"Quer moleza!? Vai sentar no colo do Damásio"; "Se vocês quiserem pular pela janela e se suicidar, para mim... Não, aqui não, porque se não vai vir a polícia. Vocês podem pular lá no prédio da Escola de Minas que, aí, não é problema meu"; "O cara parece que tomou todas. Tomou todas e não foi pela boca". Estas foram apenas algumas das frases que o estudante do 8º período de Engenharia de Controle e Automação da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), na região Central de Minas Gerais, ouviu em sala de aula de um seus professores.
Cansado dos assédios que vinha sofrendo há pelo menos um ano, Diego Damásio, 23, resolveu gravar áudios das aulas do professor Ronilson Rocha, efetivo do Departamento de Controle e Automação e Técnicas Fundamentais. O universitário afirma que tem sido perseguido por este professor, que o humilha com frases desagradáveis e de conotação sexual, diante dos colegas. "Ele (o professor) tem essa fama de marcar aluno pela cara. Muitos alunos falam que ele escolhe os alunos que serão crucificados, que vão ser alvo dele. Eu não sei porque ele faz isso comigo", diz.
Esta é a segunda disciplina obrigatória seguida que o estudante faz com este professor e as cenas de constrangimento foram se tornando cada vez mais frequentes. Percebendo que não estava mais lidando bem com a situação, o aluno procurou uma psicóloga na instituição, que o incentivou a denunciar os abusos após constatar que ele estava passando por um processo de ansiedade aguda. "Para eu não tomar a atitude de trancar o curso, eu tomei coragem e fiz a denúncia. Procurei as instâncias na universidade e o Ministério Público Federal (MPF), mesmo com os meus colegas dizendo para eu não fazer isso, que não ia dar em nada, porque ele é efetivo", lembra Damásio.
As tentativas de diálogos com o educador foram em vão, já que a reação, segundo o estudante, foram de falta de educação e desrespeito. "Eu tenho que ir para a as aulas dele e nem consigo olhar para a cara dele. Não sei que reação ele pode ter comigo fazendo uma denuncia formal a ele, estou com medo, mas não teve outro jeito", afirma.
A reportagem de O TEMPO teve acesso aos áudios feitos pelo estudante. Em uma das aulas, Ronilson pergunta se os alunos já viram um diodo semicondutor na vida e completa: "alguém já pegou no diodão? Quem quer pegar no diodão aqui, hein? Vai passando de mão em mão que eu acho que está todo mundo doido pra botar a mão no diodo".
Em diversos momentos o professor usa Damásio como exemplo de forma vexatória em sala de aula. Em uma das vezes, o professor pergunta aos alunos se a explicação está confusa e diz que usará o denunciante como "termômetro". "Tá dando para levar? Vocês já viram isso antes no semestre passado? (...) O cara parece que tomou todas aí... Tomou todas e não foi pela boca", fala o professor sobre o universitário em meio a risada dos demais estudantes.
Escute as gravações feitas em diversas ocasiões diferentes e que foram divulgadas pelo aluno:
Na avaliação do psicólogo da universidade, segundo o estudante, os colegas de sala provavelmente riem das "piadinhas" por também se sentirem intimidados, o que seria uma maneira de ganhar a confiança do professor.
Sindicância
Depois da denúncia feita pelo estudante, uma sindicância interna foi aberta para apurar os assédios. Segundo a assessoria de imprensa da UFOP, o aluno em questão foi atendido por profissionais da instituição e foi prontamente encaminhado à assessoria da reitoria. "A comissão de sindicância já foi nomeada e tem 30 dias, prorrogáveis por mais 30 dias, para concluí-la", dizia a nota divulgada pela instituição. Por enquanto, o servidor continua trabalhando normalmente na universidade.
Procurado pela reportagem, o professor Ronilson Rocha disse desconhecer a denúncia do seu aluno. "Do nada chegaram alunos falando que eu seria afastado, mas nem sei do que se trata essa denúncia. Eu faço algumas brincadeiras em sala de aula, mas nada ofensivo. Nenhum aluno reclamou nada diretamente para mim até hoje", alegou.
De acordo com a assessoria do MPF, a denúncia feita pelo estudante já teve um procurador designado, que irá agora avaliar as informações, fazer os levantamentos necessários e, dentro de no mínimo 30 dias decidirá se providências serão tomadas.