Conversas iniciadas em um grupo de Wathaspp e, em duas semanas, um encontro, que deu iniciou ao namoro. Um relacionamento amoroso que começou em março deste ano com direito a presentes e declarações e terminou de forma trágica para a atendente Elisângela Vespermann de Souza, de 30 anos, assassinada e colocada dentro de uma geladeira no apartamento em que ela morava no bairro Planalto, região Norte de Belo Horizonte. O autor do crime é o ex-namorado, de 26, que acabou preso. Nesta segunda-feira (20), a Polícia Civil deu detalhes do feminícidio e afirmou que a vítima foi monitorada pelo homem por mais de dez horas antes de ser morta por asfixia.

O corpo foi encontrado na última quarta-feira (15), mas o crime aconteceu no dia 8. "Ele dormiu no apartamento do dia 7 para o dia 8 de julho. Na parte da manhã, eles saíram do imóvel e ele a levou para o trabalho em um fast food de um mini shopping. Eles almoçaram juntos no meio da tarde e o autor ficou lá até o início da noite, quando a vítima finalizou o trabalho", explicou a delegada Ingrid Estevam. 

 Durante todo o tempo, o casal, até então, mantinha contato por telefone. A situação chamou a atenção de outros funcionários do centro de compras, que resolveram acionar a Polícia Militar. 

"Uma pessoa que não tem nada para fazer da vida, ficou aquele tempo todo lá já era de causar estranheza. Os militares foram até o local, indagaram se ela o conhecia, a vítima disse que era o namorado dela. Os policiais o revistaram e saíram logo em seguida. O homem permaneceu no local. As testemunhas contaram que neste dia, a vítima apresentou sinais diferentes. Ela gostava de andar muito bem arrumada. Mas neste dia, elas (testemunhas) notaram que ela foi embora de uniforme. No começo da noite, eles foram para um ponto de ônibus. Como o coletivo não passou, pegaram um carro de aplicativo até a porta do prédio", contou a delegada. 

Uma câmera de segurança instalada em frente ao imóvel flagrou Elisângela e o homem entrando. As imagens mostram que ela entrou na frente. 

Lanche, banho, relação sexual e assassinato

Para a polícia, o suspeito contou que eles chegaram e pediram um lanche. "Ele conta que os dois depois tomaram banho e tiveram relações sexuais e, ao final disso tudo, a vítima resolveu manifestar o interesse em findar o relacionamento. Ele, provavelmente inconformado, pega o pescoço dela e a mata asfixiada. Vendo aquela situação e para ocultar o cadáver, ele abre a geladeira, tira todas as grades, pega o corpo, dobra, enfia na geladeira, passa durex para a porta não abrir, vira para encostar na parede e deixa ligada. Pega as coisas dele que estavam no apartamento e sai. Durante depoimento, ele negou envolvimento na morte da vítima", detalhou a policial. 

O criminoso ligou para um parente para buscá-lo e eles seguiram para Sete Lagoas, na região Central de Minas, onde o pai dele mora. 

Ex se passou por vítima para justificar falta ao trabalho

Elisângela trabalhava na escala de 12 X 36 e deveria retornar ao trabalho no dia 10. No dia de retorno, ele se passou pela vítima para mandar uma mensagem à gerente. No texto, o homem escreveu, ainda se passando por ela, que não ia trabalhar por estar cuidando da avó que morava no interior. O jovem chegou a mandar fotos, retiradas da internet, para fingir que era o local em que a vítima estava.

"O ex-marido enviou celulares para a vítima pelos Correios, mas as encomendas voltaram. Sem ter notícias, ele foi ao prédio e conversou com vizinhos no dia 15. Esses outros moradores notaram a falta dela porque a vítima sempre ouvia música alta e há dias isso não acontecia. O ex-marido chamou um chaveiro e dentro do imóvel encontraram o corpo. 

Silêncio durante depoimento

Apesar de contar que chegou com a Elisângela, o suspeito não quis dar detalhes do caso.

"Informações dão conta que os advogados orientaram que ele ficasse fora por 30 dias. Mas nossa equipe conseguiu localizar o endereço exato em que ele estava. Ele passou por vários lugares. No sábado, o homem foi encontrado na casa de uma tia em Sabará. A tia não sabia que ele tinha cometido o crime. No local foi encontrada a blusa que o investigado usava no dia do crime. Ele se manteve em silêncio e, formalmente, negou o crime", afirmou Ingrid. 

O homem, que trabalhava como motorista de aplicativo, foi preso temporariamente. Ele vai responder pelo homicídio qualificado, por feminícidio e meio cruel, e ocultação de cadáver. O criminoso, que não tinha antecedentes criminais, foi encaminhado ao sistema prisional.

Registro de boletim e relacionamento conturbado

Em junho, a atendente registrou um boletim de ocorrência contra o homem. "Ele terminou o casamento para ficar com a vítima. Dava presentes, teve toda uma conquista inicial. Depois disso, ele foi mais incisivo nesse relacionamento. Constantemente, ele chegava ao local de trabalho da vítima por volta das 5h30 e ficava esperando ela chegar. No mês de junho há um registro em que a vítima relata medo do autor caso rompesse o relacionamento. Segundo o relato no Reds, ela havia sido dopada por ele e teve um chip do celular furtado, provavelmente, para ter acesso ao conteúdo dela", explicou a delegada. 

Denuncie

Vítimas de violência doméstica devem realizar denúncias contra os seus agressores. As denúncias podem ser feitas pela Delegacia Virtual e também na Delegacia de Mulheres, que funciona todos os dias, 24 horas.

Além disso, as mulheres têm à disposição o aplicativo MG Mulher. Nele é criado uma rede de contato para que as vítimas em perigo possam receber socorro mais rápido. 

Através de um SMS é possível mandar a localização exata para os contatos, que podem acionar a Polícia Militar. O aplicativo está disponível para download gratuito na AppStore e na GooglePlay.

Segundo a Polícia Civil, neste ano, foram registrados nove feminícidios em Belo Horizonte. Em apenas um caso, o autor não foi preso porque morreu intoxicado ao colocar fogo no cômodo em que a companheira estava.

Cronologia antes do assassinato de Elisângela, de acordo com a Polícia Civil

8 de julho

6h - Elisângela e o suspeito saem do apartamento dela com destino ao trabalho da vítima.

7h - Chegam ao local, e a vítima inicia a jornada de trabalho em um rede de fast food. Todos os movimentos da mulher foram acompanhados pelo criminoso.

16h - Elisângela para o trabalho para almoçar com o então namorado. Ainda durante a tarde, a Polícia Militar vai ao local a pedido de outros funcionários, mas a atendente afirma que era o namorado dela. 

19h - Vítima deixa o expediente e os dois seguem para o apartamento.

19h40 - Eles chegam ao imóvel e entram. Uma câmera de segurança próxima registra o momento. 

21h40 - O homem sai do prédio com a cabeça baixa para não ter a imagem flagrada pelo equipamento de segurança. 

10 de julho

Elisângela não aparece para trabalhar. Suspeito se passou por ela para mandar uma mensagem à gerente. 

15 de julho

Ex-marido vai até o apartamento de Elisângela. Com a ajuda de um chaveiro abre a porta e percebe a geladeira fechada com durex. Ao abrir, ele encontra o corpo. 

17 de julho

Elisângela é sepultada em um cemitério da região metropolitana de Belo Horizonte.

18 de julho

Suspeito é preso na casa da tia, em Sabará, e nega o crime.