Situação de emergência

Minas vai reduzir cirurgias eletivas para enfrentamento ao coronavírus

Também está prevista a compra de kits de CTI e de leitos privados em caso de necessidade; não há medidas restritivas de massa, mas orientações podem mudar

Sex, 13/03/20 - 11h25
Funed realiza testes para coronavírus | Foto: Rubia Cely / Funed

A redução e até mesmo a suspensão de cirurgias eletivas é uma das medidas previstas pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) para o enfrentamento ao coronavírus em Minas Gerais. O Estado tem, atualmente, 2.795 leitos de terapia intensiva, sendo 2.013 adultos e 782 pediátricos – 73% deles estão ocupados, o que significa que há 754 leitos disponíveis para pacientes com a doença.

"O nosso maior gargalo é a utilização de leito de UTI. Na medida em que o cenário mudar e a situação piorar, vamos precisar de uma organização adequada para dar conta de atender todas as pessoas", afirma o subsecretário de políticas e ações de saúde, Marcílio Dias Magalhães. "No coronavírus, a pessoa fica em casa, sendo acompanhada e evitando contato ou, se tiver que ir para o equipamento de saúde, provavelmente, numa situação mais aguda, fica no CTI", diz. A estimativa é que 80% dos casos da doença sejam leves e possam ser acompanhados pela atenção primária.

Segundo Magalhães, a ideia é deixar para depois cirurgias que podem ser feitas daqui a dois ou três meses. A compra de kits que permitem utilizar leitos comuns ou semi-intensivos como de CTI e de leitos privados também está sendo estudada. "A parceria com a rede particular sempre é necessária, com certeza vamos precisar trabalhar na compra de leitos, se houver disponibilidade. Se não tiver, vamos ter que otimizar e potencializar os leitos existentes, para que tenham os cuidados intensivos necessários", pontua.

Embora o Estado recomende à população evitar aglomerações e contato próximo, como abraço e aperto de mão, até o momento, não há previsão de medidas restritivas de massa, como a suspensão de aulas e eventos. No entanto, as orientações podem mudar ao longo dos próximos dias. "Provavelmente na semana que vem vamos evoluir para outra fase e vamos orientar o cancelamento de shows e atividades culturais e esportivas com grandes aglomerações", diz.

Nesta sexta-feira (13), o governo de Minas Gerais decretou situação de emergência em saúde pública no Estado em decorrência do coronavírus. A medida permite a realização compulsória de exames médicos, testes laboratoriais, coleta de amostras clínicas, vacinação e tratamentos médicos relacionados à doença.

O decreto também dispensa a abertura de licitação para a aquisição de bens, serviços e insumos de saúde destinados ao enfrentamento do vírus, além de criar o Centro de Operações de Emergência em Saúde (Coes) para o monitoramento da situação.

"A publicação do decreto nos auxilia muito, principalmente por não ter que passar pelas medidas burocráticas de processos de compra e contratação. Ele permite o incremento de recursos humanos, o fortalecimento dos serviços e a aquisição de bens e serviços de uma forma mais ágil, como uma pandemia exige", afirma a diretora de vigilância de agravos transmissíveis da SES-MG, Janaína Fonseca Almeida.

Estado se prepara para "pior cenário", mas não fala números

Segundo Janaína Almeida, o governo trabalha com o pior cenário em relação ao coronavírus, mas ainda não possui uma estimativa de quantos casos da doença podem ocorrer no Estado nessas circunstâncias. "O pior cenário seria uma incidência muito elevada, com impacto excessivo na assistência, no número de leitos e nas portas de entrada, o serviço público iria sentir esse aumento de demanda de forma muito considerável", explica a diretora de vigilância de agravos transmissíveis da SES-MG.

"Ainda não temos estimativa do ponto de vista estatístico, mas estamos seguindo as projeções da Organização Mundial da Saúde (OMS) de que podemos ter um incremento de dez vezes ou mais no número de casos nas próximas três semanas. A curva é crescente", acrescenta.

Ela destaca que a letalidade da doença, no geral, é baixa, mas é maior em idosos e pessoas com comorbidades, principal preocupação do Estado. Como medida de cuidado com esses grupos, Janaína cita a antecipação da campanha de vacinação contra Influenza, prevista para começar em 23 de março. "Se a gente proteger nossos idosos e doentes crônicos da Influenza e de outros vírus respiratórios, se eles contraírem coronavírus, a chance do prognóstico ser melhor é muito grande", pontua.

Como vírus respiratórios se disseminam com mais facilidade em locais frios, Janaína diz que o fato de o coronavírus ter chegado ao Brasil no verão pode ser considerado uma vantagem. "É o tempo que temos para tentar combater, vamos enfrentar essas três semanas em uma fase em que ainda não temos inverno rigoroso. Isso pode ser um facilitador para evitar a disseminação", afirma. O inverno se inicia em 20 de junho.

Minas Gerais tem, até o momento, dois casos confirmados de coronavírus. Um deles foi confirmado ontem e trata-se uma mulher de 38 anos, de Ipatinga, no Vale do Aço. Ela viajou para Israel em 20 de fevereiro e retornou ao Brasil no dia 29 do mesmo mês. Ele teve tosse, febre e dor de garganta e está em isolamento domiciliar.

A primeira paciente a ser diagnosticada com a doença no Estado é de Divinópolis, no Centro-Oeste mineiro. A mulher, de 47 anos, voltou de uma viagem a Itália em 2 de março e apresentou coriza e mialgia. Ela também está em isolamento domiciliar.

Outros 289 casos suspeitos de coronavírus estão em investigação em Minas Gerais, sendo 105 em Belo Horizonte.

Exames somente para casos suspeitos

Atualmente, apenas pessoas com suspeita de coronavírus podem realizar exames para testar a doença. Quem tem sintomas da doença (febre, tosse e dificuldade para respirar) e viajou para o exterior ou quem tem sintomas e teve contato com casos suspeitos ou confirmados da doença é considerado suspeito.

Quando passar a haver transmissão comunitária em Minas Gerais, essa rotina deve ser alterada. "A gente não vai conseguir fazer exame de todo mundo. Vai chegar um momento em que a gente começa a confirmar os casos por critério clínico epidemiológico. Se teve contato e sintoma, nem é feito exame, já pode ser considerado caso confirmado", explica Janaína Almeida.

Para a coordenadora do Centro de Operações Emergenciais em Saúde de Minas Gerais (Coes), Rejane Letro, o fato de a Fundação Ezequiel Dias (Funed) ter passado a realizar os exames para a identificação do coronavírus, desde esta quinta-feira (12), vai trazer mais agilidade. "Isso possibilita resultado mais rápido para o setor de saúde e vigilância e para o Coes, que precisa das informações para analisar e tomar as medidas necessárias", diz.

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