Trancados em um cômodo com um colchão no chão, sem comida ou brinquedos. Assim eram mantidos os dois meninos de 6 e 9 anos que, na última terça-feira (21), foram resgatados em um apartamento no bairro Lagoinha, na região Noroeste de Belo Horizonte. Desnutridas e bastante abaladas, as crianças seguem internadas no Hospital Odilon Behrens e são acompanhados por um tio, que veio de Goiás. 

A reportagem de O TEMPO conversou com a vendedora Poliana Pereira dos Santos, de 37 anos, que é vizinha do local. Ela foi quem encontrou as crianças abandonadas no imóvel e acionou a Polícia Militar (PM). Revoltada, a mulher deu detalhes das condições em que os garotos foram encontrados por ela. 

"Quando vi eu logo percebi que era cárcere privado. Eles estavam debilitados, a ponto de morrer e, por isso, chamamos a polícia. Encontramos muita sujeira, o cheiro era tão forte quando os policiais abriram a porta que nem eles aguentaram. A gente se emocionou muito quando vimos os dois, com os bracinhos fininhos, um deles sem conseguir nem falar. Aí começamos a chorar. Aqui tudo sujo, tudo podre, vasilha com bichos, colchão no chão", contou, emocionada, a vendedora. 

Ainda segundo o relato dela, o local era, claramente, um cativeiro. "Essa porta aqui (disse apontando para um outro cômodo do local) tivemos que arrombar para ver se tinham mais crianças aqui. Estava fechada e foi chocante, por que aqui estavam todos os brinquedos, na parte trancada. Eles estavam ali, com o colchão, e os brinquedos lá do outro lado, nem brinquedo a maldita deixava para eles", indgna-se Poliana. 

Confira o vídeo da entrevista: 

A mãe dos meninos, uma mulher de 30 anos, está presa desde o dia 6 de fevereiro, quando ela levou um outro filho, de 4 anos, já desacordado a um hospital de São Joaquim de Bicas, na região metropolitana de BH. A criança acabou morrendo. 

A Polícia Civil investiga o caso e, até o momento, a mulher que estaria cuidando e teria abandonado as crianças no local ainda não foi identificada ou presa. 

Relembre o caso

No início do mês, a mulher levou o filho de 4 anos ao médico, mas a criança já estava morta. O menino chegou com lesões no olho, inchaço no pé e queimaduras no tornozelo. Os profissionais da saúde tentaram uma manobra de reanimação cardiorrespiratória por trinta minutos, mas a criança não resistiu. A mãe deu várias versões aos policiais.

Conforme informações do boletim de ocorrência, ela afirmou que o menino teria caído, que teria se queimado com uma lagarta e que também teria se queimado com uma bota molhada no tornozelo. Ainda conforme informações da Polícia Militar, os relatos da mulher não condiziam com as lesões encontradas na criança. 

 Depois disso, as outras duas crianças, de 6 e 9 anos, da mulher presa, foram resgatadas com desnutrição em um apartamento no bairro Lagoinha, nessa terça-feira de Carnaval. Elas ficaram trancadas por três dias sem comida e cuidados. Os meninos foram encaminhados ao hospital Odilon Behrens e, posteriormente, ficarão sob os cuidados do Conselho Tutelar. A Polícia Militar foi chamada após uma vizinha relatar a situação dos pequenos.

A mulher chegou a alimentar as crianças por um buraco na parede. A porta estava trancada com um cadeado e correntes. Um dos meninos contou que havia vindo de São Joaquim de Bicas na semana passada e que a avó teria passado a noite de sábado com ele e o irmão, mas não retornou.