nathan Barreto é uma das pessoas que tiveram que suspender os estudos. “Eu não poderia imaginar que passaria por isso. O sentimento que tenho é da mais absoluta certeza de que o que estão fazendo com o Prates é traumático, desumano e desnecessário. Estou fazendo o curso há três anos e não vou conseguir concluir minhas horas”, desabafou.

O estudante contou estar endividado e sem saída. “Na Pampulha nós não conseguimos fazer as aulas, pois é preciso homologação, e isso não se faz da noite para o dia. Estou a cegas, sem dormir, vivo sob intensa pressão. Anos de estudo devendo um absurdo tanto para o banco quanto para o meu patrão”.  

Vereadores na bronca 

A audiência aconteceu na Comissão de Mobilidade Urbana, Indústria, Comércio e Serviço após requerimento assinado pelos vereadores Braulio Lara (Novo), Flávia Borja (PP), José Ferreira (PP), Irlan Melo (Patri) e Wesley Moreira (PP). Lara se mostrou contrário à desativação do terminal.

“Não se desativa aeroporto. Os acidentes foram usados, mas podem acontecer a qualquer tempo. Fazer projeto em área que não é pública é uma insanidade”, criticou o parlamentar sobre as iniciativas da prefeitura. “Acho temerário desativar o aeroporto”, complementou.

Na tentativa de tentar reverter a situação, Moreira disse que vai propor uma moção de repúdio contra o fechamento. “Quero externar a minha preocupação com os 500 empregos envolvidos no aeroporto, com toda estrutura que ali funciona e mostrar minha indignação de como o processo [de fechamento] está sendo feito. Vou levar a iniciativa aos demais vereadores que são contrários ao fechamento e vamos torcer para que tenha alguma mudança porque Belo Horizonte está retroagindo”, afirmou.

Uma das representantes da prefeitura na audiência foi a assessora da secretaria de Governo, Nathália Araújo. Ela comentou sobre a possibilidade da permanência das escolas de aviação.

“Não podemos garantir a reabertura do aeroporto, mas há conversas em curso que possibilitam a permanência das escolas. O prefeito não teria a possibilidade de impedir o fechamento, pois não estamos falando de documentos municipais, mas de deliberação da União. É ela que administra a aviação no país”, disse.

Nathália destacou que a prefeitura vem acolhendo as propostas apresentadas com “sensibilidade”. “É sempre muito importante a escuta sobre um imóvel que pode vir a se integrar no patrimônio da cidade. O projeto urbanístico da prefeitura é inovador e isso se faz com escuta, democracia e ouvindo os interessados”. 

Ao final da audiência, foi informado que um grupo de trabalho poderá ser criado com o objetivo de estabelecer um canal de comunicação com a prefeitura para que de forma técnica se trabalhe saídas para manter o aeroporto e ter outros equipamentos funcionando naquela área.