'Entre-lugares'

Livro retrata o drama de refugiados que vivem em Minas

Obra de jornalistas terá distribuição gratuita nesta quinta-feira (19)

Por Letícia Fontes
Publicado em 19 de setembro de 2019 | 03:00
 
 
Crise tem levado venezuelanos a buscarem sobrevivência no Brasil Antonello Veneri/AFP

“Tive que escolher entre comprar comida ou roupa para os meus filhos. Acabou que eles não tiveram mais o que vestir. Muitas vezes só tínhamos sardinha para comer”, conta a advogada venezuelana Mariana Sarabia, 34, com a voz embargada, ao explicar as razões pelas quais deixou a capital Caracas, há seis meses, e veio para o Brasil com o filho caçula, de 7 anos. O marido e o filho mais velho, de 15 anos, ainda estão na Venezuela.

Mariana ficou três meses dormindo em uma praça e outros três em um abrigo na saturada Boa Vista, capital de Roraima, antes de embarcar para Belo Horizonte, onde atualmente trabalha como manicure em um salão de beleza.

A advogada chegou neste ano a Minas junto com ao menos 200 outros venezuelanos, segundo a Cruz Vermelha. Conforme o Diagnóstico de Migração do Estado, havia 183 refugiados e/ou solicitantes de refúgio até o ano passado. Se antes a maioria era de sírios (60,7%), agora, conforme a Cruz Vermelha, a Venezuela lidera entre os refugiados. Pelo menos 70% deles vivem na capital.

Histórias semelhantes à de Mariana estão no livro “Entre-lugares”, das jornalistas Paula Dornelas e Roberta Nunes, que será lançado nesta quinta-feira (19) na capital. “É preciso desconstruir um preconceito da sociedade e do governo. Muitos brasileiros acham que eles (refugiados) roubam os empregos, trazem inúmeros problemas, mas é importante lembrar que eles possuem uma história, não são só números”, explica Roberta. Ao todo, 11 histórias serão mostradas na obra.

“Minha família não consegue comer”

Apesar de a Venezuela viver uma longa crise econômica e política, com desabastecimento, hiperinflação e aumento da violência, Mariana ainda sonha em reencontrar toda a família no seu país de origem. “Deixei a Venezuela fisicamente, mas mentalmente continuo lá. Meu coração ficou. Minha família não consegue comer”, diz.

Responsável por receber a maioria dos refugiados em Belo Horizonte, o padre Júlio César Gonçalves Amaral conta que não existe um perfil dos imigrantes. Atualmente, a arquidiocese da capital conta com duas casas de acolhimento. No local, os refugiados podem ficar por três meses e recebem alimentação, roupa, cursos de idioma e qualificação.

Saiba mais

Gratuito. Lançamento seránesta quinta-feira (19), às 18h, na PUC Minas (praça da Liberdade). Serão distribuídos 200 livros gratuitamente.