Solidariedade

Companhias aéreas transportaram voluntários gratuitamente para Brumadinho

Empresa trouxe grupo de terapeutas de São Paulo para ajudar famílias de vítimas

Dom, 18/08/19 - 03h00
Voluntárias do grupo Afinando Vidas passaram três dias fazendo atendimentos na cidade | Foto: Afinando Vidas/divulgação

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Quem viu as imagens dos resgates em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, após o rompimento da barragem de rejeitos da Vale em janeiro, deve se lembrar das aeronaves das polícias militar e civil, além dos helicópteros dos bombeiros, trabalhando nas buscas. Só nos 12 primeiros dias de atuação, a Força Aérea Brasileira (FAB) contabilizou mais de 4.200 movimentos aéreos no município. Nos bastidores, as companhias de aviação comercial também colaboraram. Sem cobrar nada, carregaram suprimentos, especialistas e voluntários para levar vida onde ainda ecoavam os choros pelo desastre, que deixou 248 mortes confirmadas e 22 pessoas desaparecidas.

Dois dias depois da tragédia, a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros receberam um apoio de peso. Com passagens doadas, 21 voluntários do Grupo Suçuarana, treinados para fazer resgate em matas fechadas, acompanhados de dois cães farejadores, ajudaram na busca dos corpos e na distribuição de suprimentos para a população. Eles saíram de São Paulo e do Amazonas e ficaram em Brumadinho durante um mês.

“Logo que ficamos sabendo do rompimento da barragem, decidimos que queríamos ajudar. Mas como eram muitas pessoas e havia um aparato grande para carregar, não tínhamos condições de bancar a nossa ida a Minas com recursos próprios. A parceria com a Latam foi fundamental para isso”, conta o coordenador da ação em Minas, o despachante aduaneiro Cezar de Morais Marinho, 56.

A lama que destruiu uma parte da pequena Brumadinho também marcou a história de quatro voluntárias do grupo Afinando Vidas, de São Paulo. Especialistas em terapia de grupo, elas fecharam parceria com companhias aéreas e doaram o que melhor sabem fazer: tratamento da alma. A partir da escuta ativa e da busca de soluções conjuntas, elas levaram alívio para moradores da cidade e pessoas que estavam trabalhando naquele cenário catastrófico.

“Nós ouvimos cerca de 70 pessoas em três dias e conseguimos fazer com que colocassem para fora suas angústias. Uma delas tinha perdido o pai e a irmã e teve que ficar forte cuidando dos filhos e dos sobrinhos. Ela chorou muito e contou que aquela era a primeira vez que tinha se permitido isso. É muito forte”, conta uma das voluntárias, a terapeuta Jurema Valkiria Otaviano. Segundo ela, a doação das passagens foi essencial: “Se tivéssemos ido de carro, estaríamos mais cansadas, ficaríamos menos tempo e atenderíamos menos pessoas”, conta.

Além da Latam, Gol e Azul também colaboraram com transporte gratuito de doações de água, equipamentos e voluntários que ajudaram em Brumadinho.

Israel. Uma aeronave Boeing 777 da companhia aérea israelense El Al trouxe 132 militares para ajudar nos resgates das vítimas em Brumadinho, poucos dias após a tragédia.

Operação para levar sorrisos

A cada 650 nascidos no Brasil, um tem lábio leporino e fenda palatina, que são malformações congênitas na boca. Mas nem todos têm acesso à cirurgia de correção. Para salvar vidas e resgatar autoestimas, profissionais voluntários da Operação Sorriso, com sede em São Paulo, viajam para as mais remotas áreas do Brasil, realizando, de graça, os procedimentos reparatórios. Desde 1997, quando o projeto chegou ao país, 5.500 pessoas foram beneficiadas. A Azul Linhas Aéreas é quem faz o transporte gratuito das equipes e do aparato médico necessário, que chega a pesar até uma tonelada.

Segundo o diretor executivo do projeto, Charles Rosenburst, sem essa cota de passagens, o número de missões seria menor. “Em cada missão, levamos 60 pessoas, entre cirurgiões, anestesistas, enfermeiros, pediatras, dentistas e psicólogos, que trabalham voluntariamente”, diz.

Esse é um dos seis projetos sociais que a Azul apoia. “Como não temos condições de aportar diretamente, decidimos doar passagens. Não é recurso financeiro, mas é extremamente valioso para fazer os projetos acontecerem”, destaca a gerente de Responsabilidade Social da Azul, Carolina Constantino. Dos 13 mil funcionários da companhia, 2.000 fazem parte de programas de voluntariado.

Gol trouxe cães dentro da cabine do avião

Assim que a barragem 1 da mina de Córrego do Feijão se rompeu em Brumadinho, os bombeiros de Minas Gerais sabiam que precisariam de apoio de fora. De avião, Zaara veio de Santa Catarina para ajudar. Junto com mais de 60 cães farejadores, a labradora teve um papel fundamental. “Cerca de 30% dos corpos foram encontrados pelos animais. Ainda temos 22 desaparecidos, mas, sem os cães, esse número seria muito maior”, conta o tenente Lucas Silva Costa, comandante das operações com cães do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais.

Zaara e outros cães que vieram de Estados como Paraná, Mato Grosso e Ceará viajaram dentro da cabine do avião, acompanhados dos oficiais responsáveis. “Primeiro, alguns vieram em viaturas, mas chegavam muito cansados. Outros vieram de avião, mas no bagageiro, e também se estressavam e não chegavam em condições ideais para o trabalho. Então, conseguimos apoio da Gol, que já transporta cães-guia dentro da cabine. O resultado foi um sucesso, os cães já chegavam prontos para as buscas”, explica.

Além de Zaara, a Gol transportou Sheron, Milica, Kiara e Mel (todos labradores), Luke (border collie) e Kendra (pastor belga). “Essa iniciativa foi realizada com muito orgulho e colaboração da companhia, pela necessidade da operação na região”, destacou a Gol.

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