A Polícia Civil de Minas investiga o abandono de duas crianças, de 6 e 9 anos, encontradas na terça-feira (21) em situação de cárcere privado, em um apartamento no bairro Lagoinha, na região Noroeste de Belo Horizonte. A mãe delas está presa desde o início do mês, acusada de matar o filho de 4 anos em São Joaquim de Bicas, na região metropolitana. O pai biológico das crianças teria morrido de Covid-19, em 2020. A mulher teria outros dois filhos, de 1 e 2 anos, mas não se sabe o paradeiro deles.
O caso tem muitas lacunas. No dia 6 de fevereiro, quando a mulher foi presa, a Polícia Militar (PM) teria encontrado as crianças de 6 e 9 anos com sinais aparentes de desnutrição. Elas foram encaminhadas ao serviço médico de São Joaquim de Bicas, e, na sequência, o caso seria avaliado por conselheiros tutelares.
Na última terça, mais de duas semanas depois da prisão da mãe, as crianças de 6 e 9 anos foram novamente encontradas com sinais de desnutrição, desta vez sozinhas e trancadas em um apartamento no bairro Lagoinha. Ao perceber que as crianças presas em situação de abandono e com fome, Poliana Pereira, que é vizinha, ligou para a PM.
As crianças foram encaminhadas ao Hospital Odilon Behrens, onde recebem cuidados médicos devido ao grau de desnutrição. Uma delas contou para os vizinhos que quem cuida delas é a avó. O grau de parentesco da mulher que mantinha os meninos em cárcere privado, no entanto, também é uma incógnita.
"Eu moro do lado dessa mulher. Ela é muito misteriosa. Recebe a visita de outras crianças aparentemente bem tratadas e de pessoas que parecem ser parentes dela. Esses meninos (que estavam trancados no apartamento) nunca foram vistos por aqui. Além disso, temos as nossas dúvidas se ela é a avó desses garotinhos mesmo. O que ficamos sabendo é que essa mulher estaria com as crianças porque o filho dela é namorado da mãe dos meninos", contou Poliana.
A reportagem procurou a Prefeitura de São Joaquim de Bicas e questionou sobre o acompanhamento das crianças, que deveria ser feito pelo município onde as crianças moravam com a mãe. O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) também foi questionado. O espaço está aberto para que se manifestem.
Perguntas que ainda aguardam explicação
Qual é o grau de parentesco da mulher que mantinha as crianças em cárcere privado em Belo Horizonte?
O que vai acontecer com essa mulher que mantinha as crianças em cárcere? Ela pode ser presa?
Após a mãe das crianças ser detida, a guarda delas foi passada para quem?
O que vai acontecer com a pessoa que tem a guarda das crianças?
Quais atitudes foram tomadas a respeito das crianças, de 6 e 9 anos, que já sofriam de desnutrição e maus-tratos quando moravam com a mãe em São Joaquim de Bicas?
Para onde as crianças de 6 e 9 anos serão enviadas?
Com quem estão as crianças mais novas, de 1 e 2 anos?
Qual assistência a mãe presa tinha?
Qual tipo de assistência as crianças passaram a contar após a mãe delas ter sido presa?
Relembre o caso
No início do mês, a mulher levou o filho de 4 anos ao médico, mas a criança já estava morta. O menino chegou com lesões no olho, inchaço no pé e queimaduras no tornozelo. Os profissionais da saúde tentaram uma manobra de reanimação cardiorrespiratória por trinta minutos, mas a criança não resistiu. A mãe deu várias versões aos policiais.
Conforme informações do boletim de ocorrência, ela afirmou que o menino teria caído, que teria se queimado com uma lagarta e que também teria se queimado com uma bota molhada no tornozelo. Ainda conforme informações da Polícia Militar, os relatos da mulher não condiziam com as lesões encontradas na criança.
Depois disso, as outras duas crianças, de 6 e 9 anos, da mulher presa, foram resgatadas com desnutrição em um apartamento no bairro Lagoinha, nessa terça-feira de Carnaval. Elas ficaram trancadas por três dias sem comida e cuidados. Os meninos foram encaminhados ao hospital Odilon Behrens e, posteriormente, ficarão sob os cuidados do Conselho Tutelar. A Polícia Militar foi chamada após uma vizinha relatar a situação dos pequenos.
A mulher chegou a alimentar as crianças por um buraco na parede. A porta estava trancada com um cadeado e correntes. Um dos meninos contou que havia vindo de São Joaquim de Bicas na semana passada e que a avó teria passado a noite de sábado com ele e o irmão, mas não retornou.