Tecnologia

Anatel aprova edital do 5G, mas rede ainda demora para chegar

Internet de última geração deve ser implementada no país gradativamente, afirma especialista

Por Lucas Negrisoli
Publicado em 08 de fevereiro de 2020 | 03:00
 
 
Rede de dados 5G vai ocupar, no Brasil, a faixa de frequências que anteriormente era utilizada pela TV analógica Foto: FABRICE COFFRINI / AFP

Após meses de discussão e duas tentativas que não foram para frente, o Conselho Diretor da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) aprovou anteontem a proposta de edital de licitação das faixas de frequência que serão usadas na rede 5G no Brasil.

É o primeiro passo para que a tecnologia chegue de fato ao país, mas ainda há várias etapas que precisam ser cumpridas. Agora, o texto fica disponível para consulta pública até abril.

Depois disso, o edital será publicado e, então, efetivamente realizados os leilões entre as teles. A licitação ocorrerá para definir quais frequências vão ser utilizadas por cada operadora.

A expectativa do governo é de que esse processo ocorra até o final de 2020. Valores ainda não foram definidos, mas há expectativa de que quatro blocos de frequências sejam licitados durante o ano.

O secretário de telecomunicações do Ministério da Ciência, Vitor Elísio, acredita que, durante a consulta pública, não haverá muitas modificações no edital. “O texto apresentado está muito bem estruturado. Evidenciamos nossas preocupações, e elas foram ouvidas”, afirma Elísio.

Antes da publicação do edital, também é esperada a escolha do modelo de infraestrutura. Atualmente, há uma disputa entre o modelo norte-americano, que parte do pressuposto que dispositivos podem ser usados para vigilância e bane alguns países, como a China, e o europeu, que aceita operadoras de várias nacionalidades. 

Nos bastidores, o corpo técnico do governo federal preza mais pela implementação de tecnologia chinesa no Brasil, devido à maior facilidade de aplicação e preços menores. Contudo, disputas ideológicas e a aproximação com o mercado norte-americano pesarão na escolha.

Infraestrutura

Uma vez colocadas as condições, abrem-se todas as possibilidades para o 5G, explica Renato Franzin, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP). A tecnologia, assim como ocorreu com o 4G, deve ser implementada no Brasil gradativamente.

Para ele, não há nenhuma descoberta a ser feita em questões técnicas, mas o momento é de escolha estratégica de aplicação da infraestrutura de antenas.

“Mesmo hoje, em São Paulo, ando 50 quilômetros e não consigo sinal de 4G. Com o 5G, deve acontecer a mesma coisa. É lógico que, no começo, vão ter lugares beneficiados. Em um primeiro momento, o maior benefício será para o usuário de smartphones, que terá maior velocidade”, pontua Franzin. 

A inclusão das novas faixas de frequências, que eram utilizadas anteriormente pela TV analógica, fará com que o Brasil tenha um dos maiores leilões de espectro do mundo.

Segundo a Anatel, detalhes sobre a implementação do 5G ainda serão definidos a partir de testes de campo que devem ser realizados antes dos leilões.

Projeto de lei quer mais antenas em BH

Projeto de lei na Câmara Municipal prevê flexibilização na infraestrutura de antenas em Belo Horizonte. O texto está pronto para ir a plenário, e os autores da proposta acreditam que a aprovação da matéria é essencial para viabilizar a tecnologia 5G na capital.

Para o vereador Mateus Simões (Novo), a lei atual impede a implementação. “Não pode ter antena perto de escola, por exemplo. Com isso, não há como ter 5G. Hoje, o cerne do problema é distância e áreas de exclusão. A nova tecnologia demanda volume maior de antenas”, diz ele.