Um jovem negro de 18 anos foi morto durante uma operação policial realizada nesta segunda feira (28), no Aglomerado da Serra, na região Sul de Belo Horizonte. O sargento que efetuou os disparos foi preso em flagrante e o caso está sendo acompanhado pela corregedoria da Polícia Militar. Na versão dos policiais registrada no boletim de ocorrência, o sargento efetuou disparo contra Ryan Pablo da Silva Martins Ribeiro após ele e outros amigos entrarem em luta corporal contra os militares. Já a família do jovem morto contesta a versão e diz que o rapaz foi atingido de forma covarde, com um tiro nas costas e outro na cabeça.
O caso gerou revolta e um ônibus acabou sendo incendiado por criminosos na tarde desta terça-feira (29) como forma de protesto.Um suspeito foi preso e um adolescente apreendido.
Ônibus é incendiado após morte de jovem por PMs no Aglomerado da Serra pic.twitter.com/q4IqU4z9WU
— O Tempo (@otempo) June 30, 2021
A irmã de Ryan, a estudante de direito Ana Lívia da Silva, 22, conta que ficou sabendo que o irmão foi atingido por tiros após o outro irmão mais novo dela ligar para contar o que havia acontecido. “Ele já tinha sido levado para o pronto socorro quando fiquei sabendo. Cheguei lá e descobri que ele estava morto”, explicou.
Na visão dela, a polícia agiu de forma covarde e ressalta que não é a primeira vez que isso ocorre no Aglomerado da Serra. “Porque não levou o menino preso? Eu não estou passando a mão na cabeça do meu irmão, ele vendia droga sim, mas um tiro cabeça? Um menino que acabou de fazer 18 anos. Como um policial dá um tiro em uma pessoa que está desarmada, com as mãos por alto? Isso pra mim não é preparo de policial. É muita covardia e não é a primeira vez que acontece”, lamenta Ana Lívia.
Ela conta que a mãe está muito abalada com a situação. O rapaz foi enterrado na tarde desta terça-feira(29), no Cemitério da Saudade, no bairro de mesmo nome, na região Leste de Belo Horizonte.
Versão da polícia
O boletim de ocorrência registrado pela Polícia Militar dá conta de que Ryan, e outros quatro suspeitos estavam em um beco, com rádio comunicadores e sacolas. Dois militares, sendo um soldado e um sargento relataram ter pedido que o jovens ficassem parados, pois passariam por uma abordagem. O pedido não teria sido acatado pelos homens e um dos suspeitos teria iniciado uma lita corporal com o sargento.
Ainda segundo a ocorrência, durante a luta, Ryan teria dado pisões no braço direito do militar, para que ele largasse a arma. O policial, em seguida, teria efetuado um disparo. Logo depois, segundo o boletim, como as agressões continuavam, um segundo disparo foi efetuado e atingiu Ryan.
O rapaz foi levado para o Pronto Socorro do Hospital João XXIII, mas não resistiu aos ferimentos e morreu na unidade médica. Os militares ainda ressaltaram que na sacola que estava com Ryan foi possível apreender 180 buchas de maconha, um celular e dinheiro.
Tanto o sargento quanto o soldado precisaram receber atendimento médico devido a ferimentos pelo corpo.
Protesto
Em protesto sobre a morte de Ryan, criminosos incendiaram na tarde desta terça-feira (29) um ônibus da linha 2102 (Gameleira/Serra), dentro do aglomerado. O motorista contou para a polícia que estava manobrando o veículo, quando homens entraram, pediram que todos saíssem e atearam fogo no ônibus.
Após rastreamento na região, os policiais prenderam um homem de 26 anos, que foi encontrado próximo a uma moto com um galão próximo ao corpo. Um adolescente de 17 anos, também suspeito de participar do incêndio ao ônibus também foi detido. A ocorrência foi encerrada na Delegacia de Plantão III (Deplan III) da Polícia Civil, no Barreiro.