Trânsito

Zonas 30 não saem do papel

Lançado no início de 2015, projeto para reduzir limite de velocidade em vias da capital está parado

Por Bárbara Ferreira
Publicado em 16 de julho de 2016 | 03:00
 
 
Diversidade. Em suas artes, Paulo e Bárbara trabalham a realidade trans; ele tem preferência pelas telas, e ela usa mais os desenhos Foto: Pedro Gontijo

Lançado em março do ano passado, o projeto para criar as Zonas 30 – que visava reduzir a velocidade máxima de algumas vias de Belo Horizonte para 30 km/h – ficou apenas no papel. Sem nenhum avanço desde o seu lançamento, o projeto poderia ser uma forma de garantir mais segurança a quem transita pela cidade, com destaque para ciclistas e pedestres. Em São Paulo, que já tem implantadas áreas semelhantes desde 2013, a queda no número de mortes no trânsito foi expressiva, chegando a 20,6% em 2015, revelando os bons resultados da medida.

Já na capital mineira, há uma tentativa de mudança cultural em trânsito. Com a criação do Plano Diretor de Mobilidade Urbana (PlanMob), em meados de 2009, as mudanças já se integram ao planejamento municipal. Aos poucos, percebe-se a necessidade de um transporte público de qualidade, espaço para bicicletas, pedestres e que as políticas não sejam exclusivamente voltadas para carros. No entanto, para especialistas, é preciso que as coisas sejam de fato realizadas.

A redução do limite de velocidade das vias pode ser feita com investimentos não tão altos. De acordo com um estudo da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) de São Paulo, a queda de 20,6% no número de mortes no trânsito em 2015 está diretamente associada ao Programa de Proteção à Vida (PVV), em que uma das medidas é exatamente a criação de Áreas 40 – que têm a mesma premissa das Zonas 30. Na capital paulista, já são 13,2 km² de Área 40, e a velocidade das marginais e das vias expressas também sofreu redução, passando de 70 km/h para 50 km/h.

Em reportagem divulgada nessa sexta-feira (15), o jornal “Folha de S.Paulo” informou uma estimativa de queda de 11% nos acidentes nas marginais Pinheiros e Tietê, um ano depois da implantação da redução. Segundo dados da CET, na comparação entre 2014 e 2015, as marginais tiveram queda de 33% nas mortes.

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Análise. O levantamento paulistano mostra que 257 vidas foram salvas na comparação entre janeiro e dezembro de 2014 com o mesmo período do ano passado. A gerente de Transportes Ativos e Gestão da Demanda por Viagens do Instituto de Políticas de Transporte & Desenvolvimento (ITDP) Danielle Hoppe acredita na importância de trabalhar na redução das velocidades e no redesenho viário.

“A longo prazo, especialmente na região da avenida do Contorno, é preciso trabalhar em suas interseções, com essa discussão da Zona 30. Mas isso não é só em BH, a gente tem visto esse assunto crescendo em outras cidades também. Não se pode implantar ciclovias em toda a cidade, mas os ciclistas podem circular em todas as ruas”, afirma.

Para Danielle, que já atuou em vários trabalhos em Belo Horizonte, principalmente com a equipe do Pedala BH, grupo que envolve técnicos da prefeitura e da sociedade civil, trata-se de uma mudança de cultura. “A gente tem a falsa ideia de que velocidade soluciona congestionamento, quando não é verdade. É possível começar redesenhando nossas vias para que elas comportem todos de forma mais segura”, pontua.

A sugestão da especialista é usar tinta e balizadores no redesenho, em um primeiro momento. Ela explica que, dessa forma, não é preciso um grande investimento e pode servir como uma espécie de teste de adaptação.

De acordo com os dados de acidentes de trânsito da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), 80,1% das batidas de Minas foram em vias urbanas, e 26,5% do total ocorreu em Belo Horizonte. No Estado, uma pessoa morre no trânsito a cada três horas e 58 minutos. 

Resposta

BHTrans. Procurada, a Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) não concedeu entrevista sobre o projeto e não enviou posicionamento sobre o assunto.

Projeto-piloto

Estímulo ao compartilhamento

O projeto inicial da Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) era de implantar, até o fim do ano passado, as Zonas 30 em vias onde a velocidade de circulação normalmente já é baixa. O objetivo era estimular o compartilhamento dos espaços entre carros, bicicletas e pedestres.

O projeto-piloto contempla as vias dentro do perímetro das avenidas Afonso Pena, Getúlio Vargas, Cristóvão Colombo e Brasil, todas na região Centro-Sul de BH.

Aprovação. Em São Paulo, já são 12 áreas com velocidades até 40 km/h e uma com 30 km/h. Além disso, as vias expressas e as marginais Tietê e Pinheiros também passaram por uma redução no limite.

Uma pesquisa do Ibope, divulgada no mês passado, apontou que 51% dos paulistanos entrevistados aprovam a redução de velocidade nas vias da cidade e a instalação de ciclovias e ciclofaixas por São Paulo. (BF)