São Joaquim de Bicas

Pastor é detido por suspeita de maus-tratos em comunidade terapêutica

Segundo a polícia, internos afirmaram que eram ameaçados com arma; um dos pacientes contou ter ficado três dias capinando sem beber água

Seg, 01/10/18 - 07h49

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Um pastor, de 43 anos, foi conduzido à delegacia, nesse domingo (30), após ser alvo de denúncias de maus-tratos em uma clínica de reabilitação de dependentes químicos de São Joaquim de Bicas, na região metropolitana de Belo Horizonte. Uma arma foi encontrada no imóvel. 

De acordo com o boletim de ocorrência da corporação, militares faziam patrulhamento de rotina no bairro Primavera quando se depararam com um jovem.

Durante as buscas, nada de ilícito foi encontrado, mas, em conversa com os militares, ele contou que fazia tratamento na comunidade terapêutica Restaurando Vidas, que tinha saído para fumar um cigarro e estava com medo de voltar ao espaço devido aos maus-tratos sofridos por parte do pastor, responsável pela clínica. 

Ainda conforme o jovem, o pastor já havia efetuado disparos na clínica para intimidar os internos, atingindo uma parede.

Os policiais foram até o endereço e conversaram, separadamente, com outros pacientes, que confirmaram as agressões físicas e psicológicas por parte da equipe da clínica. 

À Polícia Militar, um dos internos contou que foi amarrado em uma coleira e arrastado como cachorro por um dos funcionários do imóvel. Outro homem disse que foi obrigado a capinar por três dias seguidos sem direito de ao menos beber água e que, durante a situação, outros colegas e o próprio pastor teriam debochado e humilhado dele, filmando tudo.

Outros internos afirmaram que receberam coronhadas nas cabeças, ameaças e que estariam comendo apenas pequenas porções de carne e sopa, sendo que a comunidade recebe doações de outros alimentos, que seriam consumidos pelos funcionários.

Durante buscas no imóvel, militares encontraram munições e uma arma calibre 38 em um dos quartos. Além do pastor, a mulher dele e um funcionário foram conduzidos à delegacia.  De acordo com a assessoria de imprensa da Polícia Civil, o pastor teve a prisão ratificada por porte de arma. Uma investigação em relação aos maus-tratos foi aberta e a comunidade permanece funcionando. 

A prefeitura da cidade e os familiares dos internos foram comunicados da situação. Devido à falta de local seguro para colocar os pacientes no domingo, eles continuaram na clínica sob a responsabilidade de uma funcionária que não foi alvo das denúncias. 

Direção nega denúncias de maus-tratos

Em conversa com a reportagem de O TEMPO,  o vice-diretor da comunidade, Nilson de Assis, de 59 anos, negou as denúncias de maus-tratos  e afirmou que, devido à abstinência de drogas, alguns internos teriam inventado as histórias. “Nós tratamos todos aqui com muito carinho, vivemos de doações e não temos apoio nenhum do poder público, as famílias contribuem com o que podem financeiramente. O tratamento varia de seis a nove meses”, afirmou ou homem.

Segundo ele, a clínica funciona no espaço, alugado, há cerca de dois anos e conta com uma equipe formada por enfermeira, psicóloga e assistente social. “Ninguém é obrigado a ficar aqui, mas para sair precisa da autorização da família. Temos alvará de funcionamento (concedido  pela Prefeitura de São Joaquim de Bicas) e vamos continuar funcionando”, finalizou.

Prefeitura e Governo 

Por meio de nota, a Prefeitura de São Joaquim de Bicas confirmou que o local possui alvará de funcionamento e, por ser uma clínica privada, o município não tem o controle do número de pacientes e transferência dos mesmos para outras instituições.  

A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais informou que a Associação Restaurando Vidas, não faz parte do Programa Estadual Aliança Pela Vida, portanto, não recebe recursos do Governo. 
 

Atualizada às 16h48

 

Atualizada às 16h41

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