A família do médico Alberto Cavalcanti promete acionar a Justiça para manter em operação o aeroporto Carlos Prates, na região Noroeste de Belo Horizonte. Os familiares alegam que esse era um sonho do patriarca, e que o terreno havia sido doado por ele com essa condicional. "Se o terreno for utilizado com outro objetivo, vamos pedir para voltar para a gente", afirma o designer Geraldo Dias Coelho Filho, de 53 anos, neto de Cavalcanti, apontado como dono da área de 547 mil metros quadrados, onde, até o começo deste mês, funcionou o terminal.

Conforme o neto de Cavalcanti, o espaço havia sido doado para o poder público com a finalidade de que a área pudesse ser utilizada somente para o funcionamento de um aeroporto. "Meu avô até construiu uma arquibancada para que os internos do hospital pudessem ver avião subir e descer. Era uma forma para que eles pudessem se distrair", relata o designer.  

Ainda segundo Geraldo, o avô adquiriu a área para a instalação de um sanatório, que precisou ser transferido do Centro da capital para a região onde, atualmente, funciona o hospital com o nome do patriarca. "Como tinha muito movimento no Centro, as pessoas tinham medo de que as doenças dos pacientes fossem contagiosas", explica.

Geraldo Filho afirma que a família iniciou uma varredura nos cartórios da capital em busca de documentos que comprovem a doação do espaço com este objetivo. Além das escrituras, eles esperam reunir jornais da época e depoimentos de algumas pessoas que possam comprovar o repasse com essa condicional. "Naquela época, tudo era feito no fio do bigode, não tem essa documentação como se tem hoje. Mas estamos atrás de tudo isso", revela.

Lídia Maria, de 98 anos, que é tia-avó de Geraldo Filho e irmã de Alberto Cavalcanti, é uma das testemunhas que deverá fazer parte do processo. "Ela está lúcida e sabe dessa história", conta o designer. Além dela, amigos dos familiares e ex-internos do hospital que leva o nome do patriarca deverão testemunhar no caso. "A gente sabe que essa é uma história real, não é algo inventado. A gente tem feito essa pesquisa para reunir todos esses relatos", completa.

O espaço onde funcionou o aeroporto Carlos Prates está localizado ao lado do Hospital Alberto Cavalcanti (HAC), no bairro Padre Eustáquio, região Noroeste da capital. A unidade de saúde foi inaugurada em 1936, com o nome Sanatório de Minas Gerais, com a finalidade de tratar pessoas com tuberculose. Oito anos depois, em 1944, o terminal foi inaugurado. 

Prefeito de BH questiona desejo da família

O prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), contestou o questionamento da família, que pede a manutenção do aeroporto Carlos Prates, com a justificativa de manter o desejo de Alberto Cavalcanti. "Um assunto que foi encaminhado há 80 anos. Eu não sei o que é isso, estou sabendo disso agora. Se tiver algum documento, nós vamos discutir na Justiça. Isso aí é bobagem, o interesse da cidade é maior que o pessoal", disse Noman, durante uma visita ao terreno, realizada nessa terça-feira (18).

Acompanhado do renomado arquiteto e urbanista Gustavo Penna, o prefeito da capital esteve na área do antigo aeroporto Carlos Prates para avaliar o espaço e as possibilidades do que pode ser feito no local. Conforme o prefeito, a ideia é utilizar o terreno para construir um “novo bairro”, com um grande espaço de lazer, com parque, área verde, espaço para crianças brincarem e quadras esportivas. Também poderão ser feitas mais de mil moradias populares no local, além de uma unidade de saúde.