Coronavírus

Pedidos de leitos em BH passam pela Central de Internação; saiba como funciona

Central de Internação recebe pedidos e alinha com hospitais o recebimento de pacientes; médicos responsáveis avaliam disponibilidade e gravidade do estado de saúde

Por Lara Alves
Publicado em 26 de junho de 2020 | 13:35
 
 
Ministério da Saúde transforma 6.400 leitos de UTI que eram destinados à Covid-19 para pacientes com outras doenças Foto: Ministério da Saúde / divulgação

A Central de Internação de Belo Horizonte não dormia mesmo antes da pandemia de Covid-19 com uma escala que prevê há 24 anos turnos em todas as horas do dia, incluídos os fins de semana e os feriados. Entretanto, com o aparecimento dos primeiros casos de coronavírus na capital mineira, a rotina de trabalho tornou-se ainda mais intensa exigindo velocidade de médicos, enfermeiros e telefonistas que atuam na unidade.

A cada duas horas, pelo menos, eles discam para todos os hospitais públicos ligados à rede do Sistema Único de Saúde (SUS) de Belo Horizonte para descobrir qual a disponibilidade de leitos de cada um deles e encaminhar pacientes infectados o mais rápido possível. Além de garantir que estes belo-horizontinos com coronavírus sejam rapidamente internados nos leitos que necessitam, a central precisa conciliar esta demanda com as operações de rotina para alocação de pacientes coronários, com traumas, doenças renais e outros problemas de saúde. Ligada à unidade de internação do próprio Estado de Minas Gerais, a central da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) também apoia a recepção de moradores do interior em hospitais da capital.

O primeiro turno que se estende do período da manhã até a tarde conta com 16 telefonistas que recebem as demandas das unidades de saúde e também monitoram leitos em hospitais, dois médicos e um enfermeiro de plantão que decidem quais casos necessitam de internação imediata e para onde eles podem ser encaminhados. Trabalham no segundo turno, no período da noite, outros dois médicos, um enfermeiro e 10 telefonistas.

“Uma das ações que torna nossa central uma referência no Brasil é que nós nos adiantamos. Não esperamos os hospitais nos comunicarem a respeito das vagas, mas ligamos ativamente para cada um deles para olhar quantos leitos têm e quantos estão disponíveis. Antes da pandemia nós ligávamos duas vezes de manhã para os hospitais, duas a tarde e algumas outras vezes no período da noite. Era nossa rotina. Com a Covid-19 nós passamos a ligar, pelo menos, a cada duas horas para saber sobre a disponibilidade de vagas, se algum leito foi desocupado ou não”, detalha a médica Maria do Socorro Alves Lemos, há 10 anos gerente de regulação do Acesso Hospitalar. Ela é responsável por preparar relatórios que são entregues à PBH com a disponibilidade dos leitos nos hospitais públicos da cidade.

As taxas de ocupação dos leitos das Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) e enfermarias são dois dos três principais indicadores usados pelo Comitê de Enfrentamento à Epidemia de Covid-19 de Belo Horizonte para determinar se a cidade está pronta para caminhar na reabertura do comércio ou se é necessário retardá-la. Estes índices alcançaram números recordes esta semana e, de acordo com a estatística da Secretaria Municipal de Saúde, cerca de 85% dos leitos de UTI exclusivos para pacientes suspeitos ou confirmados com Covid-19 estão ocupados na capital mineira.

Além do aumento neste índice, a cidade também acompanhou um crescimento na quantidade de leitos de enfermaria, que possuem menos recursos que os primeiros, ocupados. Balanço epidemiológico de quinta-feira (25) aponta que Belo Horizonte tem 5.513 leitos entre UTI e enfermaria pacientes com quaisquer enfermidades – 762 dos leitos de enfermaria são destinados a infectados com Covid-19 e 297 de UTI separados para o mesmo fim.

Como funciona a Central de Internação?

Criada em 1996 após uma lei que regulamentou o gerenciamento de leitos da rede SUS em Belo Horizonte, a Central de Internação atua como um intermediário entre os moradores da cidade que precisam de hospitalização e as unidades de saúde – principalmente aquelas que não têm as portas abertas através de pronto-atendimento, como o Hospital Metropolitano Dr. Célio de Castro, na região do Barreiro, que recebe apenas pacientes encaminhados pela Central.

As operações entre hospitais e a Central acontecem por meio de um sistema on-line chamado SUSFácil. Nele, a unidade de saúde insere dados do paciente e informa seu estado de saúde. O médico da Central de Internação recebe as informações e analisa o quadro para saber se uma internação imediata é necessária ou se o paciente pode esperar um pouco. Autorizada a internação, os profissionais da unidade da PBH ligam para os hospitais até encontrar um que possa acolher aquele paciente.

“O coração da Central é o trabalho de transferência de um paciente que chega a uma UPA ou um hospital com menos recursos e precisa ser encaminhado para um leito mais especializado. Nós trabalhamos com dois sistemas, o SUSFácil e um sistema interno que nos ajuda a gerenciar as filas de pedidos, separados por doença, idade, necessidade e especialidade médica”, detalha a médica. A Central é também responsável por autorizar as internações diretas – estas acontecem quando o paciente chega no hospital com alguma doença ou trauma e poderá ser internado naquela mesma unidade de saúde – e as internações para cirurgias eletivas.

“Quando recebemos um pedido de internação, nós os submetemos a alguns critérios de prioridade como a segurança do usuário, que é verificar qual a capacidade de atendimento da unidade em que o paciente está e quais recursos ela têm, e os recursos disponíveis. Às vezes um paciente está em uma UPA e não entende o por quê de uma pessoa que chegou depois dele conseguir ser transferida primeiro, mas é que tudo depende dos nossos recursos. Se eu tenho um leito de CTI para paciente coronário disponível agora, primeiro será transferido um paciente que se enquadra nesse característica”, esclarece.

Ela conta que a Central também recebe casos do interior encaminhados diretamente pela unidade de internação do Estado. “Quando acontece, avaliamos os nossos recursos no dia, se conseguimos ou receber aquele paciente”, pontua. A internação é autorizada após um protocolo de questionamentos feitos pelos médicos da Central. “O protocolo estabelecido nos ajuda a entender qual o caso do paciente, quanto tempo de dor, quais as conclusões dos exames feitos… Só a partir daí a decisão é tomada. Se houver dúvida, podemos entrar em contato com o hospital para que ele próprio esclareça sobre o estado de saúde”, comenta.

Alguns dos quadros clínicos recebidos, por exemplo, não são imediatamente atendidos porque ainda podem esperar mais um pouco. “A Central começou há uns cinco anos a encaminhar pacientes para avaliações especializadas. Muitos solicitam internação, mas às vezes não é o caso e precisamos criar alternativas. Um exemplo é quando uma criança quebra um braço e precisa de uma cirurgia. Você não precisa deixá-la ocupando um leito, pode medicá-la e deixá-la em casa até o dia da cirurgia. O contrário é quando, por exemplo, o paciente tem apendicite. Ele não pode esperar”.

Aliás, para situações extremamente urgentes existe até um alerta vermelho que se acende na sala. “Quando o tempo de evolução da doença é muito curto para ela chegar num estado grave, acende uma luz vermelha na central e toda a equipe se mobiliza para encontrar um leito para esse paciente, se não houver, uma vaga extra é criado. São casos que demandam todo nosso empenho porque a janela é curta”.

Além do aumento na demanda por leitos nas últimas semanas em função do crescimento no número de casos de coronavírus em Belo Horizonte, outro reflexo da pandemia na rotina da Central de Internação é que todos os casos de Covid-19 precisam ser rapidamente encaminhados para evitar que mais pessoas sejam contaminadas. “Com a pandemia aumentou o fluxo porque tudo tem que ser feito muito rapidamente e temos que ter um zelo muito grande, o paciente entra rápido no hospital e precisa ser encaminhado rápido também para não contaminar outras pessoas”, conclui a médica.