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Fundada em 1881”, diz a placa na fachada da Casa Salles, loja na rua São Paulo, no centro de Belo Horizonte. A data, além de chamar a atenção por si só, ainda representa outro detalhe curioso: BH só foi fundada em 1897 – ou seja, a loja tem 16 anos a mais do que a capital.
Hoje especializada na venda de armas, munições e cutelaria, a loja surgiu, na verdade, como um armazém de secos e molhados, um tipo de comércio que vendia um pouco de tudo, e foi fundada em Ouro Preto, quando a cidade ainda era a capital mineira.
A vinda para Belo Horizonte ocorreu em 1904, segundo Guilherme Salles, atual administrador da loja. Da unidade na rua São Paulo, o negócio vem sendo testemunha de toda a história da capital. “Hoje é a loja mais antiga de Belo Horizonte ainda em atividade. Era um mercadinho e veio pra abastecer a necessidade dos funcionários públicos e dos demais habitantes de BH, que começava a se desenvolver na época. A gente vendia até mula para as tropas de tropeiros, em uma época da empresa”, aponta ele.
Uma década antes, a capital ainda estava no papel. No plano inicial de Aarão Reis, engenheiro responsável pelo projeto da “Cidade de Minas”, cada coisa tinha seu lugar. Para o comércio, atividade vista com olhos menos empolgados pela elite econômica, o espaço reservado ficava entre a praça da Estação e o Mercado Municipal – hoje, rodoviária – na “rua do Comércio”, e no bairro comercial, na esplanada da Lagoinha.
Expansão. Os planos não foram exatamente colocados em prática. Além de ocupar outras regiões dentro do contorno de BH – principalmente entre as ruas Guajajaras e Bahia e entre as avenidas Afonso Pena e Liberdade (hoje avenida João Pinheiro) –, as vendas, bodegas e bares se espalharam por BH.
Dados do “Almanaque -Guia de Belo Horizonte”, de 1913, resgatados pelo livro “Belo Horizonte e o Comércio: 100 Anos de História”, da Fundação João Pinheiro e da Fecomércio, apontam que, nessa época, a capital tinha 289 estabelecimentos comerciais, a maioria voltada para o abastecimento do mercado interno, com a venda de alimentos, roupas e calçados. Na década seguinte, de 1920, BH já tinha negócios que exportavam a produção.
Em 1940, a cidade já era uma metrópole, com mais de 200 mil habitantes. “BH foi planejada por Aarão Reis para ter, em 100 anos, uma população de 195 mil pessoas. O que ocorreu, na verdade, foi uma expansão muito rápida, já que as pessoas eram atraídas pelas oportunidades de emprego”, conta o jornalista e pesquisador Luís Góes, autor de dezenas de livros sobre a história da capital mineira.
No centro, os bares e cafés – como o Café Nice, fundado em 1939 – eram os locais de encontro da elite, mas a cidade se espalhava, cada vez mais, para longe do traçado inicial da avenida do Contorno. A população de menor renda, que não tinha condições de morar na área central, também tinha uma demanda por produtos, serviços e lazer.
Mais da metade do PIB de BH é de comércio e serviços
Os setores de comércio e serviços são, economicamente, os mais significativos de Belo Horizonte. Em 2018, último ano com valores consolidados pelo IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) da cidade foi de quase R$ 92 bilhões. Desse total, cerca de R$ 56 bilhões vieram dos segmentos, o equivalente a 60,1%.
Para comparar, a indústria respondeu por pouco mais de R$ 11 bilhões da soma das riquezas produzidas na cidade no período. Hoje, segundo o boletim econômico mais recente da Prefeitura de Belo Horizonte, a cidade tem 413.595 estabelecimentos abertos, e 58,4% desses negócios são microempreendedores individuais.
Neste ano, de janeiro a agosto, os setores de comércio e serviços foram os que mais criaram vagas de emprego em Belo Horizonte: segundo o boletim econômico da prefeitura, 36,3 mil postos formais de trabalho surgiram nos oito primeiros meses de 2021. Na construção civil, que é a indústria mais significativa de BH, houve a criação de um quarto desse número: 9.357 vagas.
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