A vacina terapêutica para o tratamento da dependência em cocaína e crack, desenvolvida pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é finalista do Prêmio Euro Inovação na Saúde. O concurso reúne inovações da área médica de 17 países da América Latina. O imunizante anti cocaína concorre na categoria Inovação Tecnológica Aplicada em Saúde. A escolha é feita por meio de votação aberta para médicos com registro em um dos países com participação da farmacêutica financiadora da premiação.
“Esse é um problema prevalente que deixa as pessoas vulneráveis e sem tratamento específico. Os nossos estudos pré-clínicos comprovam a segurança e eficácia da vacina nesta aplicação. Ela aporta uma solução que permite aos pacientes com dependência se reinserir socialmente e voltar a realizar seus sonhos”, explica o professor do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina e pesquisador responsável, Frederico Garcia.
O projeto de desenvolvimento da vacina já concluiu as etapas pré-clínicas. O estudo constatou segurança e eficácia para tratamento da dependência e prevenção de consequências obstétricas e fetais da exposição à droga durante a gravidez. Os testes foram realizados em animais. Ainda não existem tratamentos registrados para essas dependências. As únicas alternativas disponíveis são comportamentais ou por meio do uso de medicamentos que ajudam a tolerar a abstinência ou diminuir a impulsividade.
“Demonstramos a redução dos efeitos, o que sugere eficácia no tratamento da dependência. Pensamos em utilizar o fármaco para evitar recaídas em pacientes que estão em tratamento, dando mais tempo para eles reconstruírem sua vida sem a droga”, aponta Frederico Garcia. Ainda segundo o pesquisador, o imunizante desenvolvido na UFMG induz o sistema imune a produzir anticorpos que se ligam à cocaína na corrente sanguínea, transformando a droga em uma grande molécula, impedindo com que ela entre em contato com o sistema nervoso central.
Além disso, conforme o pesquisador, o imunizante produziu uma série de anticorpos durante a fase de testes em ratas grávidas. “A vacina impediu a ação da droga sobre a placenta e o feto. Observamos menos complicações obstétricas, maior número de filhotes e maior peso do que as não vacinadas”, relata o professor. Para Frederico, uma vacina para a prevenção primária de transtornos mentais – como no caso da proteção aos fetos gerados por dependentes de cocaína grávidas que forem vacinadas – seria algo inédito na psiquiatria. A patente já foi depositada pela Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT) da UFMG.
"Até então, este projeto foi inteiramente desenvolvido com recursos governamentais. Para restaurar a liberdade das pessoas com dependência e prevenir as consequências fetais precisamos dar início nos estudos com humanos. Acreditamos que o prêmio Euro pode viabilizar esse sonho”, completa o professor. O projeto já concluiu os testes pré-clínicos e busca financiamento para avançar até a etapa com humanos.