macacos

Limpeza dos rios não foi feita  

Ambientalistas apontam prejuízos como extinção da vida em rios e contaminação humana

Por Aline Diniz e Bárbara Ferreira
Publicado em 12 de setembro de 2014 | 03:00
 
 
Macacos. Prefeitura garante que tem atuação rigorosa junto às mineradoras, mas não repassou dados de fiscalização e multas MOISES SILVA / O TEMPO

A extinção da vida em parte da bacia do ribeirão Macacos, a depredação das matas ciliares e a possibilidade de uma contaminação humana por metais pesados ainda são marcas presentes na vida dos moradores do distrito de São Sebastião das Águas Claras, conhecido como Macacos, na região metropolitana de Belo Horizonte. Os problemas ambientais da região são resultado do rompimento de uma barragem de dejetos de mineração da empresa Rio Verde, em 2001. Treze anos após a tragédia que deixou cinco mortos, as medidas que deveriam ser aplicadas para minimizar os prejuízos ambientais ainda não foram concluídas.

O plano de recuperação foi proposto pela própria empresa e consistia, principalmente, no desassoreamento dos cursos d’água afetados pelos rejeitos – o assoreamento elimina as matas ciliares, a fauna e a vegetação nativas. De acordo com especialistas, sem as ações, os prejuízos podem perdurar por muitos anos. “A vida nesse rio morreu. Há um volume muito grande de resíduos até hoje, e sua retirada é praticamente impossível”, explica a ambientalista Simone Bottrel, do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam).

Simone conta que a empresa não retirou nem a metade dos resíduos que caíram no curso d’água, o que pode prejudicar também os moradores da região. Como era uma área de mineração, havia muitos metais pesados, e pode ser que esses resíduos não consigam ser totalmente filtrados no tratamento da água.

O morador Otávio Gonçalves Freitas, que na época do acidente era membro do Copam, concorda com a ambientalista. “Não vislumbrei nenhuma melhora, já que não houve o desassoreamento dos rios nem a recuperação das matas ciliares. A empresa não ofereceu uma contrapartida socioambiental para a comunidade.”

Segundo a Prefeitura de Nova Lima, há uma “atuação rigorosa”, em conjunto com o Estado, para exigir das mineradoras o cumprimento das normas ambientais. Com relação à Vale, que atualmente trabalha na área que antes era da Rio Verde, o órgão afirma que a empresa tem cumprido todas as normas. A Vale informou que faz o monitoramento permanente da qualidade da água e do ar, e da vibração, e que não há qualquer alteração dentro do que foi licenciado com os órgãos ambientais.

A reportagem de O TEMPO entrou em contato com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente para ver se houve um acompanhamento das obras de recuperação, mas, até o fechamento desta edição, não havia tido retorno. A reportagem também entrou em contato com os atuais donos da Rio Verde em três números de telefone diferentes, mas ninguém foi encontrado.

Relembre o caso

Acidente. A barragem da mineração Rio Verde se rompeu em junho de 2001, em Macacos. Cinco operários morreram no acidente, que atingiu 430 mil m² e assoreou 6,4 km do leito do córrego Taguaras, na bacia do rio Macacos. 

Dinâmica. A terra de uma encosta formada por rejeitos de mineração deslizou, formando um vale de lama. Em alguns trechos, a terra chegou a uma altura de 15 m. Na época, a estrada que dava acesso ao distrito ficou interditada por cerca de dois meses. 

A mineradora. O terreno que era explorado pela mineradora Rio Verde ficava às margens da BR–040, próximo ao posto Chefão. O local coberto pela lama durante o acidente era formado por vegetação e fica entre o trecho da rodovia federal e da MG–030, que liga Nova Lima a Belo Horizonte.

Memórias
Na rua principal de Macacos, em uma casa simples, Nilza Faria de Souza, 71,se lembra do acidente que chocou a cidade em 2001. Ela é mãe de Ricardo de Souza, um dos operários que sobreviveram ao rompimento da barragem. “Ele saiu da empresa às 17h para voltar para casa e deu carona para um amigo. Na hora do acidente, uma avalanche de lama invadiu a pista e atingiu o caminhão em que eles estavam. Os dois empurraram o para-brisa e se salvaram. Foi Deus quem quebrou aquele vidro”, conta, emocionada. Hoje, ele continua dirigindo caminhões e trabalha, em parceria com o irmão, no ramo de materiais de construção.

Rio das Velhas e abastecimento de água
O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas, Marcus Polignano, foi nesta quinta ao local do acidente e afirmou que os rejeitos de minério poderão atingir o rio das Velhas e, assim, o abastecimento da capital. O material afetou o córrego do Silva, que deságua no rio Itabirito, que, por sua vez, desemboca no rio das Velhas. Técnicos da Copasa, por sua vez, estiveram no local nessa quarta e descartaram o risco de contaminação e de prejuízo ao abastecimento de água de Belo Horizonte.

A mineradora
Procurados nesta quinta pela reportagem, funcionários da Herculano Mineração afirmaram que a empresa só se pronunciaria por meio de nota, o que não aconteceu até o fechamento desta edição. Nessa quarta, a mineradora afirmou que lamenta o ocorrido e que está apurando as causas do acidente. A empresa ainda disse estar dando suporte às famílias das vítimas e tomando medidas para minimizar os danos.

Corpos de vítimas são sepultados sob forte emoção
Os corpos das duas vítimas do acidente na mina em Itabirito, na região Central do Estado, foram enterrados nesta quinta. As famílias do motorista Cristiano Fernandes da Silva, 32, e do topógrafo Reinaldo da Costa Melo, 68, se reuniram na manhã desta quinta para velar os corpos, sob clima de forte emoção. A família de Melo preferiu não dar entrevistas. Um sobrinho dele, que pediu para não ser identificado, informou que todos estavam “passando por um momento difícil”. Ele foi enterrado no Cemitério Parque da Colina, em Belo Horizonte.

Já o motorista foi enterrado por volta das 12h, no distrito de Belo Vale, na zona rural de Moeda, na região Central de Minas. Para o irmão da vítima, Pedro Geovani, mesmo com todo o sofrimento, eles receberam apoio de vizinhos, amigos e familiares. Foi uma cerimônia simples, com custos arcados pela própria família.