Tragédia de Brumadinho

Parentes de funcionários afirmam que Vale deu ‘ordem de silêncio'

A irmã de uma vítima relatou a reportagem que sensação é de impotência e falta de retorno

Por Mariana Nogueira e Letícia Fontes
Publicado em 31 de janeiro de 2019 | 16:59
 
 
Bombeiros precisam entrar na lama para poder procurar por corpos atingidos pela tragédia Foto: Alex de Jesus

Não bastasse o clima de terror e caos que se espalhou por Brumadinho, na região metropolitana, após o rompimento da barragem da Vale na última sexta-feira (25), familiares das vítimas e funcionários da empresa foram orientados a não opinarem publicamente sobre a tragédia.

A irmã de uma vítima relatou a reportagem que sensação é de impotência e falta de retorno. "É uma situação delicada demais. Nós estamos com medo de aparecer falando qualquer coisa e sermos prejudicados posteriormente. Ao mesmo tempo, mediante uma tragédia dessas, que nós sabemos que poderia ter sido evitada pela empresa, nós não queremos ficar calados. Mas nosso medo é falar e, depois, sofrermos as consequências", disse a mulher, que pediu para não ser identificada.

Funcionários terceirizados e outros contratados diretamente pela empresa também pedem sigilo. "Olha, moça, tem muita coisa acontecendo. Eu não quero perder meu emprego de jeito nenhum. Mas a ordem essa mesmo, para não falar nada. Não que a gente saiba muito, mas eles têm medo porque nós estamos lá no dia a dia, né? Só nós sabemos o que acontece ali dentro. Eu queria poder falar mais, sim, mas não posso. Vamos ver como as coisas vão ficar", disse. 

Um dos funcionários ouvidos também aguarda notícias da esposa. "Eu não sei muito o que dizer. É uma boa empresa, né? Eu tô com raiva, sim. Mas não posso falar. Não posso colocar em risco a única coisa que eu tenho agora que é meu emprego", lamentou. 

Uma fonte da reportagem que trabalha na Vale e por questões de segurança não será identificada, informou que ordem é verídica e se estende a todos os trabalhadores. 

Em nota, a Vale informou que não fez e não fará qualquer restrição ao trabalho da imprensa e disse ter mobilizado toda a sua equipe e mais profissionais para atender ao grande número de profissionais de comunicação presentes na cobertura. “Nossos telefones e emails estão à disposição 24 horas por dia para atender às demandas”, afirmou a mineradora.