O dólar caiu 0,90% nesta segunda-feira (30) e encerrou o dia cotado a R$ 5,433, renovando o menor patamar de fechamento desde 19 de setembro. Desde o início do ano, a moeda norte-americana acumula uma queda de 12,07%, e no mês, um recuo de 5,01%.

A queda da divisa dos EUA seguiu na esteira da desvalorização do dólar no exterior, tendo como pano de fundo o apetite por risco, com os investidores mais otimistas em relação aos acordos comerciais firmados pelos EUA sobre as tarifas. Ao fim do pregão, o índice DXY, que mede a força do dólar frente a uma cesta com outras seis moedas, se desvalorizava 0,48%, a 96,93.

No cenário doméstico, o mercado também avaliou a queda nas projeções de inflação, o desempenho da dívida pública do Brasil em maio e dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), além do impasse sobre o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).

Já a Bolsa fechou com uma valorização de 1,45%, a 138.854 pontos, registrando o quarto mês seguido com sinal positivo -apenas em fevereiro teve desempenho negativo. No primeiro semestre do ano, acumula um avanço de 15,44%, e no mês, um ganho de 1,33%.

A alta da Bolsa seguiu em linha com o avanço das Bolsas americanas, que atingiram novos recordes de fechamento nesta segunda-feira, encerrando o melhor trimestre em mais de um ano. Na sexta-feira (27), o dólar fechou com queda de 0,26%, cotado a R$ 5,483, e a Bolsa brasileira recuou 0,18%, a 136.865 pontos.

A sessão desta segunda-feira marcou o encerramento do primeiro semestre de 2025. O mercado de câmbio brasileiro foi influenciado desde o início do dia pela disputa pela formação da Ptax de fim de mês e trimestre.

A Ptax é uma taxa de câmbio calculada pelo BC (Banco Central) que serve de referência para a liquidação de contratos futuros.

No fim de cada mês, agentes financeiros tentam direcioná-la a níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas (no sentido de alta das cotações) ou vendidas em dólar (no sentido de baixa).

A disputa é especialmente intensa nos finais de trimestre -como visto nesta segunda-feira- porque a taxa também serve de referência para conversão de valores em moeda estrangeira nos balanços e demonstrações financeiras de muitas empresas no Brasil.

"Esse mês, em particular, a Ptax foi um pouco mais importante, porque é final de semestre, quando empresas e instituições programam algumas movimentações de câmbio", disse Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.

Pela manhã, quando as negociações no exterior estavam mais estáveis e antes das janelas de negociação da Ptax, o dólar chegou a acumular ganhos no Brasil, avançando 0,40%, a R$ 5,505, na máxima do dia, às 9h37.

Já perto da última janela de coleta da Ptax, que acontece às 13h, o dólar registrou a mínima cotação de R$ 5,424, às 12h54, um recuo de 1,07%, seguindo no território negativo até o fechamento.
"Hoje tivemos muita volatilidade e muitas distorções de preço em razão do fechamento de semestre", disse Alison Correia, analista de investimentos e co-fundador da Dom Investimentos.

Os movimentos do real nesta sessão também tinham como pano de fundo o apetite por risco no exterior, o que derrubou a moeda norte-americana frente a uma série de moedas, uma vez que os mercados reagiram positivamente a novidades nas disputas comerciais entre os EUA e outros países.

Na véspera, o Canadá revogou seu imposto sobre serviços digitais voltado para empresas de tecnologia norte-americanas, poucas horas antes de entrar em vigor, em uma tentativa de avançar nas negociações com os EUA. Em resposta, a Casa Branca afirmou que as discussões reiniciarão imediatamente.

Em outro sinal positivo, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, indicou que haverá uma série de acordos comerciais na semana final antes do prazo de 9 de julho para o fim da trégua tarifária, mas alertou que os países ainda poderão enfrentar tarifas muito mais altas depois desta data.

"Temos países que estão negociando de boa-fé, mas eles devem estar cientes de que, se não conseguirmos chegar a um acordo porque eles estão sendo recalcitrantes, poderemos voltar aos níveis de 2 de abril. Espero que isso não aconteça", disse.
A Casa Branca informou que Trump planeja se reunir com sua equipe comercial nesta semana para definir as tarifas para cada país caso eles não negociem com os EUA.

Na frente de dados, o destaque da semana será a publicação, na quinta-feira (3), do relatório de emprego de junho nos EUA, com os agentes em busca de sinais de enfraquecimento no mercado de trabalho que possam impulsionar as chances de cortes na taxa de juros pelo Fed (Federal Reserve, o banco central americano).

Nos últimos dias, operadores têm elevado as apostas em reduções de juros pelo Fed na esteira de dados moderados de inflação e da maior pressão de Trump sobre a instituição para que retome o afrouxamento da política monetária.

Um dado fraco para a criação de empregos em junho pode gerar ainda mais expectativa por cortes de juros, o que favorece o real e outros pares do dólar. No momento, operadores projetam um corte de juros em setembro.

"Há uma melhora no apetite por risco, impulsionada por dados globais de inflação, que, embora mistos, apresentam sinais positivos, e pelo arrefecimento dos conflitos no Oriente Médio", disse Nicolas Gomes, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.

Na cena doméstica, os agentes do mercado financeiro seguiram atentos ao impasse sobre o aumento do IOF. Na semana passada, o Congresso derrubou os decretos que elevariam as alíquotas do imposto.

Em entrevista na sexta ao novo videocast semanal da Folha de S.Paulo, o C-Level Entrevista, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve ingressar com ação no STF (Supremo Tribunal Federal) contra a decisão se tiver o aval da AGU (Advocacia-Geral da União).

O revés no Congresso representa uma mais uma derrota para o governo. Haddad disse que acreditava ter chegado "num baita de um acordo" para calibrar as alíquotas do imposto quando se reuniu com os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), na noite do dia 8.

"Saí de lá imaginando que estava tudo bem. Não só eu, todo mundo. Eu não sei o que mudou. Eu não consigo... O que mudou daquele domingo para cá?", declarou à Folha de S.Paulo, quase 20 dias depois da reunião.

O plano de judicializar a decisão se ampara no argumento de que o governo pretende cobrar dos ricos em favor dos pobres. Ao travar esse embate, o Executivo pode acirrar a disputa com parlamentares de centro e de direita, em um contexto já adverso às pautas da gestão petista.

Em evento de lançamento do Plano Safra para a agricultura familiar nesta segunda, Haddad fez críticas ao governo do ex-presidente Jair Bolsonaro e afirmou que o governo trabalha para fechar brechas na legislação que fazem com que os mais ricos não paguem impostos.

Ele disse que o governo continuará buscando implementar ações que promovam justiça social.

"Nós vamos continuar fazendo justiça social, pode gritar, pode falar. Vai chegar um momento de debater, mas nós temos que fazer justiça no Brasil, nós não podemos nos intimidar", disse.

Na frente dos dados domésticos, o mercado reagiu à redução das expectativas para a inflação neste ano por economistas ouvidos pelo BC. É a quinta semana seguida que há diminuição da previsão.

O levantamento, que capta a percepção do mercado para indicadores econômicos, mostrou que a expectativa para a inflação, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), é de 5,2% ao fim deste ano, abaixo da previsão de 5,24% na pesquisa anterior. Para 2026, a projeção para a alta dos preços no país foi mantida em 4,50%.

O centro da meta perseguida pelo BC é de 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
Os analistas mantiveram os índices do PIB (Produto Interno Bruto) e da taxa básica de juros, a Selic, para o final de ano, e diminuíram do dólar.

Além disso, os agentes do mercado avaliaram dados divulgados pelo BC mostrando que a dívida pública bruta do Brasil subiu menos do que o esperado em maio.

A dívida bruta fechou o mês passado em 76,1%, contra 76,0% em abril. As expectativas em pesquisa da Reuters eram de 76,6% para a dívida bruta.

A dívida bruta é um dos principais indicadores econômicos observados pelos investidores na hora de avaliar a saúde das contas públicas do país.

Ainda na frente dos dados, o Ministério do Trabalho e Emprego divulgou que o Brasil gerou 148,99 mil vagas em maio, segundo dados do Caged.

O saldo entre contratações e demissões no quinto mês do ano ficou abaixo da mediana prevista por analistas ouvidos pela Bloomberg, que esperavam a abertura de 176 mil postos de trabalho com carteira assinada.