O jogo mortal de sedução de Lucileia Ferreira Rodrigues, 44 anos, suspeita de atrair idosos acima dos 60 para programas sexuais de fachada, cujo intuito era dopar e furtar os alvos pode ter feito dezenas de vítimas na capital e região metropolitana durante, pelo menos, dois anos.
Segundo a Polícia Civil, ela agia com a ajuda de Rodrigo Pereira de Souza, 37 anos, e Jabson Lopes da Silva, 52 anos, comparsas da mulher.
Presa pela Polícia Civil na última sexta-feira (7), em Lago Santa, a mulher é suspeita de ser a mentora da quadrilha, que além dos furtos, seria responsável pela morte de Tiago dos Santos, 63, assassinado a facadas em 24 de julho de 2018, segundo investigações.
Na casa da mulher, foram encontrados diversos objetos como televisores, vídeo game, notebook, joias, relógios que podem ser resultado de furtos aplicados a outras possíveis vítimas. A Polícia Civil usou um caminhão para retirar os produtos, guardados na casa da suspeita.
Além dela, dois homens que teriam envolvimento foram presos no mesmo dia, no bairro Mantiqueira, na capital, durante cumprimento de mandados da operação Zabaleira, nome que remete a pessoas ligadas à prostituição, segundo a polícia.
"Esse crime deu início às investigações que nos levaram até o grupo. A Laudiceia planejava toda a ação, fingindo interesse pelas vítimas, tecendo elogios como 'você é saradão, você é muito bonito' dentre outras cantadas", afirmou o delegado titular do 1° Departamento de Polícia de Ribeirão das Neves, Eduardo Hibert.
As vítimas, ainda de acordo com a polícia, eram escolhidas aleatoriamente em bares do Centro de Belo Horizonte. "Ao identificar um homem divorciado, viúvo, ou que tivesse costume de sair com garotas de programa, ela se aproximava", apontou o delegado.
Após trocar números de telefone e combinar um encontro, a suspeita foi à casa de Santos, no bairro Pedra Branca, em Ribeirão das Neves.
Já no interior do imóvel, misturou remédios com efeitos sedativos à bebida do homem. Ao perceber que a vítima estava dopada, a mulher chamou um cúmplice, de 37 anos, para, juntos, furtarem objetos da residência da vítima.
Do lado de fora, um terceiro suspeito, de 52 anos, irmão de criação e ex-namorado da suspeita, aguardava a dupla em uma caminhonete.
"Eles levaram diversos objetos e um cofre, onde esse idoso, que vivia sozinho, guardava cheques, dinheiro, documentos e pertences pessoais", comentou o delegado.
Durante a limpa no imóvel, o homem teria esboçado uma tentativa de reação. Ao perceber que a vítima se movia, a suspeita ordenou que o comparsa executasse o idoso.
Armado com uma faca de cozinha, o suspeito desferiu golpes contra o rosto da vítima. Ao perceber que o objeto tinha baixo poder de corte, a mulher ordenou que o ataque fosse realizado com uma faca "melhor", segundo as investigações.
"O suspeito volta à cozinha, troca a faca e termina a ação, aplicando diversas golpes no rosto da vítima", explicou o delegado.
A mulher, que tem passagens por tráfico de drogas, negou envolvimento no caso. "Não me arrependo, porque não tem como me arrepender por uma coisa que não fiz", afirmou a criminosa.
O homem de 52 anos que seria o motorista da quadrilha também negou ter participado dos crimes. ""Eu apenas fui chamado para fazer um carreto. Não sabia de nada que fizeram lá", apontou o homem.
Presos preventivamente, o trio deverá responder por furto e homicídio qualificados.
"Matei por arroz e feijão", afirma suspeito
A morte de Tiago dos Santos, de 63 anos, assassinado a facadas em 24 de julho do ano passado, foi assumida e justificada por um dos suspeitos, um homem de 37 anos.
"Fiz por necessidade. Por arroz e feijão, coisas que faltavam dentro de casa. Na hora do aperto, a gente faz coisas que se arrepende amargamente, mas aconteceu", afirmou o homem.
Embora não tenha apontado o motivo para o crime à Polícia, o homem revelou, inclusive, que o grupo planejou a morte do idoso.
"A gente teve que matar porque ele (a vítima) conhecia muita gente. Ele estava dopado já, mas segurou o meu braço e me ameaçou. Nessa hora que ela (a líder do trio) me falou 'vamos ter que matar'", detalhou o suspeito.
Mais vítimas
Segundo a Polícia Civil, a mulher aplicou o mesmo golpe em outro idoso, de 65 anos, morador da capital. O homem, segundo as investigações, foi sedado junto com o filho, uma criança de dez anos.
"Ela se encontrou com esse homem em uma quinta-feira. O modo de agir foi o mesmo, ela colocaou remédios no refrigerante do homem e do menino e ambos acordaram dois dias depois, no sábado", revelou o delegado titular do 1° Departamento de Polícia de Ribeirão das Neves, Eduardo Hibert.
Em função da grande quantia de materiais apreendidos, novas vítimas podem aparecer, segundo Hilbert.
"Estamos divulgando nomes e imagem dos suspitos com a expectativa de que novas vítimas e/ou donos desses objetos apareçam. Estamos disponíveis para atender essas pessoas no departamento da Polícia Civil na rua São Pedro, número 32, no bairro São Januário, região do Justinopólis, em Neves.
Delegado faz alerta
Para o delegado Eduardo Hilbert, uma boa conversa em um bar não deve resutar em convite à visitas à residências quando o convidado for um desconhecido.
"A gente só deve levar para a casa pessoas que temos confiança. Aquela situação que a pessoa começa a fazer muitos elogios e trocar telefones de maneira muito fácil devem gerar desconfiança", afirmou o delegado.