O futuro do comércio e da população de Belo Horizonte será decidido na próxima quinta-feira (4) às 14h pelo Comitê de Enfrentamento à Covid-19. A decisão tomada na reunião, entretanto, chega à cidade apenas na sexta-feira (5) quando especialistas que integram o grupo e o prefeito Alexandre Kalil (PSD) participam de pronunciamento na sede da Prefeitura. À reportagem de O TEMPO na manhã desta terça-feira (2), Kalil declarou que, neste momento, não é possível determinar se o comércio precisará fechar as portas novamente.
Ele negou que já exista qualquer orientação para fechamento dos estabelecimentos que retomaram o funcionamento normal há cerca de uma semana, na segunda-feira (25). “Não há, nós temos uma reunião quinta-feira às 14h, e vamos avaliar tudo. Tanto abrir como fechar, eles estão avaliando, tem o tempo deles, não é o prefeito que vai falar sobre isso. Não tem nem como falar na terça, nem quarta, isso vai ser resolvido na quinta-feira”, pontuou.
A Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH) declarou também não ter conhecimento de qualquer informação sobre um novo fechamento ou ampliação da retomada econômica na capital mineira. De acordo com assessoria, o presidente da instituição Marcelo de Souza Silva participa de reunião com especialistas do comitê ainda nesta quarta-feira (3).
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As possibilidades de um retrocesso no processo de reabertura ou até de lockdown em Belo Horizonte são comentadas desde a sexta-feira passada (29) quando a cidade entrou em nível vermelho de alerta geral do termômetro da Covid-19. O indicador aponta que a velocidade de transmissão do coronavírus aumentou, o que impacta diretamente nos índices de ocupação de leitos de UTI.
Com a pandemia em expansão, acredita-se que a taxa de ocupação de leitos de UTI pode crescer nos próximos 14 dias. O terceiro indicador avaliado pelo Comitê de Enfrentamento é a ocupação dos leitos de enfermaria destinados a pacientes com Covid-19, que também sofreu elevação de uma semana para a outra.
A reabertura começou na última segunda-feira de maio (25), quando determinados estabelecimentos comerciais considerados não-essenciais foram liberados para abrir as portas, entre eles estão os salões de beleza e os shoppings populares. Entretanto, os efeitos dessa primeira etapa de reabertura só serão perceptíveis nos indicadores após duas semanas – período aproximado de incubação da doença, quando os infectados começam a apresentar os primeiros sintomas.
Cinco dias após a reabertura, o prefeito Alexandre Kalil declarou que não poderia permitir o funcionamento de mais setores do comércio dado o crescimento de casos no interior. “Fiquei assustado com o que vi. Se BH fosse uma ilha, nós poderíamos flexibilizar à vontade, mas não somos ilha”, declarou à época. Ainda na próxima sexta-feira (5), será publicada uma versão atualizada do boletim de monitoramento em BH que, atualmente, aponta que a ocupação dos leitos de UTI está em 52% na cidade.
"Ainda é muito cedo"
Transcorridos oito dias após a reabertura dos primeiros setores não-essenciais do comércio em Belo Horizonte, o infectologista Carlos Starling que integra o Comitê de Enfrentamento à Covid-19 considera estar cedo para analisar os impactos causados pelo aumento do volume de pessoas nas ruas da cidade.
“Os dados ainda não chegaram para que a gente analise, estão sendo compilados agora. Mas, a princípio, a taxa de ocupação de leitos de UTI está dentro do que estava na sexta-feira passada (29 de maio). Ainda é muito cedo para saber, mas na quinta-feira (4) teremos os dados consolidados para uma análise mais assertiva”, detalhou na manhã desta terça-feira (2) à reportagem.
Além de analisar as taxas de ocupação dos leitos de UTI e de enfermaria destinados a pacientes com Covid-19 e o número médio de transmissão por infectado, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) também se debruça sobre alguns indicadores para decidir as medidas necessárias a serem adotadas para frear a propagação do vírus. Um deles é o índice de isolamento social que avalia diariamente o percentual de pessoas que estão em casa.
Gráfico feito pela PBH aponta que praticamente não houve mudança nesse indicador em Belo Horizonte na primeira semana da retomada econômica se comparada com as anteriores. Em 18 de maio, segunda-feira anterior à reabertura, o índice de isolamento estava em torno de 49% em Belo Horizonte. Uma semana depois, o registrado era 48%, sendo que as taxas mais elevadas do índice acontecem sempre aos fins de semana, quando mais pessoas permanecem em casa.
De acordo com Starling, cada um desses indicadores é fundamental para que o futuro de Belo Horizonte e da população seja definido com segurança. “A gente precisa dessas informações mãos para poder analisá-las, sem análise dos dados é muito difícil decidir”, comenta.
Diretor da Sociedade Mineira de Infectologia (SMI), ele destaca que as medidas de combate à pandemia de Covid-19 que são de responsabilidade dos moradores de BH não podem ser esquecidas e, apesar da reabertura, as pessoas precisam manter-se em casa pelo maior tempo possível. “As medidas são as mesmas, só sair para o que for absolutamente fundamental, evitar qualquer tipo de aglomeração, ter o máximo de higiene e lavar as mãos sempre que tocar em qualquer superfície sobre a qual não haja controle, usar álcool em gel ao entrar e sair do ônibus… Isso é fundamental, e usar máscara o tempo todo”, detalha.
Apesar dos índices em Belo Horizonte aparentemente serem estáveis, o quadro não é tão favorável em Minas Gerais. Levantamento diário da plataforma In Loco aponta que, atualmente, os mineiros são a quinta pior população do Brasil quando o assunto é permanecer em casa. O índice de isolamento social no estado chegou a 37,8% nessa segunda-feira (1º) e só é melhor que os números registrados em Tocantins, Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.
Situação em Belo Horizonte
Balanço publicado pela PBH nessa segunda-feira (1º) aponta que são 1.882 casos de coronavírus em Belo Horizonte, sendo que 49 moradores da cidade morreram após serem infectados. O maior número de casos está concentrado entre aqueles que pertencem à faixa etária de 20 até 39 anos. Em seguida, a doença atinge principalmente os que têm idades entre 40 e 59 anos. Outro dado interessante contido no relatório do município é que, até ontem, 115 profissionais da saúde testaram positivo para Covid-19 em BH, e outros 91 casos suspeitos estão sob análise.
As notificações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) também aumentaram na capital mineira, principalmente se comparados os dados obtidos até o momento com aqueles registrados em 2019. No decorrer dos 12 meses de 2019, BH contabilizou 737 casos de SRAG. Entretanto, são mais de 3.330 apenas nos cinco primeiros meses de 2020, um aumento de 453,1%.
Atualiazda às 12h07.