Os caminhoneiros autônomos estão insatisfeitos, tanto quanto ou mais que no ano passado, quando deflagraram a greve que parou o país em maio. Mas isso não significa que eles vão parar nesta sexta-feira, dia 29, como sugerem rumores divulgados principalmente pelo WhatsApp.

“A insatisfação é muito grande. O valor do frete está caindo, o diesel e os pedágios estão caros. A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) não consegue fiscalizar a tabela do frete”, afirma o presidente do Sindicato Interestadual de Caminhoneiros, José Natan Neto. 

A entidade participou da greve de maio de 2018. Mas, para José Natan, não há consenso sobre uma paralisação. “O pessoal gosta do (Jair) Bolsonaro (presidente da República) e está esperando para ver se virão medidas para melhorar”, diz.

O caminhoneiro Sidnei Nascimento, de Igarapé, na região metropolitana de Belo Horizonte, concorda. “Está todo mundo desanimado. Existe um movimento, ainda pequeno, nos grupos de WhatsApp. Mas onde há fumaça, há fogo”, afirma. Para ele, “o governo Bolsonaro ouve mais a categoria dos caminhoneiros”, o que pode ajudar a evitar uma greve. 

Segundo a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), deve ocorrer neste sábado “uma carreata com o intuito de chamar a atenção do governo para insatisfações da categoria, como o não cumprimento da Lei do Piso Mínimo do Frete e o aumento do valor do diesel”. Mas a entidade esclarece que, pelo seu monitoramento, “o movimento não tem finalidade grevista”.

Reajuste do diesel

Em resposta às articulações dos caminhoneiros, que têm sido monitoradas pelo governo por meio do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), a Petrobras anunciou, ontem, uma mudança na periodicidade do reajuste nos preços do diesel. Agora, o valor nas refinarias, que corresponde a cerca de 54% do preço ao consumidor final, será alterado, no mínimo, a cada 15 dias. Até ontem, essa mudança podia ser até diária.

Um dos líderes da greve do ano passado, Wallace Costa da Silva, o Chorão, disse que a mudança na política de preços é um sinal de que o governo está se mobilizando, mas não resolve todos os problemas. Para ele, a principal preocupação é com o descumprimento da tabela do frete, conquista do movimento de 2018.

“Queremos uma medida rápida para aumentar a fiscalização. Com relação ao diesel, tem que arrumar um mecanismo para segurar aumentos”, destaca. Ele reconhece que a categoria está insatisfeita, mas diz ser contra paralisação neste momento.

Mudança no reajuste

A definição de um prazo de 15 dias de intervalo entre cada reajuste do diesel pela Petrobras é “um primeiro passo” para atender uma antiga reivindicação das empresas de transporte, segundo o presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de Minas Gerais (Setcemg), Gladstone Lobato.

“Desde 2017 pedimos à Petrobras a definição de um prazo para determinar nossos preços, e nunca fomos atendidos. O ideal seria 90 dias, mas pelo menos agora sabemos que vai subir a cada 15 dias”, diz Lobato.

Para ele, a decisão mostra abertura do governo Bolsonaro. “Antes éramos reféns do reajuste diário. Agora uma porta se abriu. Vamos negociar, buscar o reajuste mensal e, depois, de 45 dias”, diz.

Já o presidente da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), Diumar Bueno, considera a medida “nada confortável”. “Agrava ainda mais o momento difícil dos caminhoneiros”, afirma. Para ele, as medidas adequadas seriam o reajuste mensal e uma resposta do governo sobre a fiscalização do pagamento do piso mínimo do frete. “Para o autônomo, esse prazo de 15 dias não faz diferença. Pode fazer para as empresas”, opina o presidente do Sindicato Interestadual de Caminhoneiros, José Natan Neto.

Cartão

A Petrobras divulgou ontem que está elaborando um “cartão-caminhoneiro”, para reduzir a volatilidade dos preços dos combustíveis, destinado a autônomos e proprietários de frotas de caminhões. Para Diumar Bueno, “trata-se de outra medida ilusória, porque não garante nenhum valor menor”. 

(Com agências)