UFMG

Pesquisadores temem tragédia

Reportagem registrou materiais de pesquisa espalhados em corredor junto a produtos inflamáveis

Ter, 04/09/18 - 03h00

Entulho, restos de madeira e objetos de papelão jogados pelos cantos. Tudo em meio a um amontoado de caixas e armários com vidros cheios de álcool. Essa é a descrição dos corredores do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde está acondicionado um acervo de pesquisas, com espécies animais e vegetais, inclusive em extinção. A situação faz com que pesquisadores, alunos e professores sejam praticamente unânimes ao chamarem o prédio de “bomba-relógio”.

Parte do material poderia ficar no Museu de Ciências Morfológicas, que fica anexo ao prédio. Mas nem tudo cabe lá. Outra parcela ainda é utilizada em estudos e deveria estar em um espaço acessado apenas por pesquisadores. Porém, por falta de estrutura, tudo fica no corredor do instituto, ao qual qualquer pessoa tem acesso. A reportagem esteve no prédio nesta segunda-feira (3) por duas vezes, e chegou ao material de pesquisa sem qualquer dificuldade.

Como todo o material está acondicionado em frascos com álcool, qualquer incidente com fogo nos laboratórios do prédio pode levar a um incêndio de grandes proporções, como foi alertado pelos pesquisadores do local que conversaram com a reportagem. Além disso, vários corredores não têm extintores de incêndios, e alguns dos equipamentos disponíveis estão vencidos.

Segundo o diretor do Centro de Coleções Taxonômicas do ICB, Fabrício Rodrigues dos Santos, o instituto tem um acervo de 2 milhões de espécies, entre aves, mamíferos, aracnídeos e plantas. O trabalho mais antigo armazenado no complexo é do século XIX. “É um descaso total com a pesquisa. Temos no acervo, por exemplo, espécies de peixes da parte danificada do rio Doce, material que não se encontra mais na natureza”, afirma.

Ele teme uma tragédia da mesma proporção da que ocorreu no Rio de Janeiro: “E, se isso acontecer, o fogo vai espalhar muito rapidamente porque temos muito material inflamável aqui”.

Novo prédio

Obra. A UFMG informou que há projeto aprovado para construção de novo prédio do ICB, o qual vai custar R$ 20 milhões. A universidade disse que servidores fazem treinamento de combate a incêndio.

 

MP apura 20 irregularidades

Atualmente, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) investiga e acompanha mais de 20 casos de irregularidades em imóveis históricos no Estado. De acordo com a coordenadora da Promotoria Estadual de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico, Giselle Ribeiro, a maioria dos problemas está relacionada à segurança e à prevenção de incêndios e situação de pânico.

Em Belo Horizonte, são oito locais em risco. Segundo a promotora, entre os espaços irregulares estão igrejas, teatros municipais e imóveis tombados. Após a tragédia no Rio de Janeiro, os promotores vão intensificar a fiscalização. “Temos casos em Muriaé (Zona da Mata), Contagem (região metropolitana) e Catas Altas (Central). São bens e imóveis do patrimônio cultural. A tragédia do Rio deixa a lição de que a história pode ser destruída em poucas horas. Esses imóveis possuem particularidades, mas não é impossível se fazer um projeto para o Corpo de Bombeiros. Muitas vezes, os responsáveis, infelizmente, entendem que é um gasto”, destacou Giselle Ribeiro.

Segundo a superintendente do Iphan em Minas Gerais, Célia Corsino, as obras em andamento no Estado, com recursos do governo federal, têm seguido parâmetros de segurança contra acidentes, como o do Museu Nacional. (TL/Letícia Fontes)

Projeto

Andamento. O Iphan estuda há mais de um ano lançar uma portaria que coloca regras de segurança para prevenção de incêndios em edifícios tombados. O projeto está fase de finalização.

Ministério da Cultura

Recursos. O Ministério da Cultura (Minc) informou à reportagem que a gestão financeira e administrativa do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) é de responsabilidade da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). 

Legislação. Segundo a pasta, é possível utilizar a Lei Rouanet para captar recursos de patrocinadores para a preservação e a restauração do ICB. Equipamentos culturais estão contemplados na lei para restauro e obra e para manutenção.

 

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