Pandemia de Covid-19

Hospitais particulares de BH lidam com escassez de recursos e 80% de ocupação

Segundo presidente da Central dos Hospitais, unidades particulares em BH estão com média de 80% de ocupação dos leitos de UTI, e equilíbrio financeiro tornou-se um problema

Por Lara Alves
Publicado em 14 de julho de 2020 | 13:17
 
 
A capital paulista está com 91% dos leitos de UTIs da rede municipal ocupados Foto: Miguel SCHINCARIOL / AFP

Desequilíbrio de despesas, malabarismos para contornar a escassez de remédios no mercado e aumento na taxa de ocupação de leitos são alguns dos contratempos encontrados por hospitais particulares de Belo Horizonte e unidades da região metropolitana no combate à pandemia de Covid-19.

Os problemas tornaram-se ainda mais complicados de um mês para cá, quando houve um aumento na demanda por leitos de UTI e enfermaria, justo quando medicamentos para intubação e sedação rarearam no mercado farmacológico. Apesar do cenário conturbado e da aproximação do pico estimado para acontecer nesta quarta-feira (15), a situação dá sinais de que pode se aclarar neste mês de julho, segundo o doutor Reginaldo Teófanes, que está à frente da Central dos Hospitais de Minas Gerais.

“Ainda está tudo confuso e ninguém tem certeza de nada. Os hospitais privados passaram por um período com ocupação baixíssima no mês de maio, você podia abrir uma unidade e encontrá-la totalmente deserta. Já no mês passado, em junho, a ocupação hospitalar passou a ser muito alta. Há 30 dias, também lidávamos com uma falta gigantesca de medicamentos no mercado, mas hoje você já consegue encontrá-los com certo aperto e tenta administrar o estoque”, detalha ele, que também é diretor do Hospital Santa Rita em Contagem, na região metropolitana.

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De acordo com o médico, a taxa de ocupação dos leitos de UTI na rede particular de Belo Horizonte está próxima de 80%. O indicador é um pouco menor em relação a leitos de enfermaria, que estão com uma ocupação aproximada de 70%. “Nos últimos dias, a ocupação está se mantendo em uma média. Claro que alguns CTIs de hospitais estão cheios neste momento, mas em outros há vagas, e esta é a ordem atual”, esclarece. O grande alívio na ocupação dos hospitais pode ser um reflexo do recuo da abertura econômica em Belo Horizonte. “No mês passado, há dez ou 15 dias, os hospitais estavam mais cheios. Hoje parece que deu uma arrefecida, provavelmente em função do abre e fecha, não apenas na capital, como também nos municípios da região metropolitana. Em relação a dez dias atrás, houve com certeza melhora”, diz.

Ainda segundo Reginaldo Teófanes, a questão dos medicamentos exigiu uma movimentação de procura mais intensa pela rede hospitalar. “O mercado ainda não está equilibrado, mas não há tanta falta quanto havia há um mês. Alguns hospitais estão optando por cancelar cirurgias eletivas, para manter um estoque estratégico desses medicamentos”, explicou.

Um problema para unidades de saúde é que a elevada demanda por remédios anestésicos para sedação gerou também um aumento nos valores cobrados. “Hoje encontramos preços muito mais altos, como aconteceu com os equipamentos de proteção individual no começo da pandemia, quando percebemos um aumento de até 500% em alguns itens. Os medicamentos estão mais caros e, quando você os encontra precisa fazer uma ginástica porque normalmente não são exatamente os remédios que o hospital já usava, mas outros com um nome mais comercial, por exemplo. Houve uma melhora, mas ainda se compra com dificuldade”, relatou.

Percalços financeiros

O encarecimento de itens de segurança e medicamentos básicos para as unidades de saúde está entre os principais obstáculos encontrados por alguns hospitais particulares para administrar as contas. A ocupação dos leitos por pacientes com diagnóstico confirmado para Covid-19 ou suspeita da doença, segundo o presidente da Central dos Hospitais, também entra para a lista. 

“Na verdade, não existe equilíbrio nenhum. Os hospitais nunca trabalharam com esse nível de exigência em relação a precaução. Gastamos muito mais com determinados tipos de medicamento, e a pandemia requer um aumento, por exemplo, na equipe de limpeza. Além de um gasto com pessoal, existe também um gasto com os leitos. Em alguns quartos, por exemplo, que receberiam dois pacientes, acabam sendo isolados com apenas um que tem suspeita de Covid-19”, detalha.

De acordo com ele, manter o isolamento nas unidades de saúde é especialmente caro. “O isolamento é caro tanto em função do equipamento de proteção necessário que os técnicos, enfermeiros, médicos e fisioterapeutas que ali acessam necessitam quanto do ponto de vista humana. Às vezes é necessário isolar uma ala inteira para pacientes com Covid-19”, comenta. Ele defende que uma aliança entre o público e o privado seja o mais importante neste combate à pandemia. 

“Nós estamos tratando de gente, e é necessário que o público se una ao particular para garantir o tratamento das classes que mais precisam. Não há como separar, é hora de sentar e discutir. (No caso dos) hospitais de campanha, por exemplo, seria muito mais razoável usar um leito particular, no qual já há recursos humanos para tratar do paciente que uma cidade nova. Se um hospital que já está funcionando encontra problemas, como o afastamento de funcionários com sintomas suspeitos, redução da equipe, imagina esses que são de campanha e precisam contratar gente nova…”, conclui.